Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Malbec argentino em prova de fogo
Row of vintage wine bottles in a wine cellar (shallow DOF; color toned image) Bigstock
Vinhos argentinos evoluem bem no tempo ou não? Com base científica, pesquisa inédita sobre o potencial de evolução dos grandes vinhos argentinos está sendo promovida pelo Catena Institute of Wine em conjunto com a UC Davis, da Califórnia. Uma das bases principais é a prova de brancos e tintos de diversas idades por painéis de provadores selecionados em diversos países do mundo. A etapa argentina foi a primeira. No Brasil, os degustadores escolhidos reuniram-se no dia 12 de novembro, em São Paulo, para testar às cegas os vinhos e registrar suas impressões em fichas de provas.
De minha parte, confesso que todas as amostras estavam admiráveis, realmente vinhos superiores. Desde o surpreendente Catena Cabernet Sauvignon 1990 até o recente Catena Zapata Malbec Argentino 2022. Um intervalo de 32 anos, que diz muito, todos os vinhos muito bem sucedidos . Inclusive os brancos; o mais antigo, de 1999 e o mais recente, de 2021.
Cada degustador provou individualmente 14 amostras numeradas, sem saber que vinhos eram. Todas iguais para todos os provadores. Isolado num quarto do hotel, para evitar influências externas, cada um dispunha de 40 minutos para provar e registrar suas impressões. Ao final todas as fichas serão tabuladas e analisadas pelos pesquisadores, juntamente com as dos demais painéis pelo mundo afora. Os resultados serão divulgados uma vez completada a pesquisa.
Eram 10 tintos, não apenas puros Malbecs. Também um Cabernet Sauvignon e três de cortes diversos com Malbec, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Já os 4 brancos, todos Chardonnay.
A julgar pelas amostras a resposta é sim, os vinhos envelhecem bem. Evoluem num estilo próprio, com a dimensão do tempo sublinhando a marca do terroir de altitude mendocino. Ficam diferentes. O tom mais explosivo e exuberante da juventude dá lugar a uma fruta bem evoluída, mais vermelha, quase confeitada. O tempo amacia os taninos, arredondando e suavizando o vinho. Novas nuances aparecem. Os tintos ganham elegância e sutilezas. Os brancos, complexidade e riqueza.
A seguir, compartilharei com os leitores as impressões das amostras de especial destaque para mim. Todas provadas às cegas, com revelação do rótulo apenas após a entrega das fichas de degustação preenchidas. Não é o caso para pontuações nesse contexto. Como referência, de modo geral são vinhos, na crítica internacional, com notas à volta dos 95 pontos, alguns ainda acima.
Catena Cabernet Sauvignon 1990
Catena Cabernet Sauvignon 1990
O pioneiro da série dos grandes Catenas. Com ele Nicolas Catena conquistou o mercado dos Estados Unidos, projetando a imagem de qualidade do vinho argentino. Ícone precursor da triunfante vinicultura argentina que aflorou no século XXI. Com 34 anos faz jus aos elogios e reconhecimento. Bela cor rubi, profunda e viva. Muito elegante e refinado, com instigantes notas florais suaves, fruta vermelha madura e um toque adorável a frutos cristalizados. Ainda com taninos, suaves, e estrutura para suportar muitos anos de vida. Excelente frescor e vida, final longo com ótima intensidade; a delicadeza e elegância dão o tom. Um grande vinho, emblemático, e um enorme prazer desfrutar dele. Permanece uma referência, testemunhando o potencial de envelhecimento dos grandes tintos argentinos.
Nicolas Catena Zapata 2000
De cor rubi intensa e profunda, muito sofisticado, sem arestas. Redondo, vivo, ótima estrutura e equilíbrio. Sobressai um acariciante aveludado, cálido e estimulante, numa textura envolvente. Frutado evoluído a confeitos e requintado. No auge, ainda por viver muitos anos na janela da excelência.
Catena Zapata Malbec Argentino 2004
Após as estimulantes impressões de prova, um final adorável, senhorial, vivo e nervoso deixa uma sensação agradável. Grande persistência, fruta bem madura, decadente e refinada. Aveludado, carnudo, com muitos anos pela frente.
Catena Zapata Malbec Argentino 2022
Um grande vinho jovem. Bem diferente dos mais evoluídos. Exuberante, a fruta azul e vermelha madura, a amoras, cerejas, cassis, viva e fresca, explode do copo, refinada com aromas a violetas e minerais. Intenso, final persistente, longo e saboroso. Um belo toque noir é uma sensação adicional. Grandioso para desfrutar desde já, boa estrutura de taninos maduros e acidez, bem equilibrada no corpo sedoso. Terá uma grande e longa vida pela frente, será um prazer acompanhar as mudanças que o tempo acrescentará.
Malbec 2022 (vinho não comercial)
De cor púrpura, intensa e viva. Um lindo bouquet multifacetado estimula os sentidos já no primeiro cheiro. Frutos maduros, negros e vermelhos, algo a frutos cristalizados, floral a violetas. Intenso, estruturado e em harmonia. Um toque de zest de tangerina por baixo. Um tinto muito atraente, uma sensação para beber já e com longa vida pela frente.
Catena Chardonnay 1999
Um branco adorável, aos 25 anos. Mostra uma linda cor dourada brilhante. No apogeu da maturidade e com força para viver lindamente por mais um bom tempo. A evolução deixou o vinho mais sofisticado, com a marca dos grandes Chardonnays e Borgonhas a maçãs e maçãs assadas. Um delicioso fundo a mel de acácias compõe com a mineralidade e complexidade. Textura amanteigada, muito equilibrado, belo frescor, envolvente, longo, final delicioso.
Angelica Zapata Chardonnay 2008
Encantador, ainda marcado pela juventude. Cor palha com leves nuances douradas, brilhante e profunda. Muito complexo, vivaz e fresco. Uma bela energia faz reluzir notas minerais, a maçãs, pedras molhadas, musgo. Um grande branco sob qualquer aspecto, invejável. Intenso e refinado, tem longa vida pela frente. Para ganhar com evolução e se manter triunfante por mais 10 anos.