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Belo Horizonte tem sua gastronomia reconhecida pela Unesco
Se você perguntar à qualquer turista qual o motivo de vir até Belo Horizonte com certeza ele irá citar a gastronomia como um dos pontos de destaque no roteiro. E é verdade. O potencial turístico de Belo Horizonte está quase todo concentrado em sua comida e as atrações de uma cozinha típica que inclui o seu tempero peculiar bem como a riqueza de ingredientes.
São inúmeros os motivos que despertam o interesse dos visitantes ao incluir a gastronomia como um dos pontos mais avaliados ao sair da cidade. E não só. O mineiro vive sob a justificativa de que, uma vez que o Estado não tem mar, o motivo é ir para o bar – e, assim, mais um título foi criado: Belo Horizonte também tem o apelido de capital mundial dos bares – são impressionantes 9.500 estabelecimentos cadastrados, de acordo com um levantamento feito pela prefeitura, em 2017. Podemos dizer que a cada quilômetro quadrado, há uma média de 28 bares na cidade.
Todos esses dados fortaleceram para que Belo Horizonte recebesse, nesta semana, o reconhecimento de Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco. O reconhecimento internacional foi anunciado pela diretora geral da Unesco, Audrey Azoulay, em Paris. A cidade foi escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e, agora, a capital mineira passa a integrar o seleto grupo de quatro cidades no Brasil reconhecidas mundialmente pela riqueza gastronômica. Além de Belo Horizonte, no país fazem parte da rede as cidades de Florianópolis, Paraty e Belém. Ao redor do mundo, outras 27 cidades integram a Rede de Cidades Criativas.
“Além desse reconhecimento internacional, Belo Horizonte passa a fazer parte de um grupo com mais de 260 cidades, de cerca de 70 países, que estão dispostas a compartilhar ideias e projetos inovadores. A capital mineira também entra no mapa de destinos gastronômicos mundiais, o que atrai turistas de dentro e de fora do país”, acredita Gilberto Castro, presidente da Belotur , Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte que se empenhou em construir uma candidatura sólida para a cidade.
Agora, com o mundo inteiro voltando os olhos para a culinária mineira, chefs e gastrônomos entendem a importância de compartilhar os frutos desse título com a sociedade. Para a chef Mariana Gontijo, do restaurante O Roça Grande, é uma realização compartilhada tanto por moradores quanto por profissionais da gastronomia.
Ela, que é natural de Moema (região Centro-Oeste do estado), insere em sua cozinha referências gastronômicas do Cerrado aqui na cidade com pratos como a coxinha recheada de galinha caipira e a comida de reinado, um PF caprichado feito com tutu de feijão, arroz, macarrão, carne de panela e maionese servido sempre às sextas-feiras.
“É inegável que a cozinha mineira carregue não só ingredientes e nomes de pratos; ela é uma das culturas alimentares mais ricas que conheço. Belo Horizonte é uma reunião de todas as ‘Minas’ e todas a ‘Gerais’, ela é múltipla”, acredita ela. “Esse título também me traz uma importante reflexo. É preciso saber colher os frutos dessa nomeação como uma forma de promover e compartilhar com a sociedade a nossa cultura alimentar, com a produção de uma comida boa, justa, limpa e democrática. Isso pode também promover a nossa sensação de pertencimento a nossa cultura e abandonar, de vez, o colonialismo. É preciso ter orgulho, de fato, de onde nós pertencemos”, reflete.
“Estou muito feliz com o título da Unesco e vejo a importância disso para promover trocas em nossa cidade, atrair investimentos e eventos que podem ser viabilizados com mais facilidade”, acredita o chef Leo Paixão, dono dos estabelecimentos Glouton, Nicolau Bar da Esquina e Nico Sanduíches, e, agora, um dos três mentores do “Mestre do Sabor”, reality gastronômico da TV Globo.
O chef e gastrônomo Eduardo Maya, realizador do projeto reconhecido em BH por valorizar a cultura mineira e por impulsionar negócios regionais, vislumbra o título como uma oportunidade de turismo e compara os próximos passos semelhantes como o que aconteceu no Peru, que se tornou um dos maiores destinos gastronômicos do mundo por conta de políticas públicas.
“Acredito que a gastronomia é um dos pilares do turismo mundial e uma das maiores formas de expressão de um povo. Esse reconhecimento aumenta as nossas responsabilidades mas também as oportunidades voltados aos negócios de turismos gastronômicos”, acredita.
Entenda o processo da votação
O título considerou dossiê elaborado pela Belotur, com colaboração de empresários, chefs e entidades e órgãos ligados à gastronomia do estado em cerca de um ano e meio – o processo começou em abril de 2018. Em seguida, a Belotur concorreu em um edital do então Ministério da Cultura, que concedeu uma consultoria para a elaboração do dossiê de candidatura a ser entregue ao órgão internacional.
Das 24 cidades inscritas no edital, Belo Horizonte ficou em 5º lugar e foi contemplada ao lado de mais 14 municípios. A notícia do endosso veio em 27 de junho quando a cidade passou a concorrer, oficialmente, a duas vagas na Rede de Cidades Criativas da Unesco, ao lado de mais três cidades: Aracaju (SE), no campo criativo da Música, Cataguases (MG), pelo Cinema, e Fortaleza (CE), por Design e Moda.
“A candidatura foi um processo conduzido a muitas mãos. Reunimos tudo o que faz de Belo Horizonte uma cidade criativa da gastronomia. As feiras, restaurantes, chefs renomados, a tradição e o nosso jeito de receber. A partir dessa reunião, foi desenhado também um plano estratégico para o setor, contemplando políticas públicas inovadoras, estudos, projetos de capacitação, ações de promoção turística, tendo como objetivo a geração de renda, emprego e desenvolvimento econômico e sustentável”, explicou Gilberto Castro, presidente da Belotur.
O próximo passo não precisa nem de especialização em futurologia para saber que essa ascensão internacional é irreversível. A cidade planeja, ainda mais, harmonizar os seus pontos turísticos bem como sua paisagem montanhosa com uma imersão como o que há de melhor da culinária mineira.
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