Bom Gourmet
Produtores da Bahia que só faziam cacau, agora apostam nos chocolates finos
ILHÉUS – Quase 30 anos depois da devastação das plantações pela vassoura-de-bruxa, os produtores de cacau da região de Ilhéus, no Sul da Bahia, se reinventaram para conquistar o mercado nacional.
Após as pioneiras Amma e Mendoá abrirem caminho, dezenas de novas pequenas marcas de chocolate de origem pipocaram na Bahia nos últimos anos. Hoje são 70 nomes produzindo chocolate feito com cacau fino na região.
![Praga da vassoura-de-bruxa obrigou os produtores a se reinventarem apostando no chocolate fino. Foto: Ana Lee/Divulgação.](https://resize.casapino.com.br/?u=https://cms-bomgourmet.s3.amazonaws.com/bomgourmet/2018/07/201807/produtores-chocolate-bahia-d3713240.jpg&w=661)
Durante o Festival Internacional do Chocolate e Cacau 2018, que vai até sábado (22), em Ilhéus, 40 delas estavam presentes. Um recorde para o evento que é o maior do segmento no Brasil.
A maioria tem poucos anos, ou até meses de existência. Algumas já foram premiadas em concursos no exterior. Como a Baianí, marca criada pelo casal Tuta e Juliana Aquino neste ano, que ganhou medalha de prata no Academy of Chocolate, que aconteceu em Londres, em maio.
![Foto: Ana Lee/Divulgação.](https://resize.casapino.com.br/?u=https://cms-bomgourmet.s3.amazonaws.com/bomgourmet/2018/07/201807/chocolate-baiani-bahia-d3713240.jpg&w=661)
“Depois da vassoura, nossa fazenda ficou abandonada por 15 anos. Quando decidimos retornar, já voltamos com a ideia de agregar valor ao nosso cacau. São 400 hectares de fazenda, com 60 hectares de cacau. O chocolate levou um ano e meio de pesquisa e só tem seis meses de lançamento”, conta Juliana. O Baianí premiado é feito com um blend de Trinitários, com 70% de cacau.
A Baianí, assim como muitas outras marcas como a Modaka, Coroa Azul, Amado Cacau, Var e Mestiço seguem a máxima do tree-to-bar. Ou seja, produzem o chocolate da árvore até a barra.
![Foto: Ana Lee/Divulgação.](https://resize.casapino.com.br/?u=https://cms-bomgourmet.s3.amazonaws.com/bomgourmet/2018/07/201807/chocolate-modaka-bahia-d3713240.jpg&w=661)
O conceito significa plantar o cacau, colher, fermentar com cuidado e produzir o chocolate dentro das próprias fazendas. É cuidar de todo o processo envolvido na cadeia de produção do doce.
Juntos, 17 fazendeiros produtores de cacau do Sul da Bahia formaram uma associação. A maioria é neto ou bisneto de coronéis do cacau, que havia abandonado as plantações por causa da praga da vassoura-de-bruxa.
As histórias são semelhantes. A maioria decidiu produzir chocolate fino para agregar valor ao cacau, já que a venda por commodity não dava mais retorno do mesmo jeito de antes.
Patrícia Viana Lima, da Modaka, produz chocolate de origem orgânico. A certificação veio em 2012. Assim como outras da nova geração, a fábrica da Modaka é pequena. “Processamos 300 quilos de cacau por mês”, diz.
A Var foi uma das primeiras marcas da região a plantar diferentes qualidades de cacau isoladas em blocos para evitar a contaminação cruzada na fazenda Lajedo do Ouro, no município de Ibirataia. Com isso, produz um chocolate varietal. São cinco concentrações e três variedades.
“Ninguém escolhe vinho pelo nível alcoólico e sim pelas uvas. É o mesmo princípio que queremos implantar no chocolate”, explica Pedro Caetano Magalhães, proprietário da Var.
![Do cacau commodity ao chocolate fino, produtores do sul da Bahia tiveram que se reinventar:Foto: Ana Lee/Divulgação.](https://resize.casapino.com.br/?u=https://cms-bomgourmet.s3.amazonaws.com/bomgourmet/2018/07/201807/cacau-bahia-d3713240.jpg&w=661)
O Catombo tem uma amêndoa mais clara, por isso o chocolate tem um tom similar do ao leite. O sabor tem notas de amêndoas e frutas vermelhas. Já o Pará-Parazinho tem notas mais marcantes de chocolate, enquanto o Trinitário é mais adstringente.
A maioria das marcas vende seus chocolates no Rio e São Paulo em empórios e lojas especializadas. Poucas chegam no varejo. O Sul é coberto com uma ou outra que chega em algumas cidades, como a Coroa Azul que tem um ponto de venda em Florianópolis.
O projeto da associação agora é produzir cada vez mais cacau de qualidade para conquistar novos mercados, nacionais e internacionais.
*A jornalista viajou a convite da Chocolat Bahia
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