Rafael Lafraia
Um chef pelo mundo
A Magia das Praças de Alimentação
Na primeira mordida, pensei: "Tenho que compartilhar isso". Caí de paraquedas numa espécie de praça de alimentação em Londres durante minha última ida à cidade. Historicamente, as praças de alimentação surgiram como um jeito prático de oferecer comida boa e rápida, acompanhando o ritmo das grandes cidades. Exemplos como o Borough Market, em Londres, mostram como essa ideia evoluiu ao longo dos séculos, partindo dos antigos mercados. No Brasil, o Mercado Municipal de São Paulo e o Mercado Central de Belo Horizonte são exemplos que também aquecem o coração e o paladar de quem passa por lá.
Em Curitiba, a comida de rua tem um charme. Da Feirinha da Praça da Ucrânia ao Cadore e ao Souk, entre outros lugares como a Rua Prudente de Moraes cheia de opções, cada lugar tem sua própria alma. Algumas dessas “praças” são temporárias, outras funcionam em dias específicos, mas todas têm algo em comum: movimentam o comércio local e transformam e ocupam as ruas cidade. São experiências que misturam tradição com novidade e que me inspiram como cozinheiro, seja pela criatividade dos sabores ou pelo clima descontraído que convidam a gente a explorar as opções.
Voltando ao papo de Londres, o lugar onde tropecei, sem querer, chama-se Market Hall Victoria. Logo na entrada, já deu para sentir o potencial do espaço: dois andares cheios de operações diferentes, mais um rooftop com mesas espalhadas e um bar bem descolado. Foi ali que experimentei os tacos do DF Tacos: rápidos, generosos e explosivos em sabor. A barriga de porco laqueada com salada crocante e picante é aquele tipo de combinação que faz a gente fechar os olhos na primeira mordida. Também fiquei de olho no conceito do Bao e do Gopal's Corner, provei quase tudo deles. Com menus superenxutos e bem pensados, esses lugares mostram que fazer comida rápida, deliciosa e consistente, mesmo com uma fila gigantesca, é coisa séria. E é o tipo de desafio que me empolga como empreendedor do ramo.
Agora, se o assunto é volume e comida de rua boa de verdade, o Borough Market é imbatível. Toda vez que vou a Londres, é parada obrigatória. Fica bem debaixo da London Bridge, e é difícil não se impressionar com o clima do lugar. Dá para sentir o cheiro das especiarias e das comidas quentes no ar. É um mercado que existe desde a Idade Média (sim, por volta de 1014!) e hoje tem de tudo: queijos incríveis, vinhos, embutidos, verduras fresquinhas e comida de todo canto do mundo. Para mim, o ponto alto são os grandes panelões de paella, os asiáticos e o risoto de cogumelos selvagens, preparados na sua frente. A fila é longa, mas você nem sente. Só de olhar aquele arroz brilhando com os cogumelos perfumados já dá água na boca. Você pega sua porção e vai sentar onde dá, ou até come de pé mesmo, tem uma escada onde todo mundo senta pra comer, de lá você vê tudo acontecendo, os cozinheiros, a bagunça cheia de harmonia, filas enormes e rápidas, cada um que passa, passa com uma comida diferente na mão, é dificil escolher e saber de onde sai tanta comida.
Esses lugares me fazem lembrar por que escolhi trabalhar com comida. Seja em Curitiba ou Londres, essas praças e mercados vão além de servir um prato – eles carregam histórias, sabores e encontros que ficam na memória. É o tipo de ambiente que me inspira. Saio desses lugares sempre com a sensação de que é isso que quero levar para quem experimenta a minha comida: algo que faça o momento valer a pena, que seja mais do que só uma refeição, mas um dia pra guardar.