Pessoas
Celso Freire e a filha Gabriela dividem DNA e trabalho
Ela nasceu pouco antes que o icônico Boulevard e meia dúzia de anos depois já saçaricava pela área de pâtisserie modelando massa de biscoito e trancando os funcionários na câmara fria. “A Gabriela aprendeu a andar pelo salão do restaurante, se segurando nos garçons”, rememora o pai Celso Freire, o chef responsável por abrir o primeiro restaurante de alta gastronomia contemporânea em Curitiba. Um à la carte de porções pequenas com um leque de ingredientes e apresentações que aportavam pela primeira vez na capital paranaense. Como coelho assado na cerveja preta com quirerinha da Lapa, para ficar em um exemplo.
Celso abriu o caminho para a maior parte dos chefs que vieram logo depois – alguns o definem como uma figura paternal. “Muita gente passou por ele, a Eva dos Santos, a Joy Perine, o Hermes Custódio, o Ricardo Filizola, a Kika Marder. O Celso era uma referência, todo mundo que trabalhasse com ele, três meses que fossem, saía com noção de técnica, apresentação de prato, coisas que você só aprende vendo a correria e as comandas penduradas na parte de dentro de uma cozinha”, diz Luiz Augusto Xavier, autor do blog Panela do Anacreon do Bom Gourmet. Celso não seria diferente com a própria filha.
Gabriela veio ao mundo em 28 de maio de 1991, exatos 199 dias antes do Boulevard, que abriu as portas em dezembro. “Com dois anos de idade ela pedia por suco de tomate. Todas as crianças querendo comer batata frita e ela queria pistache”, conta Cristiane Nickel Freire, a mãe. Depois de quase 20 anos, o Boulevard deu lugar ao Guega, um restaurante em que as porções eram fartas – voltam as travessas à mesa – e o Celso, o mesmo. “Ele adora cozinhar e agradar as pessoas. Percebi isto bem em uma noite no Guega. Na mesa ao lado tinha uma família com dois filhos pré-adolescentes que não quiseram comer. O Celso foi até a mesa e perguntou: ‘Se eu fizer um bolinho com esse arroz, vocês comem?’ E comeram que nem loucos”, lembra Xavier.
Nesta época, Gabriela preparava as massas frescas no Guega e estudava gastronomia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, depois de um ano cursando Direito. “Percebi durante o estágio que não queria passar o dia atrás do computador”, confessou. As panelas a chamavam. “Eu tinha certeza de que ela tinha o dom, mas sei que isso não significa trabalhar na área. Sempre a deixei livre para escolher e fiquei tranquilo porque ela saberia desfrutar de uma boa refeição”, elogia o pai.
O Guega fechou em 2011 e, mesmo sendo sócio do Zea Maïs, Celso ficou sem a rotina da cozinha profissional até julho do ano passado, quando abriu o Espaço Celso Freire de Gastronomia no terreno que foi a chácara da avó de Cristiane. Neste intervalo, Gabriela fez um curso de panificação com Laurent Suaudeau, que foi mestre de Celso no início de sua carreira e depois foi à Suíça estudar na escola Cesar Ritz por seis meses. “Lá eu não era ‘a filha do Celso’. Ninguém leva uma mulher jovem a sério e tive que me impor, provar que eu tinha conhecimento”, disse. “Eu nunca acobertei e também não alivio só porque é minha filha. A Suíça foi para a Gabriela o que o Laurent foi pra mim”, garante o chef.
A primogênita hoje é sua colega de trabalho. Lado a lado, pai e filha realizam eventos corporativos, casamentos, aniversários, recepções, montam cardápios e estudam livros juntos, treinam equipes para o trabalho na cozinha ou para novas tecnologias. Gabriela está mais para a organização com suas listas de tarefas e Celso, para a barriga no fogão e análise de tudo o que já viu em 51 anos de vida. “Ela está muito conectada com o que é novo, sabe de procedimentos e coloca ordem na cozinha. O Celso foi autodidata e ela aprende com ele as bases, os molhos, técnicas de cozinha”, conta Cristiane.
A primogênita hoje é sua colega de trabalho. Lado a lado, pai e filha realizam eventos corporativos, casamentos, aniversários, recepções, montam cardápios e estudam livros juntos, treinam equipes para o trabalho na cozinha ou para novas tecnologias. Gabriela está mais para a organização com suas listas de tarefas e Celso, para a barriga no fogão e análise de tudo o que já viu em 51 anos de vida. “Ela está muito conectada com o que é novo, sabe de procedimentos e coloca ordem na cozinha. O Celso foi autodidata e ela aprende com ele as bases, os molhos, técnicas de cozinha”, conta Cristiane.
A dupla é parecida na atenção aos detalhes (até o prato do almoço mais trivial conta com uma apresentação impecável) e também na fisionomia, na personalidade e no gosto desde cedo pela cozinha. Celso às voltas com Guega, a cozinheira dos Freire em sua infância em Colombo, e Gabriela vivendo os bastidores do Boulevard desde que se entende por gente. “Eles se completam”, diz Xavier.