Dubai Além do Luxo: Sabores, Culturas, Camelos e Chocolate!

Dubai é cheia de arranha-céus, hotéis sete estrelas e muito luxo, mas, nas minhas idas à cidade, o que realmente me marca são os sabores, aromas, ingredientes e as histórias por trás de cada prato! Recentemente, estive a trabalho na feira Gulfood 2025, a maior feira de alimentos e bebidas do mundo árabe. O evento tinha mais de 5.000 expositores de 120 países e teve até o chef Alain Ducasse no evento Top Table, com masterclass e tudo mais. Baita evento.

Todas as minhas viagens são sempre sobre comida, pessoas, costumes, religião, cultura e geografia. Gosto de explorar esses aspectos em todos os lugares que vou, acredito que comer é uma das formas mais genuínas de conhecer um lugar, e também gosto de saber sobre as pessoas e a natureza local. Nos Emirados Árabes Unidos, Dubai, à beira do Golfo Pérsico, pertence a uma federação de sete emirados, incluindo Abu Dhabi, Sharjah e Ras Al Khaimah. O islamismo é predominante e molda não só os hábitos alimentares, mas a própria dinâmica social. Aqui, o consumo de carne gira em torno do cordeiro, bovino, frango e até camelo! Sim, camelo. Confesso que, da primeira vez que vi um hambúrguer de camelo no cardápio, achei curioso. A carne é levemente adocicada e surpreendentemente macia. A carne suína é restrita às comunidades não muçulmanas, e o vegetarianismo tem adeptos, principalmente por influência das culturas indiana e paquistanesa.

Durante o Ramadã, o nono mês do calendário islâmico, Dubai ganha outro ritmo. O jejum diário dos muçulmanos é quebrado ao anoitecer no iftar, uma refeição cheia de significado, onde a comida vira elo de conexão entre família e amigos. Nesse período, a cidade parece respirar outro tempo, e mesmo quem não segue a religião percebe o impacto desse momento de introspecção e partilha. Com muitos restaurantes fechados durante o dia, o pôr do sol traz com o aroma de tâmaras e especiarias, a emoção das famílias muçulmanas se reunindo para a refeição.

Mas, falando em comida, um dos assuntos mais comentados ultimamente é o chocolate da cidade, que virou um ícone de sofisticação. As marcas premium exploram ingredientes locais como ouro comestível, leite de camelo e especiarias do Oriente Médio, trazendo ainda mais exclusividade ao produto. Provei várias marcas do famoso chocolate, e o sabor que chamam de "tradicional" leva um creme de pistache, tahine e um crocante de kunafa ou kadayif, espécie de massa de fios doces. Esse foi o meu predileto: cheio de texturas, sabor e persistência.

No entanto, além dos produtos exclusivos, o que me chama a atenção é a comida e o povo na rua. Fora das áreas de luxo, encontramos uma diversidade gastronômica moldada pela forte presença de imigrantes do Paquistão, Índia e Filipinas. Pequenos restaurantes familiares e barracas vendem pratos como shawarma, biryani, samosas e karak chai, tudo com preços acessíveis e repleto de tradição. Esses trabalhadores vêm para Dubai em busca de melhores condições de vida, é uma espécie de "Sonho Americano" da região. Me lembro de conversar com um taxista paquistanês, que me contou que envia dinheiro para a família há anos e que, apesar da saudade, sente que Dubai lhe deu oportunidades que jamais teria no seu país de origem. Suas receitas acabam se misturando ao dia a dia da cidade, criando uma identidade gastronômica nos bairros mais pobres e populosos.

Enquanto os chocolates banhados a ouro traduzem o lado extravagante do emirado, os pratos simples, vendidos nas esquinas movimentadas, contam histórias de luta, pertencimento e resiliência. No fim, a gastronomia aqui reflete algo muito maior: a conexão entre cultura, desenvolvimento social e afetividade. Porque, seja no luxo ou na simplicidade, a comida sempre nos aproxima – e, no final das contas, é isso que importa, as conexões humanas, base de tudo!
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