Anacreon de Téos
Panela do Anacreon
Menu de inverno do Coin - por Ivan Lopes, é de aquecer corpo e alma

Stinco de cordeiro ao molho do assado, com legumes salteados e mandioca com crispis de bacon - prato principal do novo menu de inverno do Coin. | Foto: Anacreon de Téos
Sabe o que é poder contar com um porto seguro? Mar revolto, ondas instáveis e, em meio a todo o perigo, surge lá na frente o ancoradouro para pôr fim àquela agonia. Porto seguro.
Na gastronomia também tem disso. Você sai de casa (ou do cinema, do trabalho, seja de onde for) e fica sem inspiração ou intuição para escolher o destino. Isso não, isso também não e não... importante nesse momento também é poder encontrar um porto seguro, com aromas e sabores que só fazem bem e reconfortam, tanto o paladar quanto a mente.
Tenho, desde sempre, meu porto seguro. Ele atende pelo nome de Ivan Lopes. E isso desde os primórdios dele por essas bandas, pilotando as panelas do Terra Madre (onde permaneceu por sete ano, até decidir abrir uma casa própria, então o Mukeka).
Andei procurando pelas primeiras matérias que escrevi sobre ele e encontrei essa aqui, de 2010, ocasião de lançamento de novo cardápio do Terra Madre. Naquele mesmo ano, no auge de sua inspiração, promoveu um jantar com outros chefs vindos de fora (incluindo o então desconhecido Henrique Fogaça – confira aqui), utilizando somente carnes de caça, com cinco oi seis delas, cada uma da lavra de um dos cozinheiros presentes. Sucesso total!

Desde aqueles tempos, então, saborear as criações de Ivan Lopes já era a certeza de bons momentos, fosse quando fosse, fosse como fosse. E continuou sendo assim em sua passagem pelo Mukeka, se acentuando ainda mais desde que inaugurou o Coin – por Ivan Lopes, funcionando desde 2021, sempre em alta, na incansável busca de sabores e atrações que mantenham o vínculo do cliente com a casa.
E mantém. Seja no dia a dia, almoço e jantar, seja nas parcerias com outros chefs – em eventos que ocorrem uma vez por mês -, seja no Surf & Turf dos fins de semana, nos varais externos e no que mais passa pela cabeça dele.
Ir ao Coin é sempre uma bênção, para o espírito e para o paladar. Nada melhor do que reencontrar aquele prato favorito, pedir e se entregar novamente ao já esperado e prazeroso degustar. Mas também é sempre interessar ficar atento ao que há de novo, já que o chef é um incansável garimpeiro de nuanças, sabores e texturas.
Menu de inverno

Pois Ivan Lopes lançou, dias atrás, o reforço de inverno para o menu da casa. São cinco pratos, mais consistentes, que enriquecem a ementa da casa. Como estávamos em duas pessoas, ele serviu porções menores, para permitir a degustação de todas as etapas.
Começou com uma assinatura da família Lopes: Cassoulet de frutos do mar / fregola / creme de capim-limão (R$ 120). Chegou a Curitiba trazida por Ivo Lopes (irmão de Ivan) e foi adotada por todos aqueles que trabalharam com eles. Lenin Palhano, por exemplo, parceiro antigo de Terra Madre, tinha uma variação do prato como entrada no Feer (atualmente fechado para reformas). O nome “cassoulet” é uma referência, para combinação de uma leguminosa com pedaços de proteínas, tanto quanto o clássico prato francês. Pode ser feijão branco, quinoa, trigo em grão, cevadinha... tudo isso me lembro de ter sido utilizado por alguns deles. Aqui, no caso, a fregola (aquela massa redondinha, originária da Sicilia) substitui a leguminosa e dá textura ao prato. Delicioso, aliás, como só se poderia esperar.

Como segunda entrada veio uma Sopa de cebola caramelizada e gratinada (R$ 68), das melhores que provei em Curitiba. Aquele tom próximo do avermelhado é natural, deve-se à lenta caramelização das cebolas (cerca de uma hora, em fogo lento extraindo dali todo sabor possível). Pode inscrever no rol, seguramente, como uma das referências de sopa de cebola no menu de inverno da cidade.

E fomos seguindo, com um Sorrentino de pinhão com ricota, pomodoro rústico, agrião e camarão (R$ 85). Lidar com pinhão não é fácil e quem está no mundo da gastronomia tem conhecimento disso. Não tem um gosto muito expressivo e tende a se render para os acompanhamentos ou demais ingredientes de um prato. Mas Ivan Lopes sabe lidar com isso o resultado final ficou bem interessante. Dá, sim, para sentir o sabor do pinhão, lá no recheio da massa, com seu molho primário e delicado.


Gosto quando os chefs lidam e anunciam o “ovo perfeito”. É uma questão de honra fazer bem feito, jeito tal que a gema se desmanche ao primeiro toque. Invariavelmente esse ovo é cozido no sous vide por 45 minutos a 60ºC. E ele é a estrela do prato seguinte, Polenta cremosa trufada / ragu de cogumelos / ovo perfeito / fonduta de parmesão (R$ 56). O prazer de furar a gema e misturar todo o conteúdo do prato, harmoniosamente combinando seus fatores, é único. Parece fácil e simples, mas polenta não é para qualquer um. Para Ivan, sim, é.
Como no trato do aipim, servido a seguir: Mandioca com bacon, os pedaços macios do tubérculo envolvidos por um molho cremoso, completando com crocantes chips de bacon.

Isto para acompanhar o prato principal: Stinco de cordeiro ao molho do assado, com legumes salteados (R$ 139), prato que serve muito bem duas pessoas e se desmancha ao primeiro toque do garfo ou da faca. Seria daqueles pratos para o garçom esnobar, separando os pedaços com uma colher, tão macio ficou. O stinco é cozido no sous vide a 65ºC, por 35 minutos, e depois dourado no forno. Não poderia ficar melhor. Recomendadíssimo.
De sobremesa, Arroz doce com chocolate.

Estes são apenas os lançamentos de inverno, juntando-se ao já rico cardápio da casa (confira aqui), que oferece opções tanto para o menu executivo como à la carte. Deu para entender porque é sempre um porto seguro?
O Coin – por Ivan Lopes é pet friendly e abre de quarta a segunda, e funciona direto, para almoço, café da tarde e jantar, das 11h30 às 23h – exceto aos domingos, que tem horário diferenciado, das 12h às 16h. Terça, fechado.
Coin por Ivan Lopes
Rua Mauá 110 - Alto da Glória
Reservas: https://w.app/coinporivanlopes
Instagram: @coinporivanlopes