Restaurantes
Chefs renomados assinam petição contra o 50 Best Restaurants
Enquanto os irmãos Roca, do El Celler de Can Roca, ainda desarrolhavam a champagne para comemorar a volta ao topo na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo, chefs e pessoas do mundo inteiro assinavam a petição lançada pelo Occupy 50 Best, movimento de contestação ao concurso da revista britânica Restaurants, cujos resultados foram divulgados na segunda-feira (1).
Entre os signatários (a lista está disponível no site da Occupy) estão chefs renomados como Paola Carosella do restaurante paulistano Arturito, o francês Joel Robuchon, que em 2014 ocupava o 31º lugar e o argentino Francis Mallmann, do 1884, em Mendoza, ex-jurado do prêmio. O brasileiro Rogério Fasano, também ex-jurado, fez coro e pôs em dúvida a integridade do prêmio: “Mesmo que nós podemos concordar que a lista é apenas uma coleção de opiniões“, disse ele, “o que acontece com o elemento moral?“, disse ao jornal New York Times.
Ao todo, mais de 600 pessoas haviam assinado o documento até as 10h desta sexta-feira (5). O suficiente para fazer barulho e constranger os organizadores do concurso que chegaram a pedir a retirada do ar do site do Occupy.
A acusação feita pelas criadoras do movimento Marie Eatsider, Hind Meddeb e Zoe Reyners é de o concurso ser pouco transparente, machista e influenciado por lobbies. Não se conhecem os critérios da escolha dos 837 jurados, muitos dos quais são chefs e restaurateurs e, portanto, juízes e concorrente ao mesmo tempo. Os jurados também não são obrigados a fornecer alguma prova (como o recibo da conta) para demonstrar que visitaram o restaurante pelo qual votaram.
Um dos pontos mais controversos do ranking é a questão de gênero: a representação feminina é muito baixa ao ponto que existe uma categoria exclusiva para as mulheres. De acordo com o portal Bloomberg apenas 4% dos vencedores é de sexo feminino. Por estas razões, o movimento pede aos patrocinadores do concurso que retirem o apoio financeiro.
Francis Mallmann foi jurado do concurso até 2013, mas se recusou a participar nas últimas duas edições. Entrevistado nesta quarta-feira (3) pela publicação britânica The Daily Beast, ele conta que gostava ser jurado, mas que notou uma mudança quando o seu restaurante entrou para a lista. “Comecei a me sentir constrangido quando participava das conferências. Quando a votação se aproxima, todos os chefs vêm e te dizem ‘apoia este, apoia aquele’. Havia um lobby forte”, revelou.
Segundo ele, a pressão não vem somente de chefs e restaurateurs, mas também dos governos que tentam influenciar os jurados. Ele acusou em particular o Brasil. “A América Latina é uma região, mas o Brasil graças ao lobby se tornou uma região à parte”, disse. Ou seja, os restaurantes brasileiros são avaliados pelo mesmo número de jurados que avalia a América Latina toda.
Apesar disso, na edição 2015, o Brasil não foi o país sul-americano com o melhor desempenho e seus representantes – os paulistanos D.O.M., de Alex Atala, e o Maní, de Helena Rizzo e Daniel Redondo – perderam posições em relação ao ano passado. Quem teve representação maior foram México e Peru que colocaram mais restaurantes no ranking, cada um com três. De acordo com o New York Times, “os ministérios do turismo de muitos países, como Suécia, Peru, México e Cingapura, começaram ou aumentaram o patrocínio do turismo gastronômico para os especialistas do setor desde quando existe a lista”.