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Bom Gourmet

Receitas típicas da Lapa

Priscila Bueno, especial para a Gazeta do Povo
10/07/2014 06:00
A coxinha de farofa tem massa semelhante a do pastel e recheio com farinha de milho. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
A coxinha de farofa tem massa semelhante a do pastel e recheio com farinha de milho. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Deitar coalho no leite, um prato fundo com um pouco de banha derretida, deixar algum tempo para a farinha chupar bem o leite. Essas eram algumas das orientações dadas nas antigas receitas de quitutes que fizeram história do tropeirismo.
Tempo em que os sábados eram reservados ao preparo dos pães e sobremesas e que as receitas tinham nomes quase poéticos, como colchão de noiva e amor dos anjos. Alguns desses pratos faziam parte do chamado café com mistura, tema do livro da pesquisadora e historiadora Maria Thereza Brito de Lacerda, e que foi resgatado pela equipe de gastronomia do Senac, em Curitiba.

Salgados

Lúcio Marcelo Chrestenzen, responsável pelo Restaurante-escola do Senac Curitiba, conta que o café– que era servido normalmente às 15 horas – tinha esse nome porque cada convidado trazia um prato para a ocasião. “Era com o intuito de confraternizar”, diz. “O café com mistura difere do colonial cuja ideia é a fartura, os bolos decorados, por exemplo. No café com mistura são bolos mais simples, com destaque para os salgados”, afirma. Um deles é a coxinha de farofa que, conta a lenda, foi criada porque em uma festa havia acabado a massa tradicional para o salgado e os anfitriões usaram outra (semelhante a do pastel).
O pesquisador e tropeirista Márcio Assad lembra que essas iguarias não eram preparadas pelos tropeiros, cuja cozinha tinha como base o charque, mas eram oferecidas nas cidades que recebiam os viajantes. “A minha avó era uma que vendia alguns itens para eles, como rapadura para adoçar o café e banana”, conta.

Simplicidade

Chrestenzen reforça que as receitas eram simples, mesmo porque os ingredientes eram poucos. Geralmente, fubá, araruta e polvilho. “Só depois vieram o chocolate e o queijo.” Porém, eram de qualidade
e em cada local os pratos apresentavam um sabor diferente porque se usavam itens da região. Quanto às bebidas, eram oferecidos café e leite. “O luxo era a gasosa de framboesa. Era o que tinha de melhor”, conta.
O Senac levou cerca de um ano para pesquisar e reeditar as receitas lapeanas, já que algumas delas não eram precisas nas quantidades. O resultado foi um CD disponibilizado aos professores e alunos dos cursos da instituição. “Em alguns eventos particulares, colocamos um ou outro item do café com mistura”, conta Chrestenzen. “Nosso objetivo foi resgatar esse legado porque eram receitas passadas de geração pra geração”, completa.

Um dia como tropeiro

A cidade da Lapa ganhou recentemente um novo roteiro turístico. É o Aprendiz de Tropeiro. São duas modalidades, conforme explica Márcio Assad, responsável pelo roteiro. Para crianças (custa R$ 65 por pessoa), o passeio inclui a apresentação de um vídeo, passeio pelo caminho das tropas, café troupeiro, arroz com charque e a visita a um = acampamento de tropeiro. O roteiro pode ser complementado com o café (por R$ 20) no Hotel Tropeiro ou Pousada Tropeira. Para os adultos, outra opção inclui saída de Curitiba, transporte em van, com café incluso e apresentação musical e custa R$ 150 por pessoa.