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Produtos & Ingredientes

É verdade que os panetones chegam aos supermercados cada vez mais cedo?

Flávia Schiochet
21/10/2019 16:00
Por mais que seja possível comer um panetone sozinho, abrir a caixa deste pão doce é o mesmo que acelerar o tempo e cair diretamente em uma reunião familiar de Natal. É por isso que tanta gente acha estranho quando os panetones aparecem nas gôndolas dos supermercados: parece que as semanas até dezembro viram migalhas.
A sensação de que “é cada vez mais cedo” que esses pães chegam aos supermercados, no entanto, é apenas uma impressão. Panetone de fruta, chocotone, panetones recheados de brigadeiro, trufados, com doce de leite, entre outros, sempre começam a ser distribuídos às lojas em setembro, segundo três empresas ouvidas pelo Bom Gourmet. A produção e distribuição se intensifica conforme chega próximo ao Natal, quando a procura também aumenta.
Produção de panetone começa em julho ou agosto e segue até dezembro. Nenhuma fábrica mantém estoque de um ano para o outro. Foto: Letícia Akemi/Arquivo Gazeta do Povo
Produção de panetone começa em julho ou agosto e segue até dezembro. Nenhuma fábrica mantém estoque de um ano para o outro. Foto: Letícia Akemi/Arquivo Gazeta do Povo
“O quanto antes se entra no mercado, maior o domínio do espaço. É uma estratégia”, explica Juliana Corá, grouper de marketing da Bauducco, que gerencia o marketing de produtos sazonais, como panetone e colomba pascal, e também de fermentações naturais. O grupo detém também as marcas Visconti e Tommy, que chegam em agosto, abrindo alas para os Bauducco, que vêm um pouco depois.
Panetones de frutas da Bauducco no forno. Foto: Divulgação
Panetones de frutas da Bauducco no forno. Foto: Divulgação
De cada dez panetones vendidos no Brasil, sete são de frutas — a Bauducco abocanha 70% do consumo. Os recheados e com chocolate são considerados uma “porta de entrada” para os de frutas. “O consumo de chocottone cresce 17% ao ano. É um produto de indulgência e é ele que alavanca essa entrada de novos consumidores da marca”, explana Juliana.
Para que as prateleiras fiquem repletas a partir de setembro, as máquinas precisam começar a funcionar pelo menos um mês antes. Isso significa que as fábricas não mantém um estoque de um ano para o outro — estes provavelmente foram liquidados nas promoções de janeiro nos pontos de venda.
“O mini panetone entra um pouco antes no mercado, entre o final de julho e começo de agosto”, completa Juliana. A Bauducco detém o título de maior produtora de panetone do mundo, produzindo 75 milhões de unidades por ano em três fábricas (duas em Extrema, Minas Gerais, e uma em Guarulhos, São Paulo).
No Sul do Brasil, a maior fábrica de panetones é a Siena, empresa em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, que detém as marcas Roma e Festtone. No segundo semestre, a fábrica passa a funcionar 24 horas por dia e a quantidade de funcionários quintuplica, passando de 200 pessoas envolvidas. Segundo o marketing da empresa, a produção de panetones tem crescido 25% ao ano e não há pausa — panetone é feito o ano todo.
“A cada ano muda um pouco a demanda”, avalia Ângelo Masatoshi, engenheiro de alimentos e gerente de inovações da Panco. “As pessoas estão se acostumando a comer panetone no dia a dia e não só perto do Natal. Na cidade de São Paulo, você encontra panetone aos fins de semana o ano todo em alguns supermercados. Mas ainda não virou um hábito”, explica.

Panetone com fermentação natural

Mesmo sendo industriais, os panetones da Bauducco e Panco são de fermentação natural e esse processo faz com que a produção seja mais lenta. Tudo começa com a massa madre que ambas as empresas mantêm vivas o ano inteiro. Parte desse fermento é misturado aos ingredientes da massa de panetone e deixado descansar. Depois, ao preencher as formas de panetone, o pão é deixado crescer e então assado. Após resfriar, vão para a parte de embalagens.
O da Bauducco leva de 52 a 54 horas entre o preparo da massa e a embalagem, e o da Panco, cerca de 30 horas. “Não tem como acelerar. Quem manda na fábrica é o próprio panetone”, brinca Masatoshi. A validade é de nove meses para ambos.
Berçário de massas da Bauducco, de onde sai a massa madre para preparar os panetones da marca. Foto: Divulgação
Berçário de massas da Bauducco, de onde sai a massa madre para preparar os panetones da marca. Foto: Divulgação
Uma sala refrigerada, chamada de berçário, guarda um fermento com mais de 65 anos. É a partir desta massa madre — cujo peso não é revelado pela Bauducco — que são produzidos os 75 milhões de panetones que abastecem as gôndolas do Brasil e de mais de 50 países entre setembro e dezembro. “Dizemos que estamos sempre fazendo panetone, porque ele é vivo”, diz Juliana.
O panetone da Panco leva 30 horas para ficar pronto, desde a mistura de ingredientes da massa fermentação, crescimento em formas, tempo de forno e embalagem. Foto: Divulgação
O panetone da Panco leva 30 horas para ficar pronto, desde a mistura de ingredientes da massa fermentação, crescimento em formas, tempo de forno e embalagem. Foto: Divulgação
Mais recente no mercado de panetones, a Panco produz há menos de uma década os seus. A empresa tem uma fábrica em Guararema, em São Paulo, e lançou dois novos sabores em 2019: o de caramelo salgado com gotas de chocolate meio amargo e o de frutas com zero açúcar na massa. No total, são oito produtos diferentes. “Quando entramos, as grandes marcas no Brasil já estavam consolidadas, mas nossa previsão para este ano é um crescimento agressivo”, diz Masatoshi. A empresa não revela o volume de produção ou a previsão de crescimento.

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