Mapa da Cultura Alimentar
Conheça a equipe que vai desvendar os alimentos tradicionais do PR e SC
A gastronomia é uma das principais expressões culturais de um povo e reflete sua identidade, história e tradições. No Brasil, cada região possui uma culinária típica, que reflete a diversidade cultural do país. E é nesse contexto que o projeto Mapa da Cultura Alimentar foi criado. Para aprofundar a história dos alimentos e pratos tradicionais paranaenses e catarinenses que compõem a base da cultura alimentar regional, o projeto levará uma equipe de pesquisadores para investigar esse patrimônio.
A partir do dia 3 de abril o grupo cai na estrada em busca dos rostos e vozes que mantêm vivas as raízes culturais da nossa alimentação. Uma realização da Montenegro Produções, que conta com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, esse projeto tem como bússola os produtos de Indição Geográfica.
As chamadas IGs, alimentos e pratos tradicionais de uma região que foram validados a partir de sua originalidade e reputação, nortearão a viagem dos três profissionais que compõem a expedição. Com diferentes formações, eles irão percorrer o Paraá e parte de Santa Catarina para aprender sobre as técnicas tradicionais de cultivo e preparo de alimentos, além de compreender a relação entre a cultura e a comida.
A equipe foi selecionada a dedo. Na viagem estarão a confeiteira Ana Souza, conhecida por suas deliciosas receitas de sobremesas; o fotógrafo Daniel Siwek, que registrará cada detalhe da jornada; e a cientista social e professora Rafaela Rocha, que ajudará a entender as relações culturais e sociais que envolvem cada alimento e como elas se refletem na cultura geral do Paraná.
Juntos, eles partem de Curitiba tendo como primeiros destinos Antonina e Morretes, cidades da Bala de Banana e do Barreado, duas IG's paranaenses. O público poderá acompanhar as descobertas da equipe de pesquisa de campo por meio da plataforma Bom Gourmet. O desfecho dessa jornada será transformado em arte e literatura, culminando na criação do livro intitulado "Mapa da Cultura Alimentar" e em uma exposição de arte que ocorrerá no Shopping Mueller, em Curitiba, em setembro de 2023.
Os nossos três viajantes têm histórias diferentes, mas unidas em prol do objetivo de entender essa história de riquezas gastronômicas locais. O Bom Gourmet mostra para você o perfil de cada um desses profissionais. Vamos embarcar nessa jornada?
Ana Souza: a confeiteira
Confeiteira, autodidata e empreendedora, Ana Souza usa a gastronomia e a confeitaria para resgatar doces tradicionais brasileiros. A memória e o respeito pelo processo do alimento e pelas pessoas que o produzem movem o trabalho de Ana.
1) Qual a sua relação com a alimentação?
Sempre estive na cozinha ou em volta da mesa. Para mim, os cafés da manhã são verdadeiras declarações de amor, um ritual diário e um momento que compartilho com as pessoas que verdadeiramente fazem parte da minha vida.
Como você entende a gastronomia paranaense?
É uma mistura de culturas, devido a nossa colonização. E, mesmo que já tenhamos muitos pratos típicos conhecido, que são na maioria carnes, mas também tem quirera, pierogi e o pão no bafo, ainda precisamos resgatar muito do que talvez tenha ficado no esquecimento da história.
Quando a gente fala de comida, qual é a memória mais afetiva que vem à sua mente?
O frango com quiabo, servido com arroz ou polenta, que meu tio fazia quando íamos visitá-lo em Ivaiporã (interior do Paraná) ou o empadão e cocada de gemas da tia Lora. Enquanto falo, até consigo sentir cada sabor e vários momentos com essas pessoas e comidas.
Como a gastronomia compõe a sua história?
Sou confeiteira e autodidata. Fiz um curso de gastronomia apenas em 2012. Quando comecei minha cozinha em Curitiba em 2018, ninguém fazia pudins em pote e existia apenas um lugar em São Paulo que era especialista em pudim. Sendo estatística da Lei Maria da Penha, eu transformei cada pote de pudim em força para eu poder renascer e sobreviver.
Agora percebo com muita clareza que os passos que dei em direção a uma mulher sobrevivente foi graças à minha força e ao meu amor pela gastronomia. A vida é uma inconstância de acontecimentos que fogem do nosso querer e controle, então a gastronomia tem sido extremamente importante desde lá quando eu era uma menina e fiz um curso, até hoje sendo uma mulher que sobreviveu e renasceu.
Daniel Siwek: o fotógrafo
Daniel é ator, músico e fotógrafo, mas também é reconhecido como comunicador e locutor da Rádio Mundo Livre FM de Curitiba. No Mapa da Cultura Alimentar, Daniel participará por trás das câmeras: documentando tudo com fotografia e vídeos.
Qual é a sua relação com alimentação?
Minha relação é de curiosidade. É sobre fazer e comer. Nesse projeto, eu ganho não apenas artisticamente, mas como pessoa, por poder acompanhar e ver de perto todo o processo do que é comida, afinal.
Como você entende a gastronomia paranaense?
Talvez eu saiba responder isso melhor quando voltar dessa jornada. Eu acho que não conheço, de fato, o que é a gastronomia paranaense. O que é daqui? O que é importado de outros estados e outras culturas? A resposta está em aberto, mas da melhor forma possível. É uma oportunidade de conhecer sobre um assunto que faz parte da minha vida, antes mesmo de perceber essa forte presença e influência.
Quando a gente fala de comida, qual é a memória mais afetiva que vem à sua mente?
A bala de banana é muito característica e afetiva para mim, porque remete à minha infância. Toda criança paranaense, principalmente em Curitiba, que tinha fácil acesso ao Litoral, lembra da bala de banana como uma memória marcante. Viajando para o Litoral inúmeras vezes, o barreado se tornou marcante para mim também. Esses alimentos fizeram parte de tudo o que vivi e experienciei lá.
Como a gastronomia compõe a sua história?
Sempre que me reúno com família e amigos, a gastronomia está lá. É um vetor agregador, ela está neste lugar da minha vida. É uma facilitadora do contato humano.
Rafaela Rocha: a socióloga
Rafaela Rocha é formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua com ênfase em Sociologia das Imigrações, no tema Imigração Polonesa no Paraná. Rafaela conta que embarca nessa jornada por acreditar que o Paraná, apesar da influência externa e europeia, possui características próprias que precisam ser estudadas de forma aprofundada – principalmente quando se trata da gastronomia.
Qual é a sua relação com a alimentação?
Alimentação, para mim, é um ato político. É uma relação entre servir o nosso melhor para as pessoas e aceitar o seu melhor quando usamos a terra com sabedoria e respeito. Acredito que devemos respeitar os alimentos quando preparamos e compramos o que vamos comer, para não desperdiçar.
Como você entende a gastronomia paranaense?
A gastronomia paranaense representa o sentir conforto, é poder se alimentar de algo que vem do “nosso chão”. Mas o que define isso? Existe uma comida para se sentir em casa. Assim como é importante fazer um registro histórico cultural de tradições e da economia que os alimentos proporcionam para o Paraná. Uma das principais missões da minha pesquisa durante o Mapa da Cultura Alimentar é defender a comida como um patrimônio da produção verdadeira de alimentos.
Quando a gente fala de comida, qual é a memória mais afetiva que vem à sua mente?
Eu me considero cria do primeiro planalto paranaense e do Litoral por possuir avós maternos que vêm desses lugares. Carrego essas memórias afetivas com a comida. Por mais que eu goste da comida de outros lugares, a comida do nosso jeito, a paranaense, é o que me dá felicidade. Eu gosto muito de pinhão, de paçoca e a memória que mais me marca é a da merenda escolar, principalmente quando tinha arroz doce.
Como a gastronomia compõe a sua história?
Cozinhar dentro de casa é completamente diferente de cozinhar para outras pessoas. Eu trabalhei em restaurante, enquanto não trabalhava com sociologia, com cozinheiros experientes que me indicavam como eu deveria agir dentro daquele contexto. É muito diferente, é outra visão e contexto.