Bom Gourmet
Gastronomia do RS luta para se reerguer após enchentes históricas
O Rio Grande do Sul enfrenta a árdua tarefa de reconstruir seus setores de gastronomia, turismo e vinho após as chuvas torrenciais que assolaram cidades neste mês, deixando um rastro de destruição e perdas incalculáveis. A tragédia, considerada a pior da história do estado, impactou 435 municípios, comprometendo a economia e deixando milhares de pessoas desabrigadas. Os setores de gastronomia do RS, inlcuindo turismo e vinhos, tão importantes, não passaram incólumes às perdas.
80% dos estabelecimentos sem seguro
Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) nos últimos dias revelou a fragilidade do setor gastronômico gaúcho diante da catástrofe. Dos 409 estabelecimentos entrevistados, 80% não possuem seguro para cobrir os danos causados pelas enchentes, enquanto 82% necessitam de ajuda financeira para pagar salários, auxiliar funcionários desabrigados e reconstruir o que foi destruído.
"As grandes dificuldades do setor são com a equipe, estamos tentando ajudar quem perdeu tudo ou quem foi atingido de alguma forma", desabafa João Melo, presidente da Abrasel-RS. "O setor não tem muitas alternativas para esse momento, a não ser pegar empréstimo. Estamos aguardando uma solução do governo, como auxílio emergencial, alguma medida que possa ajudar".
A pesquisa também revelou que 18% dos estabelecimentos sofreram perdas parciais e 7% tiveram perda total. Além disso, 66% das empresas enfrentam falta de água, 35% estão sem energia elétrica e 74% relatam dificuldades para conseguir suprimentos.
Medidas de apoio e reconstrução
Diante desse cenário desolador, os empresários do setor pedem socorro ao governo e reivindicam medidas como a suspensão de impostos (86%), linhas de crédito (75%), programas de auxílio (65%) e apoio na reestruturação dos estabelecimentos (23%).
Melo destaca a necessidade de capital de giro e sugere soluções que abrangem toda a cadeia produtiva. "A forma correta é o governo liberar uma linha de crédito com garantia dele mesmo, a fundo perdido e sem chance de recuperação, para as empresas aplicarem no que é fundamental. A desoneração da folha pode auxiliar também, precisamos de ações que contemplem a cadeia em todas as pontas, desde o empresário que precisa de crédito facilitado até auxílio emergencial que atenda os funcionários", afirma.
Turismo e setor vinícola também sofrem com a tragédia
O turismo, um dos pilares da economia gaúcha, também foi duramente atingido pelas chuvas. Destinos icônicos como o Pôr do Sol do Guaíba, em Porto Alegre, e a Serra Gaúcha, com seus vinhedos e paisagens, enfrentam dificuldades de acesso devido a deslizamentos e desmoronamentos.
Lucinara Masiero, diretora da Conceitocom Brasil, relata a situação em Bento Gonçalves, um dos principais polos turísticos da região. "Aqui em Bento não tivemos enchentes na cidade. Tivemos deslizamentos, desmoronamentos que tiraram vidas. Muito triste. Agora, a iniciativa privada, por meio da #UnidosporBento, e Poder Público trabalham juntos para reconstruir pontes e desobstruir vias para poder voltar a receber visitantes”, conta.
O setor vinícola, que já havia sofrido com a seca nos últimos anos, agora enfrenta perdas em vinhedos e dificuldades logísticas devido à obstrução de estradas. Apesar disso, relata Lucinara, a produção de vinho segue normal, pois a colheita já havia sido concluída.
"Depois da pandemia da Covid e das enchentes em setembro e novembro, muitos não terão força para seguir", lamenta. "Certamente, muitas empresas deixarão de existir. Para os que não tiveram seus empreendimentos invadidos pela água, sofrem com a ausência de clientes. Para quem vive do turismo, por exemplo, a situação é bem esta: turismo zerado, reflexo do medo dos visitantes em vir pra cá, do aeroporto (Salgado Filho) em Porto Alegre fechado, de estradas obstruídas e pontes caídas, dificultando o acesso".
Para a residente em Bento Gonçalves, porém, é preciso ressaltar ao resto do país que nem todo o RS está submerso. "Assim que os acessos estiverem livres e seguros, a ideia é se engajar num movimento de retomada porque é preciso seguir para garantir empregos e fazer girar a economia", conta.
Lições e perspectivas para o futuro
As chuvas de maio deixaram um rastro de destruição que se traduz em números alarmantes. Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), os municípios afetados representam 80% da atividade econômica do estado, com perdas estimadas em bilhões de reais. O setor agrícola, um dos mais importantes da economia gaúcha, sofreu perdas significativas, com impacto na produção de soja, arroz e outros grãos.
A estimativa da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado (Fecomércio-RS) é que os empreendimentos do estado podem somar cerca de R$ 10 bilhões em perdas materiais por conta das enchentes. Para João Melo, são perdas que vem em um momento que o setor de gastronomia já patinava em um pós-pandemia cuja recuperação já não era como o esperado.
O governador do RS, Eduardo Leite, estimou na última quarta (22) que a recuperação do setor turístico gaúcho demandará cerca de R$ 1 bilhão. Para evitar demissões em massa, Leite defende a recriação de um benefício federal similar ao Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, implementado durante a pandemia de covid-19.
“A gastronomia do Rio Grande do Sul vai passar por extremas dificuldades, uma vez que vai ter que se recuperar agora de um cenário que já vinha ruim. 2024 estava sendo péssimo para a economia da gastronomia como um todo”, lamenta o presidente da Abrasel-RS. “É mais um baque depois da pandemia. Estamos em um setor altamente endividado, que agora busca se reerguer”.
Movimento em prol do vinho gaúcho ganha selo especial e carta aberta
Em solidariedade às vinícolas afetadas, o Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS) reforçou o movimento de valorização dos vinhos, espumantes e sucos produzidos pelas empresas locais.
Para se ter ideia, um estudo realizado recentemente pelo Consevitis-RS estima que a produção de uvas e vinhos representa aproximadamente 2% do PIB gaúcho. A iniciativa inclui o lançamento de um selo especial para destacar esses produtos nos pontos de venda, tanto no RS quanto em outros estados.
O selo é distribuído entre as vinícolas associadas às entidades que compõem o Consevitis-RS – Uvibra, Agavi, Fecovinho e ACIU – incentivando a compra e contribuindo para a movimentação do setor. Inicialmente, serão impressas 500 mil unidades.
"Além de continuar com o acolhimento a todos os que foram atingidos, para que haja reconstrução precisamos movimentar a economia. Valorizar os produtos gaúchos também é uma das formas de prestar esse apoio", diz o presidente do Consevitis-RS, Luciano Rebellatto.
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