Anacreon de Téos
Panela do Anacreon
A cozinha peruana de Isidoro Troyes no QCeviche. Tal como lá, na terra dele
Un pocquito de cada, servido no QCeviche, reúne seis pratos típicos peruanos em um só. | Foto: Anacreon de Téos
Aprecio muito a comida peruana. Comecei a gostar desde a primeira vez que lá estive, em Lima, para fazer a cobertura de uma partida do Athletico, contra o Alianza, pela primeira Copa Libertadores da América disputada pelos rubro-negros.
Curti a maluquice do trânsito de Lima (mas jamais ousaria dirigir ali, onde a preferencial é sempre de quem buzina antes) e a beleza de Miraflores e suas escarpas a escorar o Oceano Pacífico.
Como nossa estada foi de alguns dias, pude me inteirar de alguns dos sabores peruanos. Desde o refrigerante Inca Cola (não gostei, não aprecio nem consumo refrigerantes) até um impecável Pisco Sour, com a camada espuma de claras por cima. Comi bem, também. Muito bem, diga-se. Desde os restaurantes e bares mais simples até um hit da época (foi na virada do século), Brujas de Cachiche – que existe até hoje -, com pratos da cozinha clássica peruana e algumas tiradas internacionais. Bebi até um vinho peruano, acredite.
De lá para cá veio a revolução gastronômica, a partir de Gastón Acurio, com seus Astrid & Gastón e La Mar (este se espalhando pelo mundo) e, principalmente, o Central, comandado pelos chefs Virgilio Martínez e Pía León, que, no ano passado, foi eleito como melhor restaurante do mundo pelo The World’s 50 Best Restaurants.
Fiz todo esse (grande) introito para entrar no assunto da comida peruana e puxar as informações aqui para Curitiba. Temos boas casas na cidade, notadamente aquelas que têm chefs autenticamente peruanos, que sabem até onde vão os limites além da tradição sensorial daquele país.
QCeviche!
Isidoro Troyes González é um deles. Basicamente, como a maioria dos cozinheiros, entrou na lida em outra função, a de lavar pratos. Isso em Lima, numa cevicheria., coincidentemente, naquele mesmo ano que citei acima, quando estive por lá pela primeira vez. Passou para a cozinha, progrediu e dali uns tempos era chef, passando pelos restaurantes de vários hotéis, até chegar ao Brasil, por meio do também chef peruano Rolando Limo, responsável pelo QCeviche!, de São Paulo.
Chegou direto para a unidade que estava sendo aberta em Curitiba, no Novotel Curitiba Batel, que fica bem no centro da cidade, nos meses finais de 2018. E, de pronto, impressionou pelos sabores que criava ou reproduzia. Escrevi, na época, apresentar “um cardápio que permite viajar por aquele país, conforme a escolha do prato – claro que o nível de picância é adaptado ao paladar do brasileiro. Uma experiência gratificante” (confira a publicação aqui).
Nesse meio tempo retornei muitas vezes, mas, confesso, fazia tempo que não aparecia por lá. Fui dias atrás e novamente pude sentir todas as raízes peruanas se manifestando a cada prato. E tive uma bela surpresa, algo que entrou recentemente no menu e é um apanhado de alguns dos principais pratos do restaurante, chamado Un poquito de cada.
Mas claro que começamos com o Pisco sour (R$ 31), o tradicional, feito com pisco, suco de limão, açúcar, albumina (clara de ovo) e gotas de Angostura. Digo isso porque eles têm também variações de sabores, no que chamam de Escoje tu Pisco sour (R$ 33), piscos macerados em infusões especiais, com opções de infusão de folha de coca, maracujá, maíz morado (milho roxo), capim-limão, erva huacatay (espécie de menta peruana, que Troyes chegou até a plantar no terraço do hotel), cerejas, pimenta, physalis, laranja, canela, café ou hibisco com gengibre.
E como qualquer refeição peruana precisa abrir com ceviche – pelo menos para mim -, pedimos um de cada (estávamos em dois): o clássico Ceviche de pescado (ícone da gastronomia peruana, feitocom cubos de tilápia fresca (lá eles usam linguado ou robalo), marinados em limão, coentro, pimenta dedo-de-moça e leche de tigre. Servido com milho verde, batata-doce e chips de batata-doce – R$ 49) e o Ceviche norteño mixto (blend de frutos do mar, como camarões, lula e polvo, pimenta ají amarillo, leche de tigre, servido com couve crocante - R$ 59). Cada um deles tem mais dois tamanhos, meia porção e para compartilhar.
Claro que há outras entradas, como Tiradito de pescado, Causa limeña, Ensalada andina, Ensalada de quinoa, Sopa Minestrón e Sopa Criolla.
Voltando à conversa lá do início, chegando à escolha dos pratos principais – o menu é bem extenso – foi que me deparei com os pratos “para compartir” , que servem de duas a três pessoas. E é ali que se encontra o tal Un poquito de cada, que é uma verdadeira imersão na gastronomia peruana, experimentando um pouco de alguns dos marcos da gastronomia de lá: mini porções de Causa limeña, Lomo saltado, Ají de gallina, Arroz ají panca, Arroz chaufa e Chicharrón de pescado - R$ 135).
Interessante a ideia de poder seis pratos de sucesso do restaurante em apenas um pedido. Quase como se fosse um menu degustação, sentindo as diferenças de sabores e texturas da comida do Peru. Evidentemente que o cardápio tem uma boa gama de pratos principais, que se for desejo do cliente, podem ser servidos. Mas juntá-los numa só experiência foi ponto conquistado.
Para terminar, Torta três leches, que é muito tradicional por toda aquela região do Pacífico, levando um bolo estilo pão de ló, umedecido com saborosa combinação de três leites, confeitada com chantilly, calda de morango e morangos frescos (R$ 21).
O restaurante ainda oferece o Menú degustación del chef, sequência com entrada, prato principal e sobremesa, a saber, Meio ceviche de pescado de entrada: Pescado a lo macho ou Lomo saltado, de prato principal e, de sobremesa, o Festival peruano. Isso tudo a R$ 105 por pessoa.
É possível, portanto, perceber que nem só de ceviche se apresenta a cozinha peruana e que merece uma exploração mais a fundo. E ali é um lugar perfeito pra isso.
E com uma vantagem: por ser restaurante de hotel, está permanentemente aberto (com algumas restrições de pratos na madrugada). Basta escolher qualquer dia para ir e ter o prazer de comer muito bem.
QCeviche - Novotel Curitiba Batel
Rua Doutor Pedrosa, 288 - Centro
Fone: (41) 3197-2750
Instagram: @qcevichecuritiba
Estacionamento terceirizado anexo ao hotel