Filmes sobre gastronomia existem aos montes. O cinema sempre teve conexão forte com comida. Do ato saboroso e irresistível de entrar em uma sala de cinema com um saco de pipoca a longas-metragens que têm a comida como coadjuvante ou protagonista, é quase impossível dissociar uma coisa da outra.

Com o tempo, séries e programas de TV, como os realities, trataram também de incluir a gastronomia em enredos e fazê-la, muitas vezes, de personagem das histórias contadas nas telas da TV e do cinema. Seja ao retratar o rigor da crítica gastronômica, as complexidades da profissão de chef ou a relação afetiva das pessoas com os sabores, a culinária no audiovisual oferece um olhar fascinante sobre cultura, memória e transformação.

Professor de Gastronomia da PUCPR, Ricardo de Amorim Cini, que também trabalhou em em restaurantes e eventos com chefs de Curitiba, selecionou três títulos que para quem curte cinema e o universo gastronômico.

Lançada em 2023 na plataforma Star+, a série mistura comédia e drama ao contar a história de Manuel (Brandoni), um renomado crítico gastronômico de Buenos Aires que, após a morte de sua governanta, precisa lidar com a vida cotidiana e a própria alimentação de uma forma inédita para ele. Em meio ao caos, ele contrata uma nova ajudante, uma jovem inexperiente, dando início a uma relação marcada por contrastes culturais e aprendizados. “A série nos mostra como a gastronomia não é apenas um ato de nutrição, mas também de memória e cultura”, analisa Cini.

Outro ponto interessante é a presença de Robert De Niro no papel de Vincent, um escritor e amigo de longa data de Manuel. “Vincent traz um olhar externo sobre a sofisticação gastronômica portenha e adiciona um charme especial à produção”, afirma. Mais: a série é repleta de referências à culinária argentina, aos rituais à mesa e à sofisticação dos críticos gastronômicos, tornando-se um prato cheio para quem gosta de refletir sobre o impacto da comida em nossas vidas.

Se Nada retrata a crítica gastronômica sob um olhar sofisticado e reflexivo, o filme Bitter Feast (2010), dirigido por Joe Maggio, mostra um lado muito mais sombrio dessa relação. O longa acompanha Peter Grey, um chef de cozinha frustrado, que sequestra um influente crítico gastronômico depois que uma resenha negativa arruína sua carreira. "Esse filme nos faz refletir sobre os limites da crítica e o peso que ela pode ter na vida dos profissionais da cozinha", sugere o professor.

Outro filme importante para entender a crítica gastronômica de forma diferente é Ratatouille (2007), animação da Pixar dirigida por Brad Bird e Jan Pinkava. A história acompanha Remy, um rato com um paladar refinado e o sonho de se tornar chef, e seu improvável caminho até a alta gastronomia parisiense. Um dos momentos mais marcantes do filme é a interação entre Remy e Anton Ego, um temido crítico gastronômico.

Diferente de Bitter Feast, que explora o lado negativo da crítica, Ratatouille humaniza esse papel. "A cena em que Anton Ego prova o prato homônimo ao título do filme é um dos momentos mais icônicos da crítica gastronômica no cinema. Ela nos lembra que, no fundo, a boa gastronomia está ligada à memória afetiva e ao prazer sensorial, e não apenas a técnicas refinadas", complementa Cini.