Guilherme Rodrigues

Notas Báquicas

Aromas, sabores e texturas por toda a vida: a história dos vinhos mais fabulosos que já bebi

03/05/2024 23:01
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Contarei a seguir a história de alguns dos mais fabulosos vinhos que já bebi. Marcantes a tal ponto que os aromas, sabores e texturas enraízam-se na memória por toda a vida. Raros, afinal, como um piloto de testes, de quando em quando convém compartilhar com os leitores a experiência de dirigir uma Ferrari, uma McLaren.
Em visita ao Domaine de La Romanée-Conti, fui recebido por M. Noblet, o enólogo chefe, que contou detalhadamente como trabalham as uvas e os vinhos. Depois, provamos do barril algumas glórias da safra de 2006, na ocasião prestes a ser engarrafada. O Romanée-Conti saiu-se melhor que os demais. Mais uns passos dentro do paraíso, chega-se à sala de provas. Um maravilhoso Echézeaux 1999, ano solar, abre a festa. Vem o celebradíssimo La Tâche 1990, a mais pura obra de arte. Termina-se, como é costume na Borgonha, com um grande branco. Nada menos que o Montrachet 1987. Foi exatamente nele que pensei quando comecei o artigo. A sensação de leveza da alma e de bem-estar do corpo é tamanha que parece abolida a força da gravidade. Minerais, aromas de bosques úmidos, musgo, rosas brancas, jasmim, nozes, abricots muito finos, equilíbrio pleno, intensidade, enorme juventude enriquecida pela complexidade da idade. Simplesmente indescritível. 
Noutra passagem, no Figueira Rubayat, em São Paulo, sob a sombra da árvore grandiosa e da fidalguia dos Belarminos, pai e filho, a estrela da festa foi um dos mais célebres tintos de todos os tempos, o Mouton Rothschild 1945. Ao abrir a garrafa, saltaram aromas soberbos e limpos. Garrafa impecável e vinho estupendo. Poder puro. Da melhor espécie, dominado pela grandiosidade, opulência, generosidade e firmeza. Exótico, concentrado, frutas secas e frescas, figos dos mais finos, trufas negras, rosas, sândalo, profundo. Intensidade fabulosa, de um luxo oriental e sobretudo do mais refinado. Não há termo de comparação. Mouton 45 é Mouton 45, a experiência mais espetacular e única que um enófilo pode ter na vida.
Agora, um vinho fortificado. Madeira Blandy’s Terrantez 1902. Absolutamente magnífico, quase centenário ao ser aberto. Até hoje o vinho mais intenso, profundo, complexo, expansivo e de mais energia que já provei. Sobretudo, extremamente elegante. No copo, à mesa, os aromas enchiam o nariz à distância e perfumavam toda sala. Frutas secas e maduras, figos, zest suave de cítricos, almiscarado, trufas brancas, damasco, minerais, curry, flores das mais delicadas... a cada momento com novas facetas. Final de prova interminável. Palavras são poucas para descrever sua fulgurante beleza.
Por fim, em Curitiba. Numa passagem de Dirk Niepoort pela cidade, jantamos no Boulevard, pratos geniais do chef Celso Freire. Momento ideal para duelo Borgonha x Bordeaux. Chambertin Armand Rousseau 1989 x Château Pétrus 1990. Quem ganhou? Quem bebeu os vinhos e quem puder bebê-los algum dia. Não se pode querer nada melhor. Cada qual com sua personalidade e virtudes geniais. Perfeição engarrafada. Contudo, um Richebourg DRC 1999, aberto após esgotados os anteriores, excedeu a escala. Grandeza única e excepcional. Poder estonteante, recoberto por sutilezas, opulência, garra e vida, requinte e perfeição suprema. Uma sinfonia magistral, a Borgonha no seu pináculo, inebriante e inesquecível.
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