Bom Gourmet
Vinhos italianos ganham espaço no Brasil: produção nacional cresce e consumo dispara

O consumo de vinhos italianos cresce a dois dígitos no Brasil, enquanto vinícolas nacionais investem em castas como Sangiovese, Nebbiolo e Barbera. | Foto: bigstock photo
Castas como Sangiovese, Nebbiolo e Barbera conquistam vinícolas brasileiras e a mesa dos consumidores
O vinho italiano vive o seu melhor momento no Brasil. Seja no aumento do consumo dos rótulos importados, seja no crescimento da produção nacional de castas históricas como Sangiovese, Nebbiolo e Barbera, a relação entre os dois países se fortalece a cada safra — e se traduz em experiências gastronômicas cada vez mais diversas.
Crescimento que salta à taça
Para Marcelo Vargas, professor da Associação Brasileira de Sommeliers – Seção Rio Grande do Sul (ABS/RS), os números confirmam a tendência.
— Acredito que a gente está vivendo o melhor momento do vinho italiano no Brasil. Só para a gente ter ideia, a gente teve em 2024 um crescimento de 12% versus 2023 dos vinhos italianos no Brasil. E a gente está agora em 2025, nesse primeiro semestre, com um crescimento de 10% versus 2024.
O que explica esse avanço é uma combinação de fatores: diversidade de estilos, preço mais competitivo que o francês, laços culturais e uma gastronomia que aproxima os dois países.
— A Itália já é hoje a quarta origem de maior volume dos vinhos do exterior no Brasil. Só vem pelas frases de Chile, Argentina e Portugal, a Itália já é o quarto em volume — completa Vargas.

Entre Chianti e Barolo, experiências na mesa
Nos restaurantes, a procura reflete essa expansão. No Benjamin Osteria Moderna, em Porto Alegre, o Chianti Clássico Annata lidera as vendas.
— O Chianti Clássico que trabalhamos no restaurante é o Annata, com amadurecimento em inox, que o mantém frutado, fresco e acessível, preservando o caráter vibrante da Sangiovese. É um campeão de vendas — afirma Roselaine da Rosa, responsável pela carta da casa.
Ela explica que a força dos vinhos italianos está também na harmonização.
— Acredito que, todos que tenham a oportunidade de saborear um Chianti com um prato de massa com molho de tomate ou uma bela pizza, vive uma experiência enogastronômica marcante. E um belo cantucci com Vin Santo é se transportar para a vida na Toscana.

Vinhos italianos com sotaque brasileiro
Enquanto isso, nas vinícolas do país, as castas italianas ganham terreno.
— Falando em termos de aceitação dos vinhos, naturalmente a gente tem as mais famosas acabam chamando mais atenção e a curiosidade de verificar, por exemplo, Nebbiolo, Barbera, que são talvez as duas mais famosas uvas da Itália. As pessoas vêm com essa curiosidade pela influência natural da Itália — explica Glauco Fürstenberger, sommelier e fundador da distribuidora Vinato.
Mas não se trata apenas de reproduzir estilos já conhecidos. O desafio, segundo Glauco, é mostrar como essas uvas se comportam em diferentes terroirs brasileiros.
— O Brasil tem se posicionado na qualidade do vinho. O que vai se perceber, o que é muito bacana, são as pessoas que conhecem castas italianas e falam: nossa, eu gosto muito dessa uva, então veja essa uva, o comportamento dela nos nossos terroirs.
Essa identidade própria, ligada à gastronomia local, é um trunfo.
— Os vinhos brasileiros e essas particularidades de uma uva italiana produzida na Serra Gaúcha, na Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas, enfim, outras regiões, nós temos características que começam a dar a tipicidade do nosso vinho com aquela origem de uva e que tende, de modo geral, a harmonizar muito melhor com as nossas comidas, com a nossa culinária brasileira do que um vinho de fora — diz Fürstenberger.

Um fio de ancestralidade
Para Karine de Souza, embaixadora do Merano Wine Festival na América do Sul, esse movimento é quase inevitável diante da história.
— Quando você fala disseminação, você diz que está aumentando isso, né? Estão produzindo mais. Ok. Bom, isso eu acho que era normal, era previsível, porque naturalmente com todos aqueles italianos que vieram pra cá e com o crescimento da produção de vinhos no Brasil, isso foi... os italianos trouxeram vinho, que era a base, trouxeram a uva.
Ela vê a expansão como uma conexão simbólica entre Brasil e Itália.
— Acredito que essa seria... não seria natural se não fosse assim. Então acho que isso é muito... os italianos, quando eles sabem disso, eles se sentem muito honrados. Isso é uma conexão muito forte com a Itália.

Tendências: leveza, diversidade e futuro
Se antes os tintos encorpados dominavam o consumo, hoje o perfil está mudando.
— Existe uma maior valorização hoje de vinhos mais leves, elegantes, vinhos mais fáceis, com mais fruta, mais acidez, onde facilite o consumo de um volume de vinho maior e que os vinhos sejam menos cansativos, menos pesados, intensos — explica Vargas.
Ao mesmo tempo, novas regiões italianas entram no radar do brasileiro.
— Estamos acompanhando um momento muito interessante de regiões menos famosas, trazendo vinhos muito interessantes. Por exemplo, os vinhos do vulcão Etna, na Sicília, os vinhos brancos da Campania, como o Greco di Tufo e o Fiano di Avellino, têm aparecido bastante — afirma o professor.
Entre tradição, inovação e laços culturais, o futuro parece promissor.
— Há uma grande tendência para os vinhos italianos continuarem crescendo no Brasil, estamos falando de um crescimento de 10% a 15% ao ano nos últimos anos — projeta Vargas.
Seja em uma taça de Chianti ao lado de uma pizza, em um Nebbiolo produzido na Serra Gaúcha ou em um Prosecco que ecoa memórias da imigração, os vinhos italianos seguem conquistando espaço — e desenhando um novo capítulo da cultura do vinho no Brasil.