Restaurantes
Falta de segurança mata bares na Sanfra, mas há quem resista
Aos poucos, a diversidade gastronômica que nos últimos anos havia se instalado na Rua São Francisco, no centro de Curitiba, vai minguando. A conhecida falta de segurança da região levou, nessa semana, dois estabelecimentos a anunciar o encerramento das atividades.
O Samba, Pastel e Birita informou em sua página do Facebook no dia 3 de maio o fechamento da casa. Uma semana depois, o Negrita Bar fez anúncio semelhante. A nota foi publicada na tarde desta sexta (11) informando que a casa funcionará até o domingo (20), quando a pastelaria e o bar latino farão uma festa de encerramento em frente aos seus estabelecimentos, na Rua São Francisco.
O Samba Pastel e Birita funcionou por um ano no endereço, enquanto o Negrita completaria quatro anos em agosto. Ambos tinham seus balcões próximos à calçada, onde a maior parte da clientela ficava. O movimento de “ocupar a rua” surgiu com a construção da Praça de Bolso do Ciclista por voluntários na esquina das ruas São Francisco com a Presidente Faria durante o ano de 2014.
Aos poucos a rua começou a ser frequentada por mais gente à noite que durante o horário de almoço. Restaurantes tradicionais como o São Francisco, Nonna Giovanna e Mikado passaram a dividir espaço com bares. O Jokers não era mais a única “casa noturna”. Com o movimento à noite, notou-se o desenvolvimento da dinâmica similar à da Rua Trajano Reis, no bairro São Francisco: ponto de venda e consumo de drogas, vandalismo e “conflito de classes”, segundo nota do Negrita.
“Estávamos em um espaço que não era nosso e houve um retorno, uma repulsa. O ideal era uma convivência amigável, cada um com seu público, mas isso não existiu. Houve muito embate e dificuldade. O público consumidor acabou se afastando, não queria conviver com alguns grupos sociais”, explicou Patrícia Bandeira, proprietária do Negrita Bar. O bar latino opera normalmente até o dia 20 de maio. O cardápio do Negrita continua sendo servido no Botanique.
Os conflitos são efeitos colaterais do compartilhamento do espaço público e não são novidade na rua. No final de 2016, um dos sócios do recém-aberto Capivara Vegetarian foi ameaçado de morte por traficantes e seu estabelecimento foi depredado. O acontecimento afetou o movimento da rua nas semanas subsequentes, que diminuiu consideravelmente.
“Curitiba não tem uma bagagem de usar o espaço público de forma democrática. Revéillon e carnaval na rua acabam em conflito. Isso se reflete no movimento dos bares porque eles proporcionam a divisão do espaço público”, analisa Rafael Fusco, sócio proprietário do Pizza, que abriu em 2015 uma unidade na Rua São Francisco.
A pizzaria que vende pizza em pedaços é um dos estabelecimentos gastronômicos que ainda resistem na região. A loja fica no trecho de cima da Rua São Francisco, que cruza a Rua Barão do Serro Azul, que nunca sofreu os mesmos problemas que a quadra de baixo. No lugar funciona também o Bar do Fogo, que no ano passado reabriu após passar por uma reforma, e a hamburgueria Chico Burguers.
Em suas notas de esclarecimento, tanto o Samba Pastel e Birita quanto o Negrita Bar apontaram a insegurança da rua como um motivo para tomar a decisão. “Ainda falta muita política pública para resolver os problemas de segurança da nossa região”, escreveram os empresários Gil Preto e Luis Giusti, do Samba, Pastel e Birita. O Negrita, por sua vez, elencou “falta de apoio do poder público, a alta criminalidade, questões financeiras”.