Dani Machado

Mesa Afora

Doze atos em torno da mesa: minha noite no Atomix, em NY, o 12º melhor restaurante do mundo

20/06/2025 15:34
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Dani Machado descreve sua experiência em um dos melhores restaurantes do mundo, o Atomix, especializado em nova cozinha coreano, com menu degustação de 12 etapas para apenas 14 clientes por vez. Crédito: Reprodução/Atomix.

O que acontece quando uma das cozinhas mais inovadoras do mundo encontra a mais alta precisão de serviço, em um salão de apenas 14 lugares? O Atomix, restaurante coreano em Nova York liderado pelo chef Junghyun Park e sua esposa Ellia, responde com poesia, rigor e surpresa.
Com duas estrelas Michelin desde 2021 e, atualmente, ocupando o 12º lugar na lista dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo — além de ser o Melhor Restaurante da América do Norte em 2024 —, o Atomix é um daqueles lugares que transformam um jantar em acontecimento. Estar ali é viver uma experiência que ultrapassa a comida — é uma aula de design, performance e sensorialidade.
Tive a sorte de conseguir uma das cobiçadas vagas para o jantar de degustação, que acontece em um balcão em formato de U, no subsolo do prédio em NoMad. A cada prato, recebemos uma pequena carta ilustrada que descreve ingredientes, técnicas e até contextos históricos. Os sabores são intensos, por vezes desafiadores, mas sempre equilibrados. Há algo de encantador na forma como o menu se desenrola, revelando um domínio absoluto das texturas e temperaturas.
Começamos com um tartare de peixe e minari, servido com gelo e molho picante — uma explosão gelada que quebra a ardência e desperta o paladar. Em seguida, um dos pratos que mais me marcou: banana preta com fígado de tamboril e folha de sissô. Um trio improvável que funciona pela delicadeza da execução.
O sundubu, creme de tofu com leite de soja e ovo, veio coberto por espuma de foie gras e camarão, revelando camadas inesperadas de sabor. Depois, um lagostim com abóbora e espuma perfumada: delicado, mas com presença.
Outro ponto alto foi o frango confitado com molho de bergamota e óleo de anchova, servido ao lado de um peixe cor-de-rosa chamado cherry blossom fish, pescado na temporada da florada das cerejeiras. Tudo é pensado para contar uma história — da estação, da origem, da Coreia.
Na etapa principal, o porco ibérico com molho fermentado e caramelo salgado trouxe profundidade e potência. E, quando se acha que terminou, chegam as sobremesas. A panacota de menta com alho e pimenta vermelha foi seguida de uma tarta de sujunguá com gel de salsinha e amêndoas. Sim, caramelo com trufa também estava no meio do caminho — e funcionou.
É difícil descrever uma noite como essa. O serviço é tão afinado que parece coreografado. Tudo flui. A luz, os sons, as conversas baixas entre a equipe. É o tipo de experiência que reafirma por que a gastronomia, quando bem feita, toca muito além do paladar.
O menu degustação do Atomix custa a partir de US$ 375 por pessoa, sem bebidas. Com harmonização e taxas, o jantar pode ultrapassar US$ 500 — um valor alto, mas coerente com a complexidade da proposta e o nível de excelência que o restaurante entrega.
No final, saí de lá com um envelope recheado: cartas dos pratos, uma carta de agradecimento assinada pela fundadora Ellia Park e até uma curadoria pessoal da equipe com recomendações de bares e restaurantes em Nova York. Um presente. Um jantar inesquecível. E uma certeza: o Atomix é um dos lugares mais especiais do mundo para quem ama comer e ser surpreendido.