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Quentão de pinga (feito em casa) na canequinha. Como recomenda a tradição das festas juninas.

Anacreon de Téos

Panela do Anacreon

Tem muito “vinho quente” por aí. Mas quentão verdadeiro é o de pinga

05/06/2020 12:32
Fiquei enfezado. Onde quer que eu leia que serve quentão, na verdade não serve quentão. E olhe que, nesses últimos tempos (bem antes da pandemia, claro), por conta até desse ofício de escrevinhador gastronômico, fui a muitos locais, entre restaurantes e bares e feiras e eventos. E só o que vi foi “vinho quente” sendo servido como se fosse quentão.
(Nos últimos anos, duas exceções: o Bar/Restaurante do Pachá e o Fritz Cervejaria Artesanal. Com o encerramento do Fritz, em maio, por conta da pandemia, só o Pachá segue servindo.)
Quentão mesmo, o original, é
feito com pinga. Desde que me conheço por gente é assim e as primeiras
lembranças me remetem ainda à infância em Ponta Grossa – e depois à
adolescência, em Curitiba – tempos em que o quentão era servido como bebida
obrigatória para esquentar as tantas e famosas festas juninas que existiam.
E a sensação que tenho no
paladar é a do pinhão na brasa com os primeiros goles de quentão que fui
autorizado a beber, pois, afinal de contas, ainda era menor de idade e meus
pais sempre foram muito rigorosos com esses limites que hoje andam bem mais
frouxos.
Quentão de pinga, cachaça,
coisa simples, apenas a bem-feita mistura fervida de açúcar, pinga, limão,
gengibre, cravo e canela (de vez em quando uma casca de laranja). Bebida na
canequinha esmaltada e sempre servindo pouco, para não dar tempo de esfriar –
aí fica ruim, morna e adocicada.
Com o passar do tempo o
quentão foi sumindo, tanto quanto as festas juninas. E foi entrando em seu
lugar o “vinho quente”, que é servido com gemada, suspiro e
sabe-se-lá-mais-o-quê. E que fica doce, doce demais, nem se aproximando do
quentão original.
Sendo assim, como minha
incursão pelos bares nesses últimos anos em nada resultou e o povo continua
publicando fotos de vinho quente como se fosse quentão, aumentou a vontade de
tomar um verdadeiro quentão e, por isso, resolvi fazer o meu. Em casa mesmo,
com a receita original de décadas.
Ficou um espetáculo, deu
aquele arrepio na espinha que a volta ao passado proporciona. Único senão,
porém, foi não ter cachaça branca à disposição e apenas da amarela. Com isso, a
bebida ficou mais escura, sem o mesmo brilho que teria com a pinga incolor. Mas
nada que alterasse o sabor. E, para os interessados, é rápido e muito fácil de
fazer.
Quer arriscar? Lá vai a receita.
  • 1½ xícara de açúcar
  • 1½ xícara de água
  • 50g de gengibre cortado em fatias finas
  • 3 limões cortados em rodelas
  • 4 xícaras de pinga
  • 3 cravos-da-índia
  • 2 pedaços pequenos de canela em rama
  • 1 tira de casca de laranja
  1. Aqueça o açúcar em fogo alto, mexendo de vez em quando, até caramelizar.
  2. Junte todos os ingredientes, menos a pinga, e ferva, mexendo até dissolver o açúcar.
  3. Junte a pinga, com cuidado, de preferência fora do fogo, misture e deixe ferver em fogo baixo por 3 a 4 minutos.
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