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Tradição e diversidade produtiva: o que faz do Paraná líder em IGs no Brasil

As broas de centeio de Curitiba e Região foram as primeiras a conquistar o registro de Indicação Geográfica do Paraná em 2025. Crédito: Sebrae/PR.
O Paraná alcançou uma marca histórica e se tornou o estado brasileiro com o maior número de Indicações Geográficas (IGs) do país. Com o recente reconhecimento da ponkan de Cerro Azul, cultivada em um dos principais polos citrícolas do Sul do Brasil, o estado chegou a 21 produtos certificados, consolidando sua liderança nacional no reconhecimento de produtos com identidade e origem protegidas.
Com o novo registro, o estado empatou com Minas Gerais, que possui 20 registros próprios e um compartilhado com São Paulo. Na sequência do ranking estão Rio Grande do Sul (15), Espírito Santo (11), Santa Catarina (10) e São Paulo (10).
Dos 21 registros, sete foram concedidos em 2025.

Mapas dos sabores paranaenses
Além da poncã, os produtos paranaenses com IG são a aguardente de cana e cachaça de Morretes; a goiaba de Carlópolis; as uvas de Marialva; o barreado do Litoral; a bala de banana de Antonina; o melado de Capanema; o queijo da Colônia Witmarsum; o café do Norte Pioneiro; o mel da região Oeste; o mel de Ortigueira; a erva-mate de São Mateus do Sul; o morango do Norte Pioneiro; a camomila de Mandirituba; os vinhos de Bituruna; as broas de centeio de Curitiba e Região; a Cracóvia de Prudentópolis; o urucum de Paranacity e Cruzeiro do Sul; a Carne de Onça de Curitiba; o queijo colonial do Sudoeste; e o café de Mandaguari.
O estado ainda conta com nove processos em análise e outros 25 em fase de estruturação, segundo levantamento com apoio técnico do Sebrae/PR.

O que são as Indicações Geográficas?
As Indicações Geográficas são selos de reconhecimento concedidos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a produtos ou serviços que possuem uma qualidade única, associada ao local onde são produzidos.
Isso inclui não apenas o território, mas também as práticas tradicionais, ingredientes locais e a fama construída ao longo do tempo. O selo pode ser aplicado a alimentos, bebidas, artesanato e até serviços.
Objetivo de proteger a origem
As Indicações Geográficas no Brasil se dividem em duas categorias: a Indicação de Procedência (IP), concedida quando a reputação do produto está diretamente ligada à região onde é feito; e a Denominação de Origem (DO), para a qual é preciso comprovar que as características do território, como solo, clima e o saber-fazer local influenciam diretamente na qualidade do produto.
No Paraná, já foram reconhecidos alimentos com forte vínculo regional, como a goiabada de Carlópolis, o mel de Ortigueira, o queijo de Witmarsum, a erva-mate de São Mateus do Sul e o café do Norte Pioneiro - além das broas de centeio e a Carne de Onça de Curitiba.

Muito além de um selo
A Indicação Geográfica é uma ferramenta de proteção, desenvolvimento regional e valorização da cultura. “Ela ajuda a preservar a biodiversidade, o conhecimento tradicional e os recursos naturais. Além disso, impulsiona a economia local porque agrega valor e desperta o interesse do mercado por produtos autênticos e de origem garantida”, explica Maria Izabel Rosa Guimarães, gestora estadual de IGs do SEBRAE-PR.
Ela destaca ainda que a IG é capaz de fomentar a inovação. Um bom exemplo é a bala de banana de Antonina, que originou novos produtos como farofas e até sabonetes líquidos aromatizados.

Urucum de Paranacity: um caso de sucesso
Um dos exemplos mais sólidos dessa valorização é o Urucum de Paranacity, no Noroeste do Paraná. O produto se diferencia nacionalmente por sua cor vibrante, sabor intenso e pela alta concentração de bixina, substância valorizada pelas indústrias alimentícia, cosmética e farmacêutica.
Essas características únicas são resultado de uma combinação entre solo fértil, colheita manual, clima favorável e cultivo sem agrotóxicos.
Com produção anual de cerca de 600 toneladas, o equivalente a 10% da produção nacional, o urucum da região não apenas movimenta a economia local como também preserva práticas agrícolas iniciadas no final dos anos 1970.

Paraná no reconhecimento de IGs
O processo de reconhecimento das IGs envolve mapeamento de produtos com identidade regional forte e mobilização dos produtores para definir padrões técnicos e áreas geográficas.
Dois nomes estão próximos de entrar para a lista. Veja abaixo.
Ginseng de Querência do Norte
Cultivado no noroeste paranaense, o ginseng da região se diferencia por ser plantado de forma orgânica e sustentável por agricultores familiares e comunidades tradicionais.
Com reconhecidas propriedades medicinais, como ação tônica e anti-inflamatória, o ginseng local já é exportado para diversos países.
O que o torna um forte candidato ao selo de IG é exatamente essa combinação entre tradição, qualidade fitoterápica e o contexto produtivo único, enraizado no território e na cultura regional.

Tortas de Carambeí
Nos Campos Gerais, outro exemplo que está em processo de reconhecimento são as Tortas de Carambeí. A tradição começou com os imigrantes holandeses que chegaram à região em 1911, trazendo técnicas de confeitaria artesanal que foram sendo aprimoradas e adaptadas ao longo de gerações.
Hoje, essas tortas são preparadas com ingredientes frescos e regionais, sem industrialização, e carregam um modo de fazer único. A torta de amora, por exemplo, foi reconhecida como prato típico do município, que criou o Festival de Tortas para celebrar essa herança. O evento atrai turistas e movimenta a economia local, fortalecendo o vínculo entre o produto e o território.

Por que esses produtos têm potencial de IG?
Tanto o ginseng quanto as tortas apresentam os principais requisitos para o reconhecimento de Identificação Geográfica: forte ligação com a região onde são produzidos, reconhecimento público, métodos tradicionais preservados e identidade própria. O que os torna únicos não é apenas o produto final, mas todo o contexto que envolve sua origem.
A busca por selos de Indicação Geográfica no Paraná vai além da economia. Para Maria Izabel Rosa Guimarães, esta é uma estratégia de fortalecimento das comunidades produtoras. Elas não ganham apenas destaque, mas também a confiança de consumidores exigentes.
Para a gestora do Sebrae/PR, todas essas conquistas fazem do Paraná um estado cada vez mais reconhecido por sua diversidade produtiva - com avanços ainda maiores por vir.