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Referência no Brasil, Curitiba dita tendências na coquetelaria: veja o que está em alta e o que vem com The Next Bartender

Um dos principais destaques da coquetelaria curitibana, Igor Bispo diz que a cidade passa por um momento singular, com talentos em evidência e mercado efervescente.
Curitiba vive um momento efervescente quando o assunto é coquetelaria. Bartenders premiados, bares criativos e um público cada vez mais curioso têm transformado a cidade em referência nacional no universo dos drinks autorais.
O cenário tem nomes de peso. Ariel Todeschini, por exemplo, acaba de vencer a etapa nacional do World Class 2025, a maior competição de coquetelaria do mundo e agora representará o país na final global do campeonato, marcada para acontecer entre setembro e outubro em Toronto, no Canadá. Na mesma disputa, outro curitibano, Gabriel Bueno, também estava entre os finalistas.
Mais do que talento individual, o que se vê é o fortalecimento de uma comunidade de profissionais e entusiastas que elevam o nível da coquetelaria local. “A gente está com um monte de bar legal, profissionais talentosos e um público disposto a experimentar coisas novas. É realmente um momento singular”, diz o bartender Igor Bispo, que também apresenta o reality The Next Bartender, projeto do Bom Gourmet que pretende revelar os próximos grandes nomes da coquetelaria curitibana com o patrocínio da Bacco Destilados.
Enquanto os paladares se abrem para novas experiências, os balcões de Curitiba se tornam vitrines de criatividade, técnica e brasilidade. E este não é “só o começo”.
Segundo Bispo, o diferencial da coquetelaria em Curitiba está na troca constante entre os bartenders locais. “Acho que os profissionais daqui conversam mais, têm uma troca maior do que em outras cidades,” comenta. Essa convivência cria um ambiente fértil para a inovação técnica e a busca por ingredientes diferenciados, que refletem a identidade regional.
Nada se cria, tudo se transforma
E se é para falar de técnicas mais modernas na coquetelaria, Bispo aponta que, na prática, poucas são criações totalmente inéditas. Grande parte do que se vê hoje é resultado da adaptação e aplicação de métodos já consolidados em outras áreas da gastronomia, como o café e a confeitaria, repensados para o universo dos drinques.
Muitos bartenders têm utilizado a técnica do sous vide (técnica de cozimento em que o alimento é selado a vácuo e cozido lentamente em baixa temperatura controlada), método originalmente desenvolvido na gastronomia, para extrair o máximo de sabor dos ingredientes e preservar suas características sensoriais, minimizando perdas de aromas e sabores durante o preparo.
Além disso, a técnica de infusão, que é quando ingredientes são mergulhados em bebidas como vodka ou gin para dar sabor e aroma, tem sido cada vez mais usada na coquetelaria.
Outro ponto é o ressurgimento da mixologia molecular, que teve seu auge há cerca de dez anos.
Essa técnica aplica princípios científicos, especialmente da gastronomia molecular, no preparo de drinks, explorando reações químicas e físicas para transformar ingredientes e criar experiências sensoriais.
Com ela, é possível, por exemplo, transformar um suco em uma espuma leve, encapsular líquidos em esferas que estouram na boca ou liberar aromas através de vapores perfumados. “Eu gosto muito dessa técnica, apesar de ela ter sido usada demais. Agora, está voltando de um jeito mais interessante e sutil”, comenta Bispo.
O uso de geleias artesanais ou purês de frutas tem ganhado destaque como um elemento funcional e criativo. Esses preparos são usados para dar mais estrutura e profundidade às bebidas, especialmente em coquetéis que buscam texturas diferenciadas.
Diferentemente do xarope simples (mistura de açúcar e água usada para adoçar), a geleia acrescenta corpo, textura e o sabor integral da fruta. “É um componente que funciona quase como um adoçante, mas com a vantagem de adicionar densidade ao coquetel. Dependendo da fruta utilizada, pode também trazer um sabor mais complexo e nuances aromáticas que um xarope simples não conseguiria entregar”, complementa o apresentador do The Next Bartender.
Ingredientes locais em destaque
Neste contexto, a valorização de ingredientes locais é, sem dúvida, uma das grandes tendências da coquetelaria brasileira atual. Para Bispo, essa escolha vai além do sabor. “O Brasil tem uma variedade enorme de frutas, ervas e especiarias. E é muito legal que isso esteja acontecendo como uma escolha consciente, tanto de sabor quanto econômica, já que esses produtos costumam ser mais acessíveis,” comenta.
Entre os ingredientes que mais têm ganhado protagonismo nos bares estão as frutas do cerrado, como cajá e buriti, além do maná-cubiu, fruta amazônica de sabor ácido.
Para muitos bartenders, utilizar insumos regionais é uma forma de agregar valor cultural às criações e fortalecer uma identidade verdadeiramente brasileira nos coquetéis.
Um exemplo dessa conexão com o que é típico é o drink “Mala e Cuia”, que o bartender Alieksey Machinsky, proprietário do Mykola Lab Bar, de Curitiba, apresentou na fase semifinal do Campari Bartender Competition 2025.
O coquetel, que remete ao litoral paranaense, une o amargor do Campari à acidez do maracujá, com mel de cipó uva e uma espuma aromática de cataia com alga kombu. A criação reflete a busca por uma coquetelaria que respeita e celebra as raízes regionais.
Machinsky segue como finalista da competição que revelará o vencedor nacional na segunda-feira (28).
A ascensão dos mocktails
E não tem como falar em tendência sem citar os coquetéis sem álcool, os chamados mocktails, que têm conquistado cada vez mais espaço na coquetelaria. “As pessoas estão bebendo menos álcool por questões de saúde e consciência. Os mocktails deixaram de ser coadjuvantes e viraram uma escolha consciente de muita gente,” avalia Bispo.
Apesar de não conterem álcool, esses drinques exigem um desafio técnico maior, já que precisam entregar complexidade e sabor sem o componente alcoólico. “Para o bartender, criar um mocktail interessante é até mais desafiador do que um coquetel alcoólico,” conta.
Criada pela Bacco Destilados, a Miden é a primeira destilaria zero álcool do Brasil. A marca oferece opções que combinam sabor e sofisticação, como o Italian Spritz Zero, inspirado no tradicional aperitivo italiano, com notas cítricas, amargas, laranja e ervas aromáticas. Já o Alternative Gin Zero traz a complexidade do gin clássico, com zimbro, especiarias e ervas, garantindo versatilidade para drinks como gin tônica ou novas criações autorais.
No The Next Bartender, os competidores, além de criarem uma receita autoral alcóolica para a competição, também precisarão desenvolver um drink sem álcool. O autor ou a autora do mocktail mais votado na disputa também garante uma vaga na final.
O segredo de um bom drink: equilíbrio e… hospitalidade
Para Igor Bispo, o segredo de um bom drinque está no equilíbrio. Seja um coquetel clássico, uma criação autoral ou até um drink sem álcool, todos precisam ter uma harmonia perfeita entre os sabores.
“Um coquetel de qualidade deve fazer com que nenhum ingrediente se sobressaia demais. Nenhum sabor pode gritar mais alto que o outro. Mesmo que você não goste daquele sabor em particular, se o drinque estiver equilibrado, ele vai te conquistar”, explica.
Mas, para ele, o equilíbrio vai muito além da mistura dos ingredientes. Bispo acredita que o domínio técnico e a hospitalidade não podem faltar em um bartender.
“O que eu mais valorizo, seja quando estou visitando um bar, avaliando um profissional para trabalhar comigo ou julgando uma competição, são esses dois aspectos. Primeiro, o bartender precisa ser tecnicamente competente. Conhecer bem cada ingrediente, saber como usá-los, ter criatividade e entender o que está fazendo. Mas o que realmente se destaca é a hospitalidade, o jeito de receber e de cuidar desse cliente”, revela. “Ser um bom anfitrião, que sabe ouvir, entender a demanda e trazer algo que torne a experiência do cliente especial é o grande diferencial”.
A hospitalidade é, para ele, e muitas vezes, o que transforma um drink simples em algo inesquecível. “Se o cliente for bem tratado, até o mais básico vira algo memorável,” afirma.
Coquetelaria autoral: a marca de um bartender
Se receber bem é o grande diferencial de um bartender, um drink com sua assinatura que conquista o público pode ser sua maior marca.
Bispo já assinou diferentes receitas exclusivas. E seguirá assinando. É o que os bons bartenders fazem, segundo ele. Mas ninguém inventa a roda: a maioria das criações não deixam de ser releituras de clássicos como Manhattan, Daiquiri e Negroni e tantos outros.
“Muitos bartenders reinventam esses drinques, colocando um toque novo, uma fruta diferente, uma textura inovadora. Isso é natural no processo criativo”, comenta. E não adianta inventar demais. Técnicas inteligentes e execução simplificada é o que diferencia cada criação.
“Isso não significa que não há trabalho pesado, tempo de preparo etc. Tudo é alquimia e, para algumas coisas, a técnica e o tempo certo são fundamentais. Mas o ideal é fazer o trabalho pesado antes do serviço. Porque, para o cliente, o que vai importar é o sabor e qualidade - com agilidade - é o que vai impressionar”, conta.
Bispo diz que a coquetelaria é um mercado fluido e difícil de prever em termos de tendências. “Existe muita expectativa sobre a próxima grande novidade, mas isso é o que menos importa. O fundamental de qualquer serviço é o foco na qualidade. Depois, claro, a criatividade e, sim, a conexão com o público”, completa.
O próximo grande nome da coquetelaria curitibana
Técnica, talento e ousadia são os componentes da fórmula de um bom drink que, claro, deve sempre trazer os melhores ingredientes. Sabendo servir e conquistando o cliente, ponto: jogo ganho. E esses são os componentes do The Next Bartender, um reality que nasce na esteira do sucesso do The Next Chef, também do Bom Gourmet. Assim como na gastronomia, o objetivo da disputa é revelar quem será o grande nome da coquetelaria de Curitiba em 2025. As inscrições estão abertas pelo formulário oficial.