Anacreon de Téos
Panela do Anacreon
Lasanha parisiense, um prato saboroso e histórias interessantes
Acho que foi minha primeira
experiência com lasanha, não me lembro de ter comido antes. Era menino ainda,
morava em Ponta Grossa e quando vínhamos a Curitiba um dos pontos favoritos da
família (pais e avós) para comer era o Restaurante Zacarias, que ficava na
praça do mesmo nome. Era no andar de cima das Casas Pernambucanas e a gente
subia por uma escadinha. Restaurante grande, com os janelões dando para a rua
Dr. Muricy e para a própria praça.
experiência com lasanha, não me lembro de ter comido antes. Era menino ainda,
morava em Ponta Grossa e quando vínhamos a Curitiba um dos pontos favoritos da
família (pais e avós) para comer era o Restaurante Zacarias, que ficava na
praça do mesmo nome. Era no andar de cima das Casas Pernambucanas e a gente
subia por uma escadinha. Restaurante grande, com os janelões dando para a rua
Dr. Muricy e para a própria praça.
A Lasanha parisiense vinha fumegando, numa frigideirinha, era muito
bonita e gostosa. Molho branco, presunto, queijo e ervilhas, combinação que afaga
o paladar de qualquer adolescente, combinação que me conquistou.
bonita e gostosa. Molho branco, presunto, queijo e ervilhas, combinação que afaga
o paladar de qualquer adolescente, combinação que me conquistou.
Anos mais tarde, já morando
aqui cursando universidade, tive novo contato com a Lasanha parisiense. Ou
melhor, não tive, ela apenas entrou como tema principal de uma história entre
amigos. Vou explicar.
aqui cursando universidade, tive novo contato com a Lasanha parisiense. Ou
melhor, não tive, ela apenas entrou como tema principal de uma história entre
amigos. Vou explicar.
A turma da faculdade
Primeiro ano da faculdade (fiz
Administração, na UFPR), 1969, e a turma ainda se conhecendo. Formamos um
grupinho, que foi se aproximando ao natural. Seis, ao todo. Mauro Lafitte Moro,
Tercis Duarte Volaco, José Luiz Kloss, Raul Norton Hillbrecht e eu. Ah, sim, e
o Magreza, cujo nome prefiro não dar aqui, por razões que serão conhecidas a
seguir.
Administração, na UFPR), 1969, e a turma ainda se conhecendo. Formamos um
grupinho, que foi se aproximando ao natural. Seis, ao todo. Mauro Lafitte Moro,
Tercis Duarte Volaco, José Luiz Kloss, Raul Norton Hillbrecht e eu. Ah, sim, e
o Magreza, cujo nome prefiro não dar aqui, por razões que serão conhecidas a
seguir.
É que o Magreza era muito
metido, tudo ele sabia, tudo ela tinha feito antes, tudo já tinha provado, não
sobrava assunto nenhum que admitisse não conhecer ou não ter experimentado.
Show do Fulano, grande ídolo, que está por vir? “É bom, já assisti” – e dizia o
local. Livro tal, recém-lançado? “Já li, me mandaram semanas atrás” – não perdoava.
E a gente começou a perceber que era muita garganta, principalmente porque
algumas afirmações não batiam.
metido, tudo ele sabia, tudo ela tinha feito antes, tudo já tinha provado, não
sobrava assunto nenhum que admitisse não conhecer ou não ter experimentado.
Show do Fulano, grande ídolo, que está por vir? “É bom, já assisti” – e dizia o
local. Livro tal, recém-lançado? “Já li, me mandaram semanas atrás” – não perdoava.
E a gente começou a perceber que era muita garganta, principalmente porque
algumas afirmações não batiam.
Começamos a implicar com ele,
Norton, principalmente, alemãozinho daqueles brabos. Mas os demais também já
estavam na conta do chá. Ou da lasanha, no caso. Foi quando surgiu uma conversa
de Lasanha à parisiense e eu disse
que gostava muito. “Eu também. E tem uma muito boa ali naquele restaurante que
a gente costuma ir de vez em quando” – cravou.
Norton, principalmente, alemãozinho daqueles brabos. Mas os demais também já
estavam na conta do chá. Ou da lasanha, no caso. Foi quando surgiu uma conversa
de Lasanha à parisiense e eu disse
que gostava muito. “Eu também. E tem uma muito boa ali naquele restaurante que
a gente costuma ir de vez em quando” – cravou.
O tal restaurante ficava na
João Negrão, acho que ali onde hoje funciona o Detran, perto do Bar do Arthur. Ou
ao lado, naquela quadra. Pesquisei (inclusive com o Pedro Oliveira e o Carneiro
Neto, entendedores da vida gastronômica de Curitiba), pesquisei e não consegui
descobrir o nome. Também porque não era grande coisa, nada famoso. Era um
restaurante comum, não muito caro (ou nós, estudantes, não teríamos como lá
consumir), mas tinha comida boa.
João Negrão, acho que ali onde hoje funciona o Detran, perto do Bar do Arthur. Ou
ao lado, naquela quadra. Pesquisei (inclusive com o Pedro Oliveira e o Carneiro
Neto, entendedores da vida gastronômica de Curitiba), pesquisei e não consegui
descobrir o nome. Também porque não era grande coisa, nada famoso. Era um
restaurante comum, não muito caro (ou nós, estudantes, não teríamos como lá
consumir), mas tinha comida boa.
Calhou uma vez de irmos lá sem
o Magreza. Quando o cardápio chegou, o Norton de pronto já disse: “veja aí se
tem a tal Lasanha parisiense”. Não tinha. Não tinha? Chamamos o garçom.
o Magreza. Quando o cardápio chegou, o Norton de pronto já disse: “veja aí se
tem a tal Lasanha parisiense”. Não tinha. Não tinha? Chamamos o garçom.
- Não tem mais a lasanha
parisiense no menu?
parisiense no menu?
- Não tem... nunca tivemos.
- Nunca tiveram? Tem certeza?
- Sim, certeza. Estou aqui há
15 anos e sei todos os pratos que temos e os que já saíram.
15 anos e sei todos os pratos que temos e os que já saíram.
Momento de silêncio absoluto
em torno da mesa. Cinco mentes maquinando, cinco cabeças pensando.
em torno da mesa. Cinco mentes maquinando, cinco cabeças pensando.
- Pegamos o Magreza na mentira
– alguém comentou.
– alguém comentou.
Pedimos o que iríamos pedir, alguma
coisa pra beber e no dia seguinte, lá no saguão do prédio da faculdade (no
conjunto da reitoria), encontramos o Magreza.
coisa pra beber e no dia seguinte, lá no saguão do prédio da faculdade (no
conjunto da reitoria), encontramos o Magreza.
- Fomos ontem lá naquele
restaurante – disse alguém.
restaurante – disse alguém.
- E não tinha a Lasanha
parisiense – já emendou rapidamente o Norton.
parisiense – já emendou rapidamente o Norton.
- Mesmo? Será que saiu do
cardápio?
cardápio?
- NUNCA TEVE, o garçom
garantiu – o tom de voz já se elevou.
garantiu – o tom de voz já se elevou.
- Claro que teve. Ele não deve
se lembrar. Eu comi algumas vezes lá.
se lembrar. Eu comi algumas vezes lá.
- Mas o garçom tem 15 anos de
casa.
casa.
- Então devem ter coincidido
de eu ter ido em dias de folga dele.
de eu ter ido em dias de folga dele.
Pronto, acabou. Nos
entreolhamos e saímos de fininho, um para cada lado, atordoados por tudo
aquilo.
entreolhamos e saímos de fininho, um para cada lado, atordoados por tudo
aquilo.
E o Magreza, claro, nunca mais
participou do grupo, cada vez mais fechado.
participou do grupo, cada vez mais fechado.
Daqueles cinco rapazes unidos
(tanto que noivamos e casamos todos em datas próximas), infelizmente dois não
estão mais entre nós. Mauro, que era filho do Ulisses Moro, ex-presidente do
Coritiba, morreu precocemente, ainda nos anos 80. Norton, que tinha ido morar
em Joinville, faleceu há pouco, em janeiro de 2018. Tercis e Zé Kloss (aquela
voz famosa dos comerciais e agora também Papai Noel a cada dezembro) estão
firmes e foi muito bacana poder conversar novamente com ambos, recordando essa
história tão antiga (50 anos).
(tanto que noivamos e casamos todos em datas próximas), infelizmente dois não
estão mais entre nós. Mauro, que era filho do Ulisses Moro, ex-presidente do
Coritiba, morreu precocemente, ainda nos anos 80. Norton, que tinha ido morar
em Joinville, faleceu há pouco, em janeiro de 2018. Tercis e Zé Kloss (aquela
voz famosa dos comerciais e agora também Papai Noel a cada dezembro) estão
firmes e foi muito bacana poder conversar novamente com ambos, recordando essa
história tão antiga (50 anos).
Prato brasileiro
Assim como outros pratos
teoricamente internacionais, como o Bife
à parmegiana e o Molho bolonhesa,
também o molho parisiense ou molho à parisiense tem origem em cozinheiros
brasileiros.
teoricamente internacionais, como o Bife
à parmegiana e o Molho bolonhesa,
também o molho parisiense ou molho à parisiense tem origem em cozinheiros
brasileiros.
E a denominação se deve à
utilização de molho branco, o Molho Bechamel, que tem origem francesa. Para situar
o conceito do prato, na época – anos 50, por aí – a referência era o estilo da
comida. Aí, no caso, com a linha francesa bem definida. Na falta de nome, algum
cozinheiro respondeu: “é um molho à parisiense”. E pegou.
utilização de molho branco, o Molho Bechamel, que tem origem francesa. Para situar
o conceito do prato, na época – anos 50, por aí – a referência era o estilo da
comida. Aí, no caso, com a linha francesa bem definida. Na falta de nome, algum
cozinheiro respondeu: “é um molho à parisiense”. E pegou.
Os ingredientes básicos são o
molho branco, o queijo muçarela, o parmesão para gratinar e o presunto. Desde então
há quem também ponha um pouco de peito de frango desfiado, até alguns cogumelos
paris.
molho branco, o queijo muçarela, o parmesão para gratinar e o presunto. Desde então
há quem também ponha um pouco de peito de frango desfiado, até alguns cogumelos
paris.
Vou apresentar aqui a receita
básica, que é a que gosto, só com os ingredientes originais. De preferência
faça o próprio molho branco, evite comprar pronto, por vir com conservantes e
outros “antes”. É fácil de fazer e não se espante com a recomendação de
utilizar leite frio em vez de morno, como a maioria das receitas sugere. É assim
mesmo, fica perfeito.
básica, que é a que gosto, só com os ingredientes originais. De preferência
faça o próprio molho branco, evite comprar pronto, por vir com conservantes e
outros “antes”. É fácil de fazer e não se espante com a recomendação de
utilizar leite frio em vez de morno, como a maioria das receitas sugere. É assim
mesmo, fica perfeito.
Vamos à receita, então? É
porção para duas pessoas. A partir de um número maior de comensais é só ir
multiplicando cada item na proporção.
porção para duas pessoas. A partir de um número maior de comensais é só ir
multiplicando cada item na proporção.
Bom apetite!
Lasanha parisiense à Anacreon
Ingredientes
250g de massa pré-cozida de
lasanha
lasanha
50g de ervilha fresca ou
congelada
congelada
150g de presunto cortado em
tiras
tiras
150g de muçarela
¼ de cebola ralada
2 colheres (sopa) de azeite
3 colheres (sopa) de manteiga
3 colheres (sopa) de farinha
de trigo
de trigo
1 ½ xícara de leite integral
frio
frio
1 pitada de sal,
pimenta-do-reino moída na hora
pimenta-do-reino moída na hora
½ colher (chá) de noz-moscada
ralada
ralada
queijo parmesão para polvilhar
Preparo
Prepare o molho branco, derretendo
a manteiga em 1 panela pequena. Assim que derreter, junte a farinha e misture
bem, mantendo no fogo baixo, mexendo sempre até dourar levemente. Despeje o
leite frio de uma só vez e mexa vigorosamente com um fouet, para evitar
possíveis grumos. Continue mexendo até o molho engrossar. Desligue o fogo e
tempere com sal, pimenta-do-reino e noz-moscada. Reserve.
a manteiga em 1 panela pequena. Assim que derreter, junte a farinha e misture
bem, mantendo no fogo baixo, mexendo sempre até dourar levemente. Despeje o
leite frio de uma só vez e mexa vigorosamente com um fouet, para evitar
possíveis grumos. Continue mexendo até o molho engrossar. Desligue o fogo e
tempere com sal, pimenta-do-reino e noz-moscada. Reserve.
Em outra panela aqueça o
azeite e refogue a cebola até murchar. Adicione o presunto e as ervilhas e
misture bem.
azeite e refogue a cebola até murchar. Adicione o presunto e as ervilhas e
misture bem.
Junte quase todo o molho
bechamel, deixando um pouco para forrar o fundo do refratário.
bechamel, deixando um pouco para forrar o fundo do refratário.
Comece, então, a montagem da
lasanha, forrando o fundo de um refratário pequeno com o molho branco
reservado.
lasanha, forrando o fundo de um refratário pequeno com o molho branco
reservado.
Em seguida faça uma camada de
massa, outra de muçarela e repita a ação por três vezes ou até completar o
espaço do refratário.
massa, outra de muçarela e repita a ação por três vezes ou até completar o
espaço do refratário.
Polvilhe por cima o queijo
parmesão ralado e leve para assar (em forno preaquecido a 180ºC) por 30 minutos
ou até borbulhar e dourar.
parmesão ralado e leve para assar (em forno preaquecido a 180ºC) por 30 minutos
ou até borbulhar e dourar.
Rendimento: 2 porções.
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