Rafael Lafraia
Um chef pelo mundo
Paris, um palco para a gastronomia!
Sempre que leio sobre Paris, é aquele romance todo. A cidade realmente tem muito disso, com sua arquitetura haussmanniana e histórica, e o belo Rio Sena passando pelo meio, tudo parece cenário de um filme. Mas desta vez, pensei em escrever sobre uma experiência que tive por lá e que foi, no mínimo, muito interessante para um cozinheiro como eu.
Pouco antes da SIAL Paris 2024 começar — evento em que trabalho como chefe de cozinha — tive alguns dias de folga e queria muito ver um evento de rua. Afinal, sou apaixonado por comida de rua, que foi onde tudo começou para mim como empreendedor, e, no fundo, a rua é um belo palco para a gastronomia também.
Uma breve pesquisa online me disse que naquele final de semana haveria um festival de produtores de vinhos locais num dos cartões postais da cidade: A basílica Sacré-Cœur, no alto do Montmartre. Não imaginava o tamanho da feira quando lá cheguei com meu irmão, pela primeira impressão pareceu pequena. Imagine uma rua em curva rodeando uma imensa catedral, não dava pra ver o que havia no fim da curva, nesse primeiro momento enxergamos apenas umas 20 tendas, e nelas, vinhos, champagnes, ostras, queijos, embutidos, muita coisa, o sentimento era de ter encontrado um tesouro. Poucos passos a frente descobrimos que eram mais de 100 tendas, 100 opções, 100 testes, 100 possibilidades, 100 histórias e 1 palco: A rua!
O Montmartre Wine Harvest Festival acontece todo outono, desde 1934, no mesmo lugar!
Logo de cara já percebi marcas conhecidas de champagne com sua própria tenda, Laurent Perrier por exemplo, mas eu queria falar com produtores diferentes. Provei vários vinhos, todos acompanhados de histórias de família ou antepassados envolvidos no processo de vinificação. Quase sempre, ao lado de uma tenda de champagne, havia uma tenda de ostras frescas, abertas na hora — um verdadeiro deleite! A combinação é naturalmente perfeita! A sensação de equilíbrio entre a acidez e a mineralidade é adorável. Depois de algumas taças de espumante às 11h da manhã (inusitado para mim), era hora de experimentar outros vinhos. Estou numa fase de preferir vinhos brancos, e os que provei nesse festival eram ótimos, todos produzidos ao redor de Paris. As taças custavam a partir de 4 euros, nada muito fora dos preços de Curitiba, e senti que valia a pena.
Almoço chegando, era hora de começar a pensar em comida. As tendas de queijos e embutidos tinham um padrão, caixinhas de papel serviam batata assada e no topo uma cobertura de queijos de vários tipos, à sua escolha, o prato era tostado e servido bem quente, espetáculo. Haviam também sanduíches com baguete - A baguete francesa é algo que merece um texto a parte - recheadas com maravilhosas salsichas defumadas de porco e bovina, e os sanduíches de frango eram recheados com frango em pedaços e com um molho extremamente aromático, senti referências de especiarias no frango.
O clima era de festa, muita gente, famílias locais, turistas de várias partes do mundo, jovens com seus grupos de amigos, música, e as escadarias da Sacré-Cœur lotadas de pessoas sentadas, misturadas, aproveitando a bela vista da cidade de Paris, enquanto comiam, bebiam, conversavam, e aproveitavam o som vindo de uma tenda ou outra em que um DJ tocava.
Essa sensação da rua cheia de gente, com muita comida e bebida, me deu uma nostalgia, lembrei como a feira de rua foi importante pra mim. Ver a reação da primeira mordida do cliente provando um prato novo, observar aquilo do ponto de vista de quem está vendendo, era a prova social que eu precisava pra validar meus pratos, foi essencial.
A rua sempre me trouxe ótimas experiências e essa foi mais uma delas. Estar do lado do consumidor, ver a arte da venda, da gastronomia, das histórias e sentir o lado de fora do tal palco das ruas também é muito rico e diverso, quero sempre estar por perto dele, seja como ator ou ouvinte dessas histórias de vidas gastronômicas.