Pessoas
Chefs contam que sofreram machismo na cozinha
Comentários pesados contra Dayse Paparoto, única participante mulher na reta final do MasterChef Profissionais (exibido pela Band), que vai ao ar manhã (13), dominaram boa parte dos episódios e geraram muita polêmica ao longo dos programas. Porém, longe das câmeras, essa é uma realidade vivida por muitas cozinheiras e que veio à tona agora.
A chef Rosane Radecki, do restaurante Girassol (em Palmeira, próximo a Curitiba) resume o panorama em uma frase: “Mulher na cozinha é vista como uma obrigação. Para os homens é a escolha de uma profissão, dá status”. Mas este pensamento, segundo ela, não deveria refletir a realidade atual, pois há algum tempo as mulheres são grande parte dentre das cozinhas de restaurantes. Ela conta que no restaurante a maior parte da equipe da cozinha é justamente de mulheres.
Cenas vividas por Dayse também ocorreram com muitas chef de todo o Brasil. Em alguns episódios a finalista foi ignorada, em outro mandada “varrer o chão”. No último, terça-feira (6), colocada para escanteio pelo outro finalista, Marcelo, que gritou após a saída de Dário Costa que ia ser campeão.
A chef Eva dos Santos, comandante dos restaurantes do Grupo Victor, também conta que já passou por situações delicadas. Ela foi a primeira mulher a assumir o fogão de um dos restaurante mais prestigiados de Curitiba na década de 90. No restaurante curitibano, alguns colegas a queriam derrubar a todo o momento. “Eles jogavam os meus caldos fora e desmontavam o meu mis en place. Isso não acontecia com os colegas homens”.
Eva também relata que passou por saias-justas fora do país. “Quando fui fazer um estágio em um restaurante da Europa, eu pedi para o chef me colocar no fogão, ele concordou mas disse que se eu chorasse ou fizesse corpo mole, me tiraria da função”, disse. Atualmente ela comanda uma equipe com cinco homens e doze mulheres.
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A chef Joy Perine, professora na Opet e na Espaço Gourmet Escola de Gastronomia, que viajou os quatro cantos do mundo há dois anos, viveu situações semelhantes. “Na Itália, Marrocos e Japão eles são muito machistas. Dois chefs que eu encontrei na viagem não acreditavam que eu, uma mulher, comandava a cozinha de um restaurante”, conta. Ela recorda que já escutou muitos comentários em tom de brincadeira. “Mas, algumas passavam do limite. É uma constante”, diz ela que comandou por mais de uma década o extinto restaurante Zea Mais, cuja cozinha era 100% formada por mulheres.
Chef Gabriela Carvalho: “já tivemos momentos bem piores”.
A chef Gabriela Carvalho, do Quintana Gastronomia, faz um alerta. Ela diz que o preconceito é uma realidade, “por mais que não seja tão falado”. Ela comenta, no entanto, que a situação já foi bem pior. Para a chef, as mulheres estão ficando mais independentes, se tornando donas de restaurantes, comandantes de cozinhas, se posicionando mais e construindo uma nova realidade.
Rosane, Joy, Eva e Gabriela se uniram recentemente no grupo chamado ‘As poderosas’. O objetivo é mostrar que as mulheres podem sim comandar a cozinha de grandes restaurantes. O grupo acredita ainda que a formação desse grupo pode até a ajudar a dar uma “visão mais forte” e “com personalidade” para a gastronomia paranaense, além de atrair mais mulheres para a profissão.