O Mangôo às cegas atrai atenção. Mas às claras é mais do que delicioso

Semanas atrás escrevi aqui
sobre uma experiência de jantar às cegas que o restaurante Mangôo tem realizado
a cada duas semanas, sempre às quartas-feiras (confira
aqui).

Divulguei, propaguei, mas não
provei, pois ainda prefiro enxergar a comida, apreciar suas cores, seus matizes.
Mas reconheço que é uma experiência interessante para quem pretende testar seus
sensores olfativos, de tato e de paladar.

Então, dias atrás, fui ao Mangôo. Mas nada de venda nos olhos. Foi às claras, para poder novamente sentir e aplaudir a criatividade do chef Gabriel Fagundes, 31 anos, que acompanho e a quem respeito há um bom tempo. Formado pelo Centro Europeu, atuou primeiro na equipe da chef Manu Buffara, no restaurante Manu. Conheci quando ele integrava a brigada da cozinha do restaurante Terra Madre. De lá, seguiu para a França e, estabelecido em Bordeaux, estudou na respeitada escola de lapidação de profissionais de hotéis e restaurantes Cafa Formations. E também trabalhou em restaurantes consagrados de lá, obtendo uma base de cozinha toda francesa, que faz o alicerce de sua criação.

No seu retorno, associou-se a
ex-companheiros de Terra Madre e C La Vie para, em 2019, abrir o primeiro
Mangôo, com proposta de restaurante casual, instalado na Mercadoteca (escrevi,
na ocasião). A pandemia não permitiu a continuidade do estabelecimento e
cada chef seguiu para seu lado.

Fagundes deu um tempo e
decidiu, meses depois, reabrir o Mangôo. Foi em maio de 2020, no auge das
incertezas com a Covid. Mas agora sozinho, imprimindo um estilo mais pessoal e
o sotaque mais francês ao que serviria.

Superando percalços,
sobreviveu às restrições de mercado e, com o retorno do atendimento
preferencial, conseguiu ver seu pequeno restaurante (36 lugares) decolar.
Muito, é claro, pelo diferencial dos jantares às cegas, que chamaram a atenção
para a casa. E aí, por consequência, pela qualidade dos pratos que apresenta em
seu curto menu: quatro entradas e onze pratos principais, além de executivos e
saladas (veja o cardápio
completo aqui).

Reservei e fui lá, anunciando
meu interesse com um pouco de tudo que serve. Virou menu degustação, que o chef
não tem como rotina, mas pode servir, desde que haja reserva antecipada com
esta observação. Poderia até definir como menu confiança, pois não tinha a
mínima ideia do que viria.

Tudo começou com Releitura de rolinho vietnamita, com
camarões em emulsão de vinho branco, bifum ao pesto, bacon, tomate sweet grape
e maionese de bisque. Delicada combinação de sabores, belo formato e uma
prévia do que mais de atraente ainda viria pela frente.

A seguir, um sanduíche. Um Sanduíche de porco, composto de brioche artesanal da casa, porco na farinha panko com
picles de cebola e toque de geleia de bacuri. Detalhe: esta geleia deliciosa o
chef recebeu do amigo e ex-sócio no Mangôo, João Carvalho Gabriel (ex-Terra
Madre), que atualmente está de volta em sua terra natal, Belém do Pará.

Aí
chegou a hora da massa. O chef mandou à mesa Agnolotti artesanal de burrata, camarões com emulsão de bisque, vinho
branco e alcaparras. Com bottarga em lascas e toque crocante.

Para
fechar a sequência de pratos salgados, um show de sabores combinados: Barriga de porco curada e assada lentamente,
demi-glace e risoto de gorgonzola, compota de figo e amêndoas laminadas. A carne
é assada em baixa temperatura e o preparo leva três dias, para então compor o
prato com um cremoso risoto, no destaque do agridoce que a compota de figo
passa, tudo na medida.

De
sobremesa, um clássico francês (claro, não poderia faltar): Beignet.  É como se fosse uma carolina ou o nosso sonho,
e é um dos marcos da confeitaria de New Orleans, cidade no sul dos Estados
Unidos, colonizada pelos franceses. O do Mangôo tem a massa de brioche recheada
com castanha-do-pará e envolta em molho cítrico de limão, laranja e maracujá.

Alguns
desses pratos, como a Barriga de porco e o Agnolotti, estão no menu regular do
restaurante, embora com acompanhamentos diferentes. A Barriga com fettuccine à boscaoila
(R$ 69) e o Agnolotti com molho pomodoro italiano (R$ 55).

Gabriel
tem boa mão para tudo que se propõe a fazer e o resultado só pode verter nesses
pratos ricos em sabores que provei. Pratos lindos e bem apresentados, diga-se. O
que, certamente, uma degustação às cegas cercearia essa possibilidade de
apreciar.

Ainda
mais quando harmonizados com alguns dos bons rótulos de vinhos nacionais
contidos na carta, o que tem sido uma tendência nos restaurantes de nossos
dias. Sim, há também vinhos importados, para aqueles que ainda resistem em
admitir a qualidade dos brasileiros.

Os jantares às cegas são experiências lúdicas e também com sabor, mas poder reservar um menu degustação como o que provei não tem comparação.

Ah, sim, em tempo: O nome Mangôo vem da palavra "mangút" (pronunciada com "t" mudo) do dialeto borum, da tribo Kréna, originária do Paraná, que significa comida.

O
restaurante funciona para almoço e jantar de terça a sábado.

Rua Visconde
do Rio Branco, 948 – Mercês

Fone: (41)
99255-1500

Instagram: @mangoocwb

=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=

Entre em contato com o blog:

Blog anterior: http://anacreonteos.blogspot.com/

Twitter: http://twitter.com/AnacreonDeTeos

E-mail: a-teos@uol.com.br