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Chefs e pesquisadores se unem em projeto para resgatar alimentos da caatinga
Bioma menos pesquisado no país, a caatinga uniu um grupo de pesquisadores e chefs para desenvolver e incentivar o uso de plantas e ingredientes da região entre os brasileiros. O grupo vem de diversos estados: Abdon Neto, biólogo baiano, Fabiana Mortimer, professora de gastronomia de Santa Catarina, Matheus de Jesus Gomes, chef em São Paulo, e Pedro Soares, chef catarinense, que participa em Östersund, na Suécia, do projeto Chefs do Mundo, do restaurante Heim Food Studio.
Fabiana e Abdon se encontraram neste ano em Maceió, quando ela foi conhecer a Gastrotinga – Cozinha que Transforma, criada há cinco anos pelo chef Timóteo Domingues, para transformar as plantas símbolos da caatinga, em pratos diferentes e de sabor.
Uma das bandeiras da Gastrocatinga é que a palma, espécie de cacto abundante na região Nordeste, tem amplo potencial gastronômico e serve de base para diversas receitas salgadas e doces, como um bom brigadeiro.
Durante a conversa surgiu a vontade de unirem forças na comprovação de outras potencialidades do bioma. Abdon, filho de sertanejos pernambucanos, está percorrendo todo o Canindé do São Francisco, em Sergipe, para coletar sementes e catalogar espécies com sua empresa de consultoria ambiental.
Tudo o que é comestível, ele envia pelos correios para Fabiana, que testa com seus alunos no Instituto Federal de Santa Catarina, no NEG (Núcleo de Estudos em Gastronomia), que ela coordena há quatro anos.
Em Santa Catarina, estão sendo feitos testes com o juazeiro, única árvore da caatinga que não perde suas folhas; o mandacaru, cacto brasileiro com a flor semelhante à pitaya; a amburana e o pixuri, utilizados como especiarias; e também o licuri.
“Um grande problema é que o Brasil não consegue trabalhar comercialmente o potencial de sua biodiversidade e o que vemos são ricos biomas devastados pela falta de conhecimento. Importamos centenas de alimentos por não conhecermos a nossa flora. Nosso objetivo é colaborar com a mudança, pois formamos alunos de todas as partes do país”, disse Fabiana.
Pão com licuri
Matheus de Jesus Gomes, chef formado no IFSC, se prepara para abrir uma padaria de fermentação natural em São Paulo e um dos pães do cardápio terá como base o resíduo do processamento do licuri. “O licuri é um coquinho, minha mãe que é baiana me mandou o produto. Mas o frete é caro. Esses alimentos precisam se tornar conhecidos para aumentar a circulação”, disse.
Enquanto isso, bem longe daqui, o chef Pedro Soares está servindo sorvete de picuxi, na Suécia, onde vive. Ele também levou na bagagem pinhão, polvilho, mel de bracatinga e jabuticaba — servidos em um cardápio para a Rainha Silvia, de quem arrancou suspiros.
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