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Jovens chefs brasileiros já podem se inscrever no concurso que vai eleger o melhor do mundo
Os concursos são atalhos para quem quer se destacar no mundo da gastronomia, por conta da enorme visibilidade que este tipo de evento alcança no mundo todo. Mas é preciso, claro, ter talento e muita disposição. Os brasileiros que reúnem essas duas características, para começar, têm uma grande chance à vista. Estão abertas as inscrições do S. Pellegrino Young Chef 2016, concurso promovido pela água com gás S. Pelegrino e que vai eleger o melhor jovem chef do mundo. As inscrições vão até 31 de março.
Os candidatos devem ter menos de 30 anos e precisam estar empregados em um restaurante atuando como chefs, sous-chefs ou chefs de partie (responsável pelas entradas) há pelo menos um ano. Os participantes devem cadastrar uma receita autoral de prato de entrada, principal ou sobremesa. As inscrições podem ser feitas no site do Fine Dining Lovers.
Os chefs inscritos terão suas receitas avaliadas e os vencedores vão participar de seletivas regionais. A etapa brasileira vai acontecer em maio, no Chile. Nesta fase, o chef Rodrigo Oliveira, que comanda a cozinha do premiado Mocotó, em São Paulo, faz parte do júri. Ele e a chefs Roberta Sudbrack, eleita a melhor chef mulher da América Latina pelo Prêmio Veuve Clicquot Best Female, são os únicos brasileiros no júri. Sobre o concurso e seus novos projetos, Rodrigo Oliveira falou com exclusividade ao Bom Gourmet. Acompanhe a entrevista.
Como surgiu o convite para ser jurado do S. Pellegrino Young Chef 2016?
Recebi o convite do Mateus Godoy (San Pellegrino), já conhecido de longa data. E foi irrecusável! Estar no Chile ao lado de grandes amigos e incentivando uma nova geração de chefes é um grande privilégio.
Como chef experiente o que você indica para os concorrentes?
Manter a calma e apresentar a sua verdade, pensar que, de certo modo, seus pratos devem expressar sua história, seu chão, sua base — no sentido familiar, cultural, intelectual. É importante que se reconheça de alguma forma a origem e a trajetória dos candidatos por meio dos seus pratos. Assim eles estarão praticando a cozinha que marca, que tem expressão e não apenas exibindo técnicas, que podem ser adquiridas em vários lugares.
Quais aptidões eles precisam ter? Basta gostar de cozinhar para participar de um concurso?
O sucesso na cozinha vem da combinação e equilíbrio de alguns ingredientes. Talento, paixão, resiliência, ousadia e perseverança são só alguns deles. O modo e a frequência com que você combina esses elementos, temperados com sua curiosidade, leitura e aquisição de conhecimento fora do nosso mercado — e aqui falo de literatura, música, teatro, poesia, ciências, por aí — vai determinar sua marca, sua assinatura não apenas neste concurso, mas na profissão, vida afora.
Qual critério de avaliação pesa mais em um concurso como esse?
Individualmente, quesitos como conceito, apresentação e sabor são avaliados tecnicamente, mas no final é o conjunto da obra que determina o vencedor.
Como você avalia o mercado de gastronomia brasileira na última década?
Acho que vem passando por uma saudável turbulência, sinais claros de seu bem-vindo amadurecimento. Muita gente chegando, muita gente perdendo espaço que julgava garantido, enfim, esta fricção que traz o novo, o original, o autêntico que é a marca, no final das contas, de nossa cozinha, e que tem encantado gente de todas as partes do mundo. Estamos ainda engatinhando no negócio, mas, como uma criança esperta, iremos longe, muito longe.
Considerando essa avaliação, quais os caminhos a serem seguidos, tanto para empresários como para consumidores?
Praticar a verdade, e penso nisso sempre num espectro amplo. Pensar em toda a cadeia produtiva, em todas as pessoas que dependem de sua atuação, ou seja, colocar-se no lugar de cada um deles, em todo o tempo. Dessa forma sua empatia transforma-se em retorno e ganhos para todos.
Você acaba de inaugurar o Mocotó Café, qual a proposta do local e porque prefere diversificar os seus empreendimentos?
Na verdade o Café Mocotó partiu de um convite de Alex Atala e seu instituto ATA, que tem um projeto amplo e consistente na área da alimentação no país, e no caso particular do Mercado de Pinheiros, mais conhecido como “o mercadinho” tem como ponta de lança alguns produtores de matéria-prima e alguns transformadores, entre os quais temos a honra de estar incluídos. Assim nasceu a ideia. Como recusar um convite do mestre Atala? Nossa resposta, no espaço que nos foi destinado, foi levar um pedacinho de nosso chão para a cidade grande, como brincamos aqui na periferia, oferecendo aos amigos da redondeza alguns de nossos melhores momentos aqui do Mocotó.
Como você define seu momento atual profissionalmente?
Acho que desafio é a palavra. Aqui em nossos restaurantes temos uma ideia que se tornou um verdadeiro mantra, que é fazer melhor hoje o que fizemos de bom ontem. Como dizia a empresária Elizabeth Arden, “repetition makes reputation“. Isso em nosso negócio é uma grande verdade. Não basta acertar, é preciso codificar. Depois, melhorar, crescer, surpreender. Você precisa, penso que em qualquer profissão, se desafiar continuamente, e quando você ficar gratamente surpreso com o resultado de seu trabalho, de sua equipe, então você saberá que estará no caminho. Pelo menos por hoje.
E pessoalmente, quais projetos está desenvolvendo no momento?
Tenho um grande e, talvez o mais desafiador de todos, que é arrumar tempo para minha família. Tenho minha mulher, Ligia e três filhas – uma agora com apenas 2 meses de vida, e que sei que para crescerem bem, e se tornarem pessoas felizes e plenas precisarão do apoio de um casal, meu e de minha mulher. Esse talvez seja o maior dos desafios e planos para este momento. Claro que junto com isso, vem o ganho geral de qualidade: tempo para praticar os esportes que venho adiando, para o jiu-jitsu, pedalar mais, fazer trilhas, enfim, cuidar do corpo, para dar o suporte necessário para um espírito saudável.