Mercado e Setor
De drink em casa à marmita de chef premiada: como os estabelecimentos se adaptam à crise
A versatilidade é uma característica comum ao setor de gastronomia e um recurso valioso em tempos de crise. Com a escalada do novo coronavírus no Brasil, muitos negócios do segmento precisaram se reinventar do dia para a noite: surgiram deliveries de coqueteis, "concorrentes" se unindo; buffets por quilo com marmitas tamanho família e restaurantes de alta cozinha que trocaram seu cardápio de jantar à la carte para uma versão enxuta de almoço para entrega, com sanduíches e pratos feitos.
Um desses restaurantes é o Manu, da premiada chef Manu Buffara. O salão do restaurante, enquanto não há a possibilidade de voltar com o menu degustação no período do jantar, virou uma sala de descanso para os funcionários. Na terça (23), o restaurante lançou o cardápio Manu em Casa, entregue nas redondezas do bairro Batel. "Montamos marmitas com bastante verde e grãos orgânicos, para que os pequenos produtores não parem nesse momento. Uma vez por semana vamos trazer verduras da Horta dos Chefs, a farinha de trigo estamos pegando com o Lucca Cafés Especiais", relata a chef.
Os pratos principais são individuais e vão de R$ 50 a R$ 70 – estão na lista coxa de frango glaceada com missô e batatas assadas, fraldinha acebolada com mandioca e farofa de feijão; e também picadinho com arroz, feijão manteiguinha, farofa de cebola, couve refogada e ovo frito. A ideia é que a experiência de receber em casa seja tão surpreendente quanto os preparos servidos em cerâmica no salão do Manu. "Mandamos um bilhetinho de agradecimento com o nome da pessoa e um QR Code para acessar a playlist do restaurante", detalha Manu.
Operação similar foi feita no K.SA Restaurante, da chef Claudia Krauspenhar. O restaurante à la carte no jantar passou a servir pratos executivos por delivery no almoço (R$ 39,90, individual), que vai de parmegiana de mignon à torta de frango, todos acompanhados de saladinha. "Reativamos o cardápio de almoço executivo que tínhamos na época do Vin Bistrô e no jantar entregamos os mesmos pratos do cardápio do K.SA. Temos tournedos de mignon, que gera bastante aparas, então no almoço tem estrogonofe, picadinho e parmegiana de mignon", exemplifica a chef.
Do buffet à marmita
Se a comida do dia a dia é a aposta de chefs de trabalho autoral, quem serve o arroz e feijão do dia a dia precisou adaptar o serviço. Buffets por quilo diminuíram a variedade preparada por dia e mantiveram os pratos mais queridos dos clientes.
Na Vila Izabel, a Casa da Esquina serve um prato por dia, todos à base de arroz e feijão. Há porções individuais (R$ 19,90) ou tamanho família (R$ 59,90, serve quatro pessoas), entregues pelo iFood para Curitiba ou pelos próprios funcionários para endereços no bairro, de segunda a segunda. Às quintas, por exemplo, a marmita vem com arroz, feijão carioca, penne ao molho Alfredo, abóbora cabotiá assada, sobrecoxa de frango assada e salada mista.

O chef e professor de gastronomia Aguinaldo Monteiro paralisou as atividades de seu catering e passou a trabalhar no restaurante de sua mãe, o Pimenta Rosa, um buffet livre que funciona dentro da Associação de Servidores Públicos do Paraná, no bairro Santa Quitéria. Se antes eram 20 pratos no buffet e mais de 250 pessoas atendidas em dias de semana, no último domingo foram apenas três. "Costumávamos atender 350 pessoas no fim de semana. O delivery foi uma opção para diminuir o estoque e não ter perda com perecíveis e também continuar atendendo alguns clientes habituais que não puderam parar", explica Monteiro.
Há dez anos no Centro de Curitiba, o Sale e Pepe também precisou se adaptar. "Tivemos uma queda significativa, chegando a 50% do movimento", relata Eder Fernandes, proprietário. No final de semana do dia 21, ele e a chef Mayara Ueda, "desmontaram" o estoque para planejar cardápios com três opções de almoço executivo por dia. O prato sai a R$ 24,90 e vem com uma salada de entrada e uma sobremesa de cortesia.
Bar em casa
O bar Mykola, aberto no final de 2019 no Centro de Curitiba, começou a entregar drinks em casa desde sábado (21). "Era um modelo de negócio que já tínhamos pensado antes da crise, mas que não havíamos executado ainda", conta Alieksey Machinski, proprietário e bartender do Mykola Bar. São cinco drinks na carta para delivery, incluindo bloody mary e gin tônica, com volumes que rendem no mínimo três coquetéis.
Os preços vão de R$ 70 (três negronis) a R$ 110 (cinco bloody maries). O valor inclui o frete, as doses de bebidas alcoólicas e mixers (como água tônica), guarnições (casca de laranja, por exemplo) e também o gelo cristalino, feito pela Glazzice. Junto do kit vai uma foto do drink, um guia de como preparar e um cartão de agradecimento. "A gente queria que a experiência seguisse um pouco do que é estar no bar, inclusive com o mesmo gelo", conta Alieksey.

No Ginger Bar, os drinks são embalados em garrafinhas retornáveis, que valem desconto no próximo pedido do cliente. A carta muda semanalmente, com cerca de seis drinks por vez. Os preços na primeira semana iam de R$ 23 a R$ 70, com garrafas de uma, duas ou três doses e o valor inclui gelo e guarnição. O modelo permite a distribuição por delivery próprio e também parceiros. O Cosmos Gastrobar, por exemplo, incluiu os drinks do Ginger como opções em seu cardápio do iFood.
Pedidos no carro
Lanchonetes, confeitarias e cafeterias resgataram o atendimento de drive-in, em que o cliente estaciona e faz o pedido no carro, ou incluíram o atendimento por drive thru, como a Cookie Stories e as unidades da rede Kharina. A panificadora Brioche adotou o pedido por WhatsApp e a entrega pode ser feita no estacionamento ou no balcão. O próximo passo, segundo o proprietário Jefferson Miara, é implantar uma loja virtual com os produtos da panificação e confeitaria.
Confira outros negócios em gastronomia que mudaram seu produto ou serviço temporariamente por causa do novo coronavírus:
Vindouro
Além do cardápio especial para delivery ou para retirada no balcão, o restauraurante Vindouro está fazendo promoção da carta de vinhos. Dá desconto de até 30% em tintos e brancos.
Bella Banoffi e Cantina do Délio
O funcionamento da confeitaria e restaurante foi adaptado para cobrir um pequeno cardápio de massas, disponível para delivery ou retirada no balcão. São duas opções de massas: espaguete (quatro opções de molho à escolha) e lasanha (três sabores à escolha) e, opcional, mignon ou polpetone para acompanhar o espaguete. Os pratos são individuais. De sobremesa, fatias de torta Banoffi, alemã ou Truffi, ou estrogonofe de nozes, tiramisù ou mousse.
OX Room Steakhouse
O restaurante especializado em carnes tem pratos individuais ou para duas pessoas, a depender do corte: miolo de alcatra na parrilla e bife de chorizo, por exemplo, são individuais, enquanto a costela defumada serve duas pessoas. Há também cortes que servem até cinco pessoas, como o t-bone, top sirloin e flank steak, todos Angus. Para retirada no balcão ou delivery.
Terrazza 40
O restaurante panorâmico lançou uma loja on-line em seu site para quem quiser pedir uma refeição pronta ou massas congeladas (a partir de R$ 5, ninho de fettuccine) para preparar em casa. O delivery próprio funciona todos os dias da semana a partir das 18h e os pratos servem duas pessoas (a partir de R$ 82,50). Estão disponíveis para delivery parte da carta de espumantes e vinhos e também as sobremesas.
Sushiaki Ecoville

Fechados para atendimento presencial, o restaurante de sushi lançou uma promoção em parceria com o Mestre-Cervejeiro. Quem for ao bar e fizer um pedido pelo aplicativo do Sushiaki usando um código promocional disponibilizado no local não paga a taxa de entrega.