Bebidas
Passeio mostra que o sertão nordestino também produz vinhos e espumantes de qualidade
Além de ser o maior produtor de cacau do Brasil, a Bahia também vem se destacando na produção de vinhos, e é na região norte do estado que está um dos principais passeios enoturísticos do país. O Vapor do Vinho começou a ser realizado há cinco anos percorrendo o Rio São Francisco e o lago de Sobradinho com degustação de comidas típicas e espumantes.
Ao longo de cerca de cinco horas de passeio, o minicruzeiro percorre pontos turísticos da região cercados por parreirais em meio à caatinga, partindo e chegando da cidade de Juazeiro. Há uma parada na Vinícola Terranova, a maior da região, e em uma ilha deserta do lago. O objetivo do tour é mostrar que é possível produzir vinho até mesmo no meio do sertão nordestino.
Segundo Adriano Miolo, enólogo da vinícola, a região é propícia para a produção de vinhos e espumantes. São até duas safras e meia por ano, com apenas quatro meses de intervalo entre uma e outra. Em outras partes do país, este ciclo leva um ano.
“Assim como no Sul do país, a caatinga também ajuda a uva a se desenvolver. É um terreno árido e seco, com muita insolação, que é o que o fruto gosta. Enquanto os campos do Sul fazem as videiras hibernarem nos dias frios para então florescer na primavera, no sertão a gente controla isso com a irrigação, por isso conseguimos em média duas safras por ano”, explica o enólogo.
Vapor
A bordo de um barco de três andares com capacidade para 332 passageiros, o Vapor do Vinho navega pelo Rio São Francisco até alcançar as eclusas da barragem da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, onde é elevado a 32,5 metros de altura até o nível do lago. É nele que é servido o almoço tipicamente nordestino, com pratos como macaxeira frita, baião de dois e filé de surubim (peixe de água doce) antes de chegar ao tour pela vinícola.
Já pela metade do passeio, o vapor ancora em um porto e os turistas embarcam em um ônibus que vai até a área de visitantes da Terranova, a cerca de 10 minutos de distância. Lá eles são recebidos com uma degustação de vinho, espumante e brandy (conhaque destilado de vinho moscatel). Depois, o Vapor segue pelo rio São Francisco até a Ilha da Fantasia e retorna para a marina de Juazeiro.
As bebidas são as mais produzidas na vinícola, que começou a operar em meados de 2008. Foram quase dez anos de trabalho para a implantação, com as oito variedades de uvas (chenin blanc, sauvignon blanc, verdejo, moscato, grenache, mourvèdre, tempranillo e shiraz) levadas a partir de 2005. Em torno de 10% da produção da Terranova é voltada para exportação.
Tradição vinícola
Adriano Miolo explica que o Vale do Rio São Francisco é hoje uma das principais produtoras de vinhos do mundo em climas tropicais. Embora possa parecer algo novo, a região tem uma tradição vinícola de quase meio século, mas que só nesta última década que começou a ficar mais conhecida.
“A Cinzano começou a produzir vinho na região há 50 anos para elaborar vermute. Depois, outros dois produtores internacionais se instalaram ali, também por conta das condições climáticas que ajudam a produção massificada de uvas. Eu visito a região desde 1997, e em 2001 a Miolo adquiriu um destes produtores”, conta. Na época, a marca replantou todo o parreiral de shiraz e ampliou as variedades produzidas. Hoje são mais de 20 rótulos entre vinhos e espumantes das marcas Terranova e Almadén, o brandy e suco de uva.
O pacote completo do Vapor do Vinho custa R$ 160 por pessoa com saídas de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), com o ônibus passando no hotel em que o turista estiver hospedado. As saídas ocorrem aos sábados, domingos e feriados a partir das 8h, e as reservas podem ser feitas pelo site do passeio.