Bebidas
Chegou a vez dos chás gourmet: como a bebida está ganhando mais espaço na xícara do brasileiro
Quando se fala do consumo de chás no Brasil ainda há um vasto caminho a ser explorado: o país não figura nem entre os 15 principais consumidores do mundo. Segundos os dados do Euromonitor, os três primeiros na lista são China (70,3 milhões litros), Índia (26,8 milhões de litros) e Rússia (26,7 milhões de litros).
Se os cafés especiais passaram por uma revolução nos últimos anos — de aumento e popularização de consumo — há quem diga que o mesmo deve acontecer com o chá em um futuro próximo. A barista e sommelier de chás Rafaela Nascimento, proprietária do Chá e Café da Rafa, no Rio de Janeiro, concorda com essa previsão. “Por estar inserida nas duas culturas, posso dizer que muito do que é consumido e pedido pelos clientes ainda é o café, mas sinto que algo está mudando, vamos aguardar.”
Vem do Oriente, essa tradição milenar que se espalhou pelo mundo: a das meticulosas cerimônias do chá que surgiram no Japão e na China por volta do século IX. Por lá, a tradição e o costume de apreciar a bebida são fortes e bastante valorizados. Tanto é que muitos dos sommeliers e profissionais que hoje trabalham na área por aqui apaixonaram-se por esse mundo durante suas viagens.
Aconteceu com Daniele Lieuthier, fundadora da escola Instituto Chá; aconteceu com Ana Carolina Delai, da Catherine Fine Teas; aconteceu com Rodrigo de Araújo Lopes, um dos sócios da rede de franquias Moncloa e sommelier de chás. Em comum, as viagens, o amor pelas infusões e ervas aromáticas e, claro, a vontade de difundir a cultura do chá.
“Hoje sinto, sim, as pessoas cada vez mais interessadas em chás. Percebo que o perfil de quem procura nossos cursos é o de pessoas que buscam o bem-estar”, observa Daniele, que comanda o Instituto Chá, escola que já formou 29 turmas e cerca de 300 alunos. Diplomada na escola, Ana Carolina Delai é hoje sommelier de chás e proprietária da Catherine Fine Teas, loja online de blends próprios. “Culturalmente, não temos esse hábito tão enraizado como em outros países, mas acredito que isso possa ser mudado a médio prazo”, opina.
Em geral, como explica Rodrigo, sócio da Moncloa – que nasceu em Curitiba e hoje conta com 20 lojas em nove estados –, o interesse do público começa pelos blends de chás verde ou preto com frutas e flores. “O público começa buscando opções mais cítricas e frutadas e, só então, passa a se interessar por outros sabores. Embora o Brasil ainda seja o país do café, o chá vem ganhando espaço. Em 2018, registramos um crescimento de 80%”, observa.
Chás, infusões e blends
No dia a dia, o termo chá é o usado de maneira genérica. Mas, originalmente, são chamados de chás apenas aqueles derivados da planta Camellia sinensis, os chás branco, verde, preto e oolong. Os demais – de ervas, como a camomila, por exemplo – são infusões. Já os blends são misturas de chás com infusões. Chá verde com hortelã, por exemplo, é um blend. Ou oolong com rosas. As possibilidades são infinitas e os sommerliers estão sempre em busca da mistura perfeita.
A diferença entre os produtos especiais e os tradicionais (que normalmente são encontrados nos supermercados, aqueles que vêm em saquinhos) é a qualidade das ervas e também seu processo de secagem. Por isso, sempre prefira comprar o chá a granel. “Isso possibilita observar as ervas, flores e frutas. Se optar pelos chás de saquinho, prefira aqueles em formato triangular, de tecido fininho e transparente, pois assim você consegue observar melhor as ervas que está comprando, quanto mais inteiras estiverem, de melhor qualidade são”, aconselha Rafaela Nascimento, do Chá e Café da Rafa.
Ritual de preparo
Para fazer um bom chá, é preciso apenas o chá ou o blend escolhido e água quente (de preferência água mineral, em pH que fique próximo do 6 ou 7). Para tirar o melhor proveito da experiência, é possível investir em alguns acessórios. Isso porque as ervas usadas para preparo são delicadas, então é aconselhável respeitar tanto a temperatura quanto o tempo de infusão indicados para cada tipo de chá ou infusão, evitando que a bebida fique amarga. “Não prestar atenção nesses fatores pode trazer uma experiência incompleta ou até mesmo ruim”, ressalta a sommelier Ana Carolina Delai. A medida padrão de preparo é de 2,5 g a 3 g para cada 180 ou 200 ml de água. Já o tempo de infusão para chás varia, em geral, de 1 a 3 minutos. Para as infusões, pode chegar até a 8 minutos.
Entre os acessórios disponíveis para preparo estão as jarras elétricas para controle de temperatura: os chás brancos, mais delicados, demandam temperatura mais baixa (por volta de 70° C ou 80° C). Já para o preparo dos pretos, ela pode ser mais alta (até 90° C). Um timer que apite quando o tempo de infusão acabar também pode ajudar. É possível, também, usar o próprio celular, que vem equipado com função semelhante.
Já para quem quer investir em um infusor, que é um acessório feito especialmente para colocar as ervas em contato com a água quente, a escolha fica por conta do gosto pessoal. “Em geral, indico as versões de inox pela maior durabilidade. E, de preferência, que tenham um bom espaço para as ervas, para que não fiquem esmagadas. O ideal é que os buraquinhos não sejam muito largos, para que as ervas não ‘escapem’”, explica Rodrigo, da Moncloa. Ele complementa dizendo que o tipo de acessório no qual é recomendável investir depende muito do hábito de cada um. Para quem costuma tomar chá sozinho (a), a caneca e o infusor são suficientes. Se o consumo for para um número maior de pessoas, pode-se optar por uma chaleira acoplada com infusor.