Restaurantes
Temperos e receitas de imigrantes sírios conquistam Belo Horizonte
A busca por um lugar melhor diante da trágica guerra civil que assola a Síria desde 2011 espalhou cerca de 5 milhões de imigrantes do país do Oriente Médio pelo mundo. Diante das dificuldades com os novos costumes, uma língua diferente e um outro povo, não é surpresa que boa parte deles aposte em um idioma universal para se estabelecerem: a gastronomia.
Em Belo Horizonte, que já contava com uma colônia numerosa de imigrantes e descendentes da região, os sírios recém-chegados já abriram pelo menos quatro lanchonetes, em que predominam quibes, esfirras e o interessante shawarma. O mais novo destes espaços é o Síria Gourmet, no Centro da capital, tocado pelo casal Alaa Kassab, 32, e Nadeen Zakour, 27 e pelo amigo Yousef Alagi, de apenas 19 anos. O trio veio de Homs, uma das cidades mais atingidas pelo conflito, há cerca de três anos, mas só em janeiro eles decidiram abrir a casa de lanches.
A comida foi a solução que o casal encontrou para retomar a vida. No seu país natal, ele era advogado e ela, professora de canto lírico. “Como seria difícil retomar os estudos aqui, para voltar para o direito, optamos pela gastronomia”, conta Kassab, em um excelente português. Apesar de virem da mesma cidade, que tinha cerca de 800 mil habitantes antes do conflito, os dois só foram conhecer Alagi em Belo Horizonte, quando trabalhavam na tradicional igreja São José.
O casal se alterna entre a cozinha e o atendimento ao público, enquanto o rapaz opera a chapa que prepara os sanduíches no pão árabe. Kassab detalha que as receitas vêm das famílias dos três. “O nosso tempero é bem típico da Síria, é um pouco diferente do que as pessoas estão acostumadas aqui, mas temos tido um bom retorno”, conta. Uma das especiarias que se destaca, principalmente em opções salgadas, é a canela, cujo aroma picante toma conta do espaço, que tem ficado lotado. Por lá, o campeão de vendas tem sido o sanduíche de kafta, que leva duas unidades do espetinho de carne moída (R$ 13,50), o quibe (R$ 4,50) e as esfirras de zaatar e carne (R$ 3 a unidade).
Rápido crescimento
Os dois irmãos à frente da Arábica, no bairro Santa Efigênia, também vieram de Homs. Ahed Dabbas, 24, e o irmão, Abboud Dabbas, 27, chegaram na capital mineira há cerca de quatro anos, graças à um primo que já vivia na cidade. Os primeiros empregos foram, respectivamente, em uma padaria e uma lanchonete. Foi juntando as habilidades que eles iniciaram a casa, que já inaugurou uma segunda unidade, há cerca de oito meses, no mesmo bairro. Juntos, eles já empregam seis funcionários, mas não abrem mão de fazer, eles mesmos, as pedidas das duas casas, como o quibe (R$ 5,90) e a esfirra aberta de carne (R$ 3,90). O que faz sucesso por lá, e provoca até filas na porta, é o prato feito no horário do almoço. São três opções, todas a R$ 15. O mais pedido é o que leva arroz com lentilha, duas kaftas e duas pastas à escolha, que podem ser homus, babaganuche, tabule, coalhada seca ou até quibe cru. “Me emociona a recepção das pessoas, quando elas falam que gostam da nossa comida. Já não penso em voltar para a Síria”, diz Ahed, que trabalhava com comunicação antes do início do conflito.
Quem também já se adaptou à capital mineira são os amigos John Eshak, 23, e Elian Soucar, 28. “Procuramos qual era a cidade mais tranquila do Brasil e encontramos Belo Horizonte. Achamos o povo muito receptivo, que ajuda de coração”, diz John. Os dois começaram a trabalhar na rede de lanchonetes Vila Árabe logo quando chegaram, há quatro anos, e abriram o Sítio Sírio, na Savassi, há cerca de um ano. O movimento foi tanto que a loja dobrou de tamanho em março. A lanchonete também ganhou um parklet na sua frente, que aumentou a capacidade de receber o público.
Os clientes vão, normalmente, em busca do bolinho de falafel (R$ 2 a unidade) e do shawarma (R$ 10,90, pequeno, e R$ 18,90, grande), que leva pão sírio, pasta de alho, salada de repolho, picles, tomate e frango, assado no tradicional espeto giratório e cortado na hora. Às sextas-feiras, quando o frango dá lugar ao cordeiro (R$ 14,90, pequeno, e R$ 24,90, grande), a fila pode até assustar, mas vale a pena ser encarada. Enquanto prepara um sanduíche, John garante que acompanha as notícias do seu país natal, mas não pensa mais em voltar. “Já me considero mineiro, já falo uai”, brinca.
Serviço:
Arábica: Avenida Brasil, 738, Santa Efigênia. Tel.: 97591-5919. Síria Gourmet: Rua dos Goitacazes, 322, loja 9, Centro. Tel.: 99895-8988. Sítio Sírio: Rua Paraíba, 1378, Savassi. Tel.: 3654-4222.
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