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“África do Sul não é só pinotage”
Graduada pela Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, com pós-graduação em viticultura e enologia, a sul-africana Andrea Freeborough é mestre de cave da reconhecida vinícola Nederburg, localizada em Paarl, a cerca de 60 quilômetros da Cidade do Cabo, onde já havia trabalhado até 2005. Entre 2005 e 2015 comandou a vinícola Bergkelder, responsável por vinhos famosos como Fleur du Cap e Lomond.
Hoje, de volta à Nederburg, Freeborough pretende expandir a presença dos vinhos sul-africanos no Brasil. “Assim como a África do Sul, o Brasil é uma fusão de muitas influências culturais e combina a cozinha europeia com os sabores asiáticos e africanos”, disse em maio, quando esteve no Brasil pela primeira vez. Ela veio conhecer melhor o mercado de Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Na capital do Paraná promoveu um jantar harmonizado no restaurante Bobardí.
Quais são seus planos para os próximos anos à frente da Nederburg?
Somos uma companhia grande, com um departamento de marketing muito forte, e para tomar decisões precisamos de muita pesquisa, mas eu pretendo trazer inovação e sugestões para desenvolver novos produtos. Atualmente estamos no processo de incluir novos blends de brancos no nosso portfolio. Outro projeto, em linha com a tendência mundial, é fazer um rosé de estilo mais leve e de cor mais clara. Estamos sempre buscando a inovação.
Você prefere fazer brancos ou tintos?
É muito difícil responder, é igual me perguntar qual dos meus filhos eu prefiro (risos). Ambos têm desafios e ambos dão grandes recompensam. Os tintos são um pouco mais fáceis de fazer no sentido que precisam de um cuidado um pouco menor no processo de produção, já os brancos são levemente mais difíceis porque são mais delicados.
E para beber?
Depende da ocasião: os brancos vão bem com sushi e são perfeitos no verão; para o inverno prefiro os tintos mais complexos e com estrutura maior.
Quais são as melhores regiões vinícolas da África do Sul?
Varia enormemente. Temos regiões que recebem brisa marinha que são muito boas para Sauvignon Blanc. Temos também regiões que fazem excepcionais variedades de tintos. Tudo depende de solo, clima, e muitos outros fatores que desempenham o papel.
Quais são as melhores castas produzidas na África do Sul? O terroir é mais adequado para tintos ou brancos?
A Pinotage [blend de Pinot Noir e Hermitage] é uma variedade única, mas não somos conhecidos só por ela, temos outras castas soberbas: as excepcionais Sauvignon Blanc e Chenin Blanc, a Shiraz produzida nas regiões mais quentes é grandiosa, temos um Chardonnay fabuloso. Temos também algumas castas mediterrâneas e italianas como Sangiovese, Nebbiolo e Barbera.
Como é a produção na Nederburg?
Nossa vinícola fica em Paarl, a cerca de 60 quilômetros da Cidade do Cabo. Temos nossos vinhedos, mas também compramos uvas de outros vinícolas da região. Para isso temos um viticultor que procura as melhores uvas dos outros produtores. Produzimos anualmente entre 18 mil e 21 mil litros.
Como você define os vinhos da Nederburg?
Apostamos em vinhos frescos e frutados bem balanceados, e não muito envelhecidos em carvalho. São ideais para pessoas que acabaram de começar a tomar vinhos. Mas temos também vinhos mais estruturados e complexos para atingir todos os paladares. Muitos dos nossos vinhos são aromáticos e harmonizam com especiarias como gengibre, coentro, cominho, entre outros. Outros são generosos e vão bem com pratos robustos. Ou seja, estou confiante que temos uma diversidade de vinhos suficiente para atender as várias expressões da culinária brasileira.
Como é trabalhar numa profissão dominada por homens?
Hoje a situação está mudando e cada vez mais mulheres enólogas estão aparecendo. Ainda é uma profissão principalmente para homens, mas quando comecei 20 anos atrás éramos bem menos do que hoje.