Mercado e Setor
Cerveja artesanal independente: os aprendizados do caso Backer
Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), exclusivo para o Bom Gourmet
29/01/2020 13:03
Em 2019, o mercado da cerveja artesanal independente no Brasil teve várias conquistas. O espaço de prateleira dedicado aos nossos produtos foi um dos mais marcantes. A chegada à milésima fábrica, com um crescimento de quase 150% no número de cervejarias em cinco anos também mostra esse potencial: em 2015, eram 356 plantas industriais dedicadas à bebida e, de lá pra cá, a expansão ocorreu de forma descentralizada e hoje estamos em todos os estados brasileiros.

Quando, no início de 2020, fomos surpreendidos por um caso de contaminação por dietilenoglicol na Backer, em Minas Gerais, houve quem questionasse esse novo patamar que o setor está alcançando no Brasil. Antes de mais nada, é necessário reforçar: esse caso globalmente isolado não representa, nem representará, uma crise sistêmica no segmento.
O caso da contaminação em Minas Gerais, que ainda está sendo investigado, trouxe lições importantes para o setor sobre a revisão de processos. Temos que aprender com isso. Mas trouxe para o debate pontos mais profundos para conversas que antes ficavam superficiais ou restritas a “puro malte” ou “cerveja especial”.
A cadeia da cerveja artesanal independente no Brasil é muito séria, respeitada mundo afora e tem motivos para crescer ainda mais. E é isso que vai acontecer se o consumidor quiser saber mais sobre o setor, independentemente de onde venha a motivação para isso.
A qualidade das cervejas produzidas no Brasil é reconhecida em todo o mundo e esse momento do nosso segmento chama a atenção de marcas e estudiosos desse mercado. Até pouco tempo, concursos longevos que premiam os melhores rótulos do mundo desconheciam a cerveja brasileira. Hoje, é comum que marcas daqui estejam no pódio dessas competições.
Os critérios legais para a abertura de uma fábrica de cerveja no Brasil são comparáveis aos mais rigorosos do globo. Uma cervejaria passa por todas as inspeções e acompanhamento dos órgãos vigentes tal qual qualquer outra indústria de alimentos.
Um mercado extremamente qualificado e especializado se desenvolveu para a criação de equipamentos de ponta para a indústria cervejeira nacional. Uma tecnologia que começa a ser exportada para a América Latina, tamanho o grau de qualidade.
O desenvolvimento de novos maltes e com características próprias, além dos primeiros testes com a produção de lúpulo, apontam uma preocupação com todos os ingredientes que compõem a cadeia cervejeira. A visibilidade e expansão na produção do estilo Catharina Sour, criado no Brasil e que conta com adição de frutas e especiarias, mostra para o mundo a riqueza sensorial que produzimos aqui e que também se expressa através da cerveja.