Restaurantes
A simplicidade do Seu Luna: entenda porque o restaurante de Recife chamou a atenção de Alex Atala
Você já ouviu falar em chambaril? Se você já passeou pelo nordeste brasileiro, possivelmente sim. O prato, típico da culinária sertaneja, é o cartão de visitas do Restaurante Seu Luna, de Recife, que ganhou a admiração de ninguém menos que o premiado chef Alex Atala.
"Recife tem essa tradição de comida de bar, do sertão e coisas que o turista muitas vezes não conhece. Eu sempre tenho vontade de conhecer essas diferentes receitas que estão espalhadas por todo o Brasil. Já tinham me falado do Seu Luna e do chambaril e na primeira oportunidade que tive eu fui conferir", confessa Atala.
O chef mais premiado do Brasil gostou tanto que já convidou a chef Claudia Luna, à frente da casa, para cozinhar em São Paulo, em um projeto do seu Dalva e Dito. E, dizem, almoçou o prato praticamente todos os dias em que foi produzido. Na ocasião, o chambaril foi servido com cuscuz recheado com carneiro e caldinho de dobradinha. De sobremesa, o super nordestino cartola, feito com banana e queijo coalho.
Mas, o que tem o prato de tão especial? Olhando com um pouco mais de atenção para o chambaril, você vai perceber que nada mais é do que o ossobuco, como o corte é conhecido do sudeste para baixo. "O modo de preparo é semelhante, o que inclui muitas horas de cozimento. Mas mudam os temperos, com a inclusão do cominho. E, no caso da gente, o tamanho da peça", explica a chef.
De fato, a porção de chambaril para duas pessoas é muito generosa e o Bom Gourmet provou in loco. "A gente pede o corte mais alto para o fornecedor, que deixa a peça maior", explica. Depois de temperada com muito colorau, cominho, coentro, pimentão verde e verduras, a carne fica três horas e meia na panela convencional, o que a deixa super macia. Literalmente, é possível cortá-la com uma colher: veja o vídeo abaixo. O preço das porções variam de R$ 32,90 (individual, sem acompanhamento) e R$ 119 (para até quatro pessoas e com acompanhamentos).
Como uma boa e velha cozinha nordestina, a casa também tem outros pratos que fazem muito sucesso entre locais e forasteiros. É o caso da buchada, cuidadosamente costurada, da dobradinha, da galinha à cabidela (feita com o sangue do animal) ou guisada, do sarapatel, da rabada e do cabrito.
Aliás, o cabrito é um caso à parte no menu. Muito tradicional na cozinha sertaneja, a carne do animal também recheia uma das invenções de Claudia, a coxinha de cabrito. "Criei essa opção para levar em feiras e eventos e fez tanto sucesso que incluímos no menu. Outras entradinhas que levam a assinatura da chefa são o bolinho de chambaril com molho de acerola (R$ 11,90) e o Chamba à moda da casa, que nada mais é do que a carne desfiada do chambaril acompanhada de torradas (R$ 22,90). E ainda têm os caldinhos, superpopulares em Recife. No Seu Luna, são servidas as versões feijão, dobradinha e cebola.
Quem vê a profusão de pratos, como diziam as nossas avós, com tanta sustança, não imagina comer todos de uma vez. Mas a chef, inspirada pelo seu trânsito no mundo da gastronomia, lançou um menu degustação com os pratos da casa. "Assim, a pessoa pode provar um pouquinho de cada coisa", explica.
O menu degustação do Seu Luna inclui uma opção de caldinho, bolinho de chambaril, sarapatel, rabada, galinha cabidela ou guisada, chambaril com arroz e pirão e minipudim de leite e doces da casa, feitos com frutas como jaca, mamão e coco. O banquete sai por R$ 79,90 e está disponível apenas no local.
História
Quando a gente chega em frente ao restaurante, a simplicidade é a primeira coisa que chama a atenção. Trata-se de uma fachada de chapisco branca, com um portão que lembra muito o de uma residência. E, aqui, vai um fato curioso: toda as vezes em que a chef ensaia reformar a frente do restaurante, localizado no bairro Ipsep, há uma saravaida de protestos dos mais nostálgicos. Na frente do restaurante, em vez de placa, um banner que anuncia: Tradição, orgulho e qualidade há 30 anos.
A frase traduz muito do que é o Seu Luna, que ganhou o nome devido a seu fundador, Antonio Luna. Na verdade, o local, que antes era chamado de bar, surgiu de maneira despretensiosa. "Meu pai costuma receber os amigos em casa e minha mãe, Elizete, preparava a comida. Era tão boa que os amigos dele o incentivaram a abrir um bar, que começou no improviso, com mesas trazidas por eles", conta Claúdia Luna, atual chef e herdeira da casa.
Foi com a mãe que ela aprendeu a preparar as receitas com raízes sertanejas que são servidas até hoje. "No início, ela não queria que eu seguisse no restaurante, por ser uma rotina puxada. Mas depois de sua morte, em 2006, acabei assumindo a cozinha", conta.
Apesar do repertório conquistado no seio familiar, Claudia foi buscar mais conhecimento. Foi quando ela conheceu mais a fundo o trabalho de Atala, especialmente devido à afeição do chefs aos ingredientes e pratos regionais. De grande ídolo, Atala se tornou um amigo. "Imagina como ficou meu coração quando ele entrou pela porta do restaurante a primeira vez!", relembra.
Depois da experiência em São Paulo no Dalva e Dito, com a benção de Atala, a comida do Seu Luna ganhou o mundo e já foi servida, a convite, em restaurantes de Barcelona e Lisboa, em Portugal, que, vale lembrar, tem uma influência direta na disseminação por Pernambuco de pratos como a buchada e o sarapatel, da época da colonização. "É muito bom ver uma comida tão regional, tão tradicional, romper fronteiras.", finaliza.
Serviço
Restaurante Seo Luna
Onde: Rua Saldanha Marinho, 645 - Ipsep - Recife-PE
Mais informações: @seulunarestaurante
Onde: Rua Saldanha Marinho, 645 - Ipsep - Recife-PE
Mais informações: @seulunarestaurante