Pense nos sabores originais do Paraná. Com certeza passará por sua cabeça um delicioso barreado, seguido de uma balinha de banana acompanhada de um bom café. Ou talvez tenha vindo à sua memória olfativa o aroma da erva-mate. Pois bem, todos esses produtos carregam o selo de Indicação Geográfica (IG) -- alimentos e pratos tradicionais de uma região que foram validados a partir de sua originalidade e reputação.

Pratos e insumos com selo de Indicação Geográfica (IG) do Paraná e um de Santa Catarina servirão como bússola para a expedição do projeto Mapa da Cultura Alimentar. Uma realização da Montenegro Produções, a iniciativa conta com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, e vai mergulhar na história de quem mantém viva a tradição alimentar.

Segundo a idealizadora do projeto, Carolina Montenegro, o grande objetivo do Mapa é validar a produção regional e a importância do cultivo de memórias. Dessa maneira, as IG’s servirão de guia para contar histórias de pessoas que têm no alimento um ponto central da vida, seja de forma profissional ou afetiva.

"Esse projeto vai registrar o trabalho que fazemos para consolidar a história de cada um desses alimentos ou pratos", diz Mabel Guimarães, representante do Sebrae-PR nessa ação. O Sebrae é o principal fomentador dos processos para reconhecimento de produtos regionais como de Indicação Geográfica (IG) e o braço paranaense é um dos apoiadores do Mapa da Cultura Alimentar.

O Mapa da Cultura Alimentar levará uma equipe de pesquisadores sociais e especialistas em gastronomia em uma viagem guiada pelo Paraná e Santa Catarina a fim de conhecer quem são as pessoas por trás da conservação da identidade desses alimentos.

Ana Souza, confeiteira que embarca nessa jornada, explica a importância de entender as peculiaridades de cada indicação geográfica paranaense: “Acredito que entendendo as IG’s, o olhar com o produtor e produto final seja mais respeitado e valorizado. E isso vai trazer mais visibilidade para região, e, por consequência, mais giro financeiro para essas pessoas e cidades”.

As descobertas da equipe, que parte em viagem para a pesquisa de campo dia 03 de abril, você acompanha na plataforma Bom Gourmet. Já o desfecho dessa jornada se converterá em arte e literatura, culminando na criação do livro "Mapa da Cultura Alimentar" e em uma exposição de arte no Shopping Mueller, em Curitiba, em setembro de 2023.

O livro será composto por fotografias, relatos, receitas e toda a experiência adquirida durante a expedição, estabelecendo-se como um item permanente no que diz respeito ao acervo e referência histórica.

O Bom Gourmet mostra para você quais são os 12 produtos com selo de Indicação Geográfica que serão norteadores da viagem do Mapa da Cultura Alimentar.

Este doce tradicional da cidade de Antonina, Litoral do Paraná, é um símbolo da região, que é referência na produção de banana de qualidade. O sabor suave e adocicado, a textura macia e fácil de mastigar e as embalagens de papel (que preservam a composição natural), são as marcas do produto. A produção é feita com bananas exclusivamente da região, incluindo produtores de Guaraqueçaba e Antonina. A bala segue a mesma receita há mais de 40 anos e duas famílias se destacam na produção: as marcas Antonina e Bananina. Juntas, as empresas fabricam cerca de 110 toneladas por mês e quase tudo é consumido no mercado paranaense.

O queijo produzido na Colônia Witmarsum é artesanal e feito a partir de leite cru de vaca, com um processo de maturação que pode variar de 60 dias até 1 ano. O queijo é conhecido por sua textura macia e sabor com notas de amêndoas, com um toque levemente adocicado. A produção ocorre em cooperativas de pequenos produtores da região, sendo considerado um produto de qualidade e exportado para vários países.

Os queijos paranaenses, não apenas os da Colônia Witmarsum, vêm ganhando destaque internacional e espaço no mercado. Recentemente, o Bom Gourmet produziu uma matéria especial sobre o produto.

Histórica nas atividades econômicas paranaenses, a erva-mate produzida em São Mateus do Sul é conhecida por ser uma das melhores do Brasil. A cidade possui um clima propício para o cultivo da erva, que é uma planta nativa da região. O produto é utilizado na preparação do chimarrão, bebida típica do Sul do Brasil, e possui propriedades estimulantes e energéticas, além de ser rica em vitaminas e antioxidantes.

O prato é preparado a partir de carne bovina cozida lentamente em um caldeirão de barro, com temperos como cebola, alho, louro e cominho, numa panela fechada com uma massa formada por farinha e água. Para ser considerado um barreado de IG, o cozimento deve ser lento, em fogo baixo, e dura cerca de 12 horas, até que a carne desmanche e forme um caldo espesso e saboroso. Para servir, arroz branco, banana da terra e laranja. O barreado é considerado um patrimônio cultural do estado do Paraná e é uma das principais atrações turísticas da região de Morretes, no Litoral.

A goiaba de Carlópolis é conhecida pelas suas características singulares devido ao terroir da região. Isso significa que as condições de solo e do microclima da cidade garantem o sabor suave e textura macia característicos da fruta. Uma curiosidade sobre o processo de cultivo da fruta: quando a goiaba chega a 2 centímetros de diâmetro, ela é embalada em envelopes de papel para evitar que insetos a danifique. Atualmente, 36 fruticultores são associados à Cooperativa Agroindustrial local e 10 deles têm o selo de IG.

A região de Marialva é conhecida por ser uma importante produtora de uvas de mesa – chegando a ser considerada a capital da uva fina. A cidade possui um clima propício para o cultivo e as uvas são produzidas em larga escala por produtores locais. A qualidade e sabor adocicado são características apreciadas e que garantem mercado em todo o Brasil e para exportação. Seu cultivo foi incentivado na década de 1960, quando as terras vermelhas da região se tornaram empobrecidas por monoculturas mecanizadas como a da soja.

A região do Norte Pioneiro, incluindo a cidade de Londrina, é uma notável região produtora de café no Brasil. O clima e o solo da região são favoráveis ao cultivo do café, que é produzido em grande escala por pequenos e grandes produtores locais. Os cafés produzidos nessa região são conhecidos pela qualidade, aroma e sabor, sendo exportados para vários países.

Pelas condições naturais de clima que favorecem a cultura da delicada fruta, Sapopema é conhecida nacionalmente por seus morangos. Essa questão favorece a fixação das famílias produtoras locais e garante a renda extra no campo. Boa parte dos produtores têm mais de 20 anos de experiência no cultivo. Os morangos de Sapopema são conhecidos por sua qualidade, sabor adocicado e aroma agradável, sendo consumidos in natura ou utilizados na fabricação de geleias, compotas e outros produtos derivados. A conquista de indicação geográfica veio em outubro de 2022.

O vinho de Bituruna, fabricado com as Uvas Casca Dura, conquistou o selo de Indicação Geográfica em outubro de 2022. Quatro vinícolas formam a Associação dos Produtores de Uva e Vinho de Bituruna (Apruvibi) e podem usar o reconhecimento: Bertoletti, Sanber, Di Sandi e Dell Monte.

Bituruna é referência no mercado de vinhos brasileiro. Essa história começou em 1940, com a chegada de imigrantes do Rio Grande do Sul, que trouxeram mudas da fruta. Naturalmente, houve uma mutação e adaptação da uva às características de altitude, clima (com grande amplitude térmica) e solo. A experiência e as práticas artesanais são essenciais para a qualidade do vinho local.

O Melado de Capanema é um produto típico produzido a partir do caldo de cana-de-açúcar, é um alimento saboroso e rico em nutrientes, sendo utilizado em diversas receitas culinárias. O processo de fabricação do melado é tradicional, sendo feito em pequenas unidades de produção, o que garante um produto artesanal e de excelente qualidade.

O mel do Oeste do Paraná é um mel de florada silvestre, ou seja, é obtido a partir da coleta de néctar das flores silvestres presentes nas áreas de preservação ambiental. O produto é livre de agrotóxicos, sendo considerado uma opção saudável e nutritiva para os consumidores. O produto tem selo de Indicação Geográfica desde 2017. Na Cooperativa Agrofamiliar Solidária dos Apicultores da Costa Oeste do Paraná (Coofamel) estão cooperados 270 produtores de 54 municípios.

A maçã fuji é um produto de alta qualidade produzido na região de São Joaquim, em Santa Catarina. Reconhecida como a capital nacional da maçã, a região é privilegiada por um clima frio e seco, ideal para o cultivo da fruta. Esta maçã é conhecida por sua doçura, crocância e sabor intenso, sendo exportada para diversos países. A produção é realizada com técnicas modernas e sustentáveis, garantindo a qualidade e a preservação do meio ambiente.