"Fabio e eu somos amigos, unidos não só pelas conexões da vida, mas também pela paixão pela comida! Um dos primeiros clientes do meu restaurante, Curry Pasta, ele e sua esposa Cecília agora vivem em Gent, na Bélgica, enquanto Renata e eu estamos em Amsterdam, bem pertinho. Juntos, decidimos revisitar algumas cidades e nossas memórias em busca das melhores experiências com croissants. O resultado é este lindo texto do talentoso e renomado Prof. Fabio Cruz, que, além de dividir essa jornada comigo, também compartilhou os próprios croissants!"

Croissants pelo mundo: Amsterdam, Bruxelas e Curitiba (por: Fabio Cruz)

Viajar, para mim, é também um ritual gastronômico. Sempre que posso, paro para um café e algo para acompanhar. Como bom brasileiro, o café não é apenas uma bebida, mas um momento de pausa, conversa e até contemplação. Mas, há algum tempo, um detalhe começou a se destacar nessa experiência: o croissant.

Nem sempre essa busca foi bem-sucedida. Muitas vezes, esperava encontrar um croissant que correspondesse à minha idealizada memória afetiva, mas acabava recebendo algo completamente diferente. Pequenas frustrações da vida, não é mesmo? Porém, passei a compará-los em diferentes lugares, cidades e países. O que começou como uma curiosidade se tornou um hábito informal — quase um ritual gastronômico descomprometido.

Antes de contar sobre essa busca, vale um pouco sobre mim: sou Fabio Cruz, professor, pesquisador, viajante curioso e amigo do Chef Rafael Lafraia, que abriu espaço pra mim nessa coluna. Sempre que visito um novo destino, minha forma de conhecê-lo passa também pela gastronomia — e, nos últimos tempos, o croissant se tornou um ponto focal das minhas viagens.

Criei até um checklist, os especialistas que me perdoem, para avaliar alguns aspectos essenciais:

Já estive em mais de 30 países e, embora nem sempre tenha encontrado croissants memoráveis, alguns se destacaram. Aqui, compartilho três que me marcaram: um em Amsterdam, um em Bruxelas e um em Curitiba.

Na vibrante cidade de Amsterdam, capital oficial dos Países Baixos, passei um dia com o Chef Lafraia e nossas digníssimas esposas em uma verdadeira expedição croissantística. O dia estava surpreendentemente quente para o mês de março, então alugamos quatro bicicletas e, de um croissant a outro, pedalávamos na tentativa (talvez ingênua) de gastar algumas calorias entre uma degustação e outra.

Visitamos quatro estabelecimentos, mas o que mais nos impressionou foi o Saint-Jean. Com um ambiente pequeno, organizado e aconchegante, a padaria minimalista cria um espaço acolhedor e moderno. Ao chegar, nos deparamos com uma fila de pelo menos 20 pessoas e, para nossa surpresa, ouvimos duas mulheres comentando que, naquele dia, a fila estava “pequena”.

Além do croissant, provamos um Danish de laranja – uma massa folhada coberta com creme aerado de laranja, simplesmente fenomenal. O croissant, por sua vez, era crocante, leve, fresco e delicioso, mas pecava em um detalhe essencial para mim: não estava quentinho. Somente depois de terminarmos de comer, o Chef Lafraia comentou que todos os produtos eram veganos. Isso me surpreendeu, não esperava esse nível de qualidade e sabor vindo de produtos limitadamente veganos. Curiosamente, em nenhum lugar isso era anunciado – o Saint-Jean não se vende como uma padaria vegana, trata isso como algo natural. Sensacional!

Na Bélgica, provei croissants em diversos estabelecimentos, desde padarias de bairro até confeitarias renomadas. Mas o que mais me marcou foi o da Brood Boulangerie, em Ixelles – um distrito que, embora administrativamente independente, é frequentemente considerado parte de Bruxelas. Com suas charmosas ruas, cafés e restaurantes, Ixelles é um convite a longos passeios gastronômicos.

A Brood impressionou em vários aspectos: o pão era excelente, um folhado de maçã nos conquistou de imediato, mas o pain au chocolat decepcionou pela escassa (quase inexistente) quantidade de chocolate. Talvez foi aquele em específico, preciso voltar lá pra provar novamente. Já o croissant, esse sim, foi memorável. Dourado, leve, crocante e com camadas muito bem definidas. No entanto, assim como o de Amsterdam, também não estava quentinho. Apesar disso, era um croissant excepcional.

No Brasil, também fiz minha peregrinação. Experimentei em diversas panificadoras e bairros de Curitiba, e o que mais me conquistou foi o da Prestinaria.

Sempre opto pelo croissant clássico – o de amêndoas, para o meu paladar, é excessivamente doce. Na Prestinaria, o croissant reúne todas as qualidades que considero essenciais: dourado, crosta crocante, miolo leve e aerado, com uma estrutura impecável. Mas há um diferencial que faz toda a diferença: é sempre servido quentinho, como se tivesse acabado de sair do forno.

E talvez seja justamente esse detalhe que o faz tão especial. Porque, no fim das contas, mais do que uma massa folhada amanteigada, um bom croissant é uma experiência sensorial.

Minha busca por croissants memoráveis está longe de terminar. Ainda pretendo viajar e provar muitos outros por esse mundão afora, mas, por ora, sei exatamente onde encontrar três que nunca decepcionam.

Amsterdam, Saint-Jean: https://www.saintjean.nl/ OU https://www.instagram.com/saintjean.nl
Ixelles(Bruxelas), Brood Boulangerie: https://www.instagram.com/broodboulangerie/
Curitiba, Prestinaria: https://www.prestinaria.com.br/ OU https://www.instagram.com/prestinaria

Rafael Lafraia:
"Um grande abraço e muito obrigado ao meu amigo Fabio Cruz por contribuir com a coluna Um Chef Pelo Mundo. E compartilhem e leiam aqui o meu texto anterior: Dubai Além do Luxo: Sabores, Culturas, Camelos e Chocolate!"