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Vá além do sal e limão! Como tomar tequila que nem gente grande
Tequila, disse uma vez um jornalista de viagens do New York Times, “percorreu um longo caminho nos últimos 20 anos. Já passou da moda de tomá-la pura à velha maneira – ou seja colocar uma pitada de sal na língua, chupar uma fatia de limão, fazer uma careta e engolir a tequila”. Ele escreveu isso em 1968. Pelo jeito, a moda ainda continua em alta. As festas universitárias, onde se toma bebida barata em grandes quantidades, perpetua a cultura dos shots.

Mas quando se trata de tequila, convém explicar que existe uma diferença, um tanto complicada, dela para o mescal. Tequila é um tipo de mescal que pode ser produzido apenas no estado mexicano de Jalisco e em poucos outros lugares; é permitido usar apenas agave tequilana e nenhuma outra espécie. Já o mescal pode ser produzido em outros lugares do México e a partir de outras espécies de agave. As diferenças de ingredientes, terroir e processos de produção complicam ainda mais as coisaS. O mescal vendido como tequila geralmente não tem o mesmo gosto do mescal vendido como mescal, e os mescals podem diferir muito um do outro.
Os destilados de agave dividem opiniões. Há quem os odeia porque já encheu a cara e decidiu que todas as tequilas são uma porcaria. E há quem descobriu as tequilas premium. Premium é um termo que confunde, usado pela indústria para se referir às garrafas mais caras, mas que os consumidores entenderam como indicação de bebida “melhor”. Muitas tequilas premium têm embalagens bonitas, garotos-propagandas famosos, se gabam de destilações múltiplas e de serem macias.
Por fim há os nerds da agave. Hoje em dia eles também podem expressar desprezo por tequila, mas por razões diferentes. Com o boom do negócio das tequilas nas décadas passadas, muitos produtores abandonaram suas raízes rústicas, foram engolidos pelas multinacionais e lançaram mão de processos industriais para atender à crescente demanda. Essas mudanças afetaram a tequila. Enquanto algumas grandes e tradicionais marcas ainda existem, muitos produtos tiveram os sabores suavizados ao longo do processo industrial, ao ponto que hoje são desdenhosamente apelidados de “aga-vodcas“.
As tequilas premium afastam muitas pessoas e as aproximas dos mescals. Feitos por pequenos produtores que ainda trabalham como faziam 100 anos atrás, a maioria dos mescals continua sendo hiperlocais, amados por pessoas que valorizam destilados como expressão dos lugares de onde vêm. Enquanto o uso de agave tostado dá um toque defumado, há mescals com sabores variados como pinheiro, queijo, flores e couro.
No México, além de ser servida com sal e limão ou na margarita, a tequila é com frequência servida acompanhada de sangrita, bebida cítrica e com pimentas que às vezes compõe a “bandera” – dose de limão, tequila branca e sangrita, três cores que representam a bandeira mexicana. Há muitas receitas e misturas comerciais – algumas têm molho Worcestershire, muitas têm molho de tomate; versões mais tradicionais puxam para o cítrico e romã.
Em muitos bares de mescal, o destilado é servido puro, diz Megan Barnes, responsável das bebidas do Espita, uma mescaleria em Washington. Nos Estados Unidos, a bebida é servida muitas vezes em veladoras, pequenos copos votivos com uma cruz na base ou em pequenos potes chamados copitas. No México, é geralmente servido na jicara, casca do fruto da cabaça com fatias de laranja e sal de gusano, uma mistura de sal, pimenta e vermes desidratados do agave.
Qual é a maneira correta de tomar esses destilados
Depende realmente do que você quer sentir neles. Se o objetivo é sentir o sabor do destilado, a melhor maneira é tomá-lo puro, diz Suro, dono do restaurante e especialista em tequila. “Meus amigos no México defendem que a maneira tradicional de beber tequila é no caballito [um copinho alto e fino] com limão e sal. Eu pergunto, por que? Qual é a razão de colocá-lo em um copo onde não há absolutamente espaço para respirar? Você elimina praticamente todo o potencial que a boa tequila nos oferece, não só pelo sabor, mas pelas características aromáticas”. A jicara e a copita usados para o mescal, em comparação, têm bocas mais largas que permitem uma maior circulação dos aromas.
E as fatias de laranja e sal de gusano que acompanham o mescal? Ele os considera um petisco delicioso, mas que não tem nada a ver como degustar o destilado. “Quando tomo mescal que vem de um agave que demorou quase 20 anos para se desenvolver e tem centenas de elementos para descobrir, não preciso da distração do limão e do sal de gusano“, afirma.
Para beliscar entre um gole e outro, as fatias de laranja com sal de gusano podem exaltar os sabores do mescal, diz Emma Janzen, autora de “Mezcal: The History, Craft & Cocktails of the World’s Ultimate Artisanal Spirit” (sem tradução em português). “Se você come abacaxi vai exaltar a doçura, a jicama (batata mexicana) vai trazer algo diferente. Se você prova o mesmo mescal com frutas diferentes, terá uma experiência completamente diferente”.
Com sal e limão, com sangrita, com qualquer coisa que você escolher, terá uma linha sutil entre melhorar o sabor do destilado e alterá-lo. Algumas pessoas dizem que limão e sal melhoram o sabor; outras pensam que servem para cobrir o sabor da tequila ruim. Sal de gusano combina bem com muitos mescals, mas pode também inflamar o céu da boca. Por sorte não há um um único jeito de tomar essas bebidas.