Thumbnail

Pessoas

Chefs contam que sofreram machismo na cozinha

Priscila Bueno, especial para a Gazeta do Povo
12/12/2016 23:46
Comentários pesados contra Dayse Paparoto, única participante mulher na reta final do MasterChef Profissionais (exibido pela Band), que vai ao ar manhã (13), dominaram boa parte dos episódios e geraram muita polêmica ao longo dos programas. Porém, longe das câmeras, essa é uma realidade vivida por muitas cozinheiras e que veio à tona agora.
A chef Rosane Radecki, do restaurante Girassol (em Palmeira, próximo a Curitiba) resume o panorama em uma frase: “Mulher na cozinha é vista como uma obrigação. Para os homens é a escolha de uma profissão, dá status”. Mas este pensamento, segundo ela, não deveria refletir a realidade atual, pois há algum tempo as mulheres são grande parte dentre das cozinhas de restaurantes. Ela conta que no restaurante a maior parte da equipe da cozinha é justamente de mulheres.
Cenas vividas por Dayse também ocorreram com muitas chef de todo o Brasil. Em alguns episódios a finalista foi ignorada, em outro mandada “varrer o chão”. No último, terça-feira (6), colocada para escanteio pelo outro finalista, Marcelo, que gritou após a saída de Dário Costa que ia ser campeão.
A chef Eva dos Santos, comandante dos restaurantes do Grupo Victor, também conta que já passou por situações delicadas. Ela foi a primeira mulher a assumir o fogão de um dos restaurante mais prestigiados de Curitiba na década de 90. No restaurante curitibano, alguns colegas a queriam derrubar a todo o momento. “Eles jogavam os meus caldos fora e desmontavam o meu mis en place. Isso não acontecia com os colegas homens”.
Eva também relata que passou por saias-justas fora do país. “Quando fui fazer um estágio em um restaurante da Europa, eu pedi para o chef me colocar no fogão, ele concordou mas disse que se eu chorasse ou fizesse corpo mole, me tiraria da função”, disse. Atualmente ela comanda uma equipe com cinco homens e doze mulheres.
Dayse foi alvo de muitos comentários machistas. Foto: Comunicação Band/ Divulgação
Dayse foi alvo de muitos comentários machistas. Foto: Comunicação Band/ Divulgação
A chef Joy Perine, professora na Opet e na Espaço Gourmet Escola de Gastronomia, que viajou os quatro cantos do mundo há dois anos, viveu situações semelhantes. “Na Itália, Marrocos e Japão eles são muito machistas. Dois chefs que eu encontrei na viagem não acreditavam que eu, uma mulher, comandava a cozinha de um restaurante”, conta. Ela recorda que já escutou muitos comentários em tom de brincadeira. “Mas, algumas passavam do limite. É uma constante”, diz ela que comandou por mais de uma década o extinto restaurante Zea Mais, cuja cozinha era 100% formada por mulheres.
Eva dos Santos, Joy Perine e Rosane Radecki, juntamente com Gabriela Carvalho, formam o grupo As Poderosas.
Eva dos Santos, Joy Perine e Rosane Radecki, juntamente com Gabriela Carvalho, formam o grupo As Poderosas.
Chef Gabriela Carvalho dando um aula show.
Chef Gabriela Carvalho dando um aula show.
Chef Gabriela Carvalho: “já tivemos momentos bem piores”.
A chef Gabriela Carvalho, do Quintana Gastronomia, faz um alerta. Ela diz que o preconceito é uma realidade, “por mais que não seja tão falado”. Ela comenta, no entanto, que a situação já foi bem pior. Para a chef, as mulheres estão ficando mais independentes, se tornando donas de restaurantes, comandantes de cozinhas, se posicionando mais e construindo uma nova realidade.
Rosane, Joy, Eva e Gabriela se uniram recentemente no grupo chamado ‘As poderosas’. O objetivo é mostrar que as mulheres podem sim comandar a cozinha de grandes restaurantes. O grupo acredita ainda que a formação desse grupo pode até a ajudar a dar uma “visão mais forte” e “com personalidade” para a gastronomia paranaense, além de atrair mais mulheres para a profissão.