Anacreon de Téos
Panela do Anacreon
Dinossauros, russos, libaneses e um vinho de 1860 nos 70 anos do Ile de France
Cliente antigo, restaurante
mais antigo ainda – tradicional, top na cidade. Por anos, no mesmo dia de cada
semana, o cliente chegava e se dirigia à mesma mesa, onde, enquanto sorvia uma
dose de uísque com gelo e depois de consultar o cardápio, pedia o mesmo prato
de sempre: “Strogonoff de filet”.
mais antigo ainda – tradicional, top na cidade. Por anos, no mesmo dia de cada
semana, o cliente chegava e se dirigia à mesma mesa, onde, enquanto sorvia uma
dose de uísque com gelo e depois de consultar o cardápio, pedia o mesmo prato
de sempre: “Strogonoff de filet”.
Como o garçom era sempre o
mesmo, o tempo, a cada novo atendimento, foi aproximando os dois, que eram
tratados pelos nomes (o do cliente, claro, sempre antecedido do “doutor”). Até
que um dia, após servir o uísque de sempre do cliente, o garçom tomou a
liberdade de iniciar o diálogo de maneira direta.
mesmo, o tempo, a cada novo atendimento, foi aproximando os dois, que eram
tratados pelos nomes (o do cliente, claro, sempre antecedido do “doutor”). Até
que um dia, após servir o uísque de sempre do cliente, o garçom tomou a
liberdade de iniciar o diálogo de maneira direta.
- O mesmo de sempre. Certo,
doutor?
doutor?
- Prefiro primeiro ver o
cardápio, por favor.
cardápio, por favor.
- Claro, o doutor manda.
Depois de um tempo lendo e
relendo, virando as páginas a todo instante, veio a decisão.
relendo, virando as páginas a todo instante, veio a decisão.
- Strogonoff de carne.
- Sim senhor, doutor, boa
escolha!
escolha!
E nada mais foi dito.
Quem me contou essa história,
anos e anos atrás, foi um garçom do restaurante Ile de France, que tinha vários
clientes cativos como aquele e cada um deles identificado e relacionado com uma
das mesas. Eram conhecidos dos garçons, quase sempre pediam os mesmos pratos,
mas, como esse do exemplo, preferiam pedir no tempo certo, sem interferências.
anos e anos atrás, foi um garçom do restaurante Ile de France, que tinha vários
clientes cativos como aquele e cada um deles identificado e relacionado com uma
das mesas. Eram conhecidos dos garçons, quase sempre pediam os mesmos pratos,
mas, como esse do exemplo, preferiam pedir no tempo certo, sem interferências.
Essa lembrança me veio por
conta da comemoração dos 70 anos do Ile de France, a ser comemorado no próximo
dia 13 (leia
matéria aqui do Bom Gourmet), mas com uma programação completa de eventos e
festividades já a partir da próxima segunda-feira.
conta da comemoração dos 70 anos do Ile de France, a ser comemorado no próximo
dia 13 (leia
matéria aqui do Bom Gourmet), mas com uma programação completa de eventos e
festividades já a partir da próxima segunda-feira.
Fui atrás de novas histórias, pelo menos das mais recentes, numa conversa com Márcia Oliveira, sócia gestora nesse novo formato que permitiu a plena recuperação do restaurante e a mudança para o Batel, em local mais confortável e adequado aos tempos de hoje (expliquei as mudanças aqui, em 2019, e também o novo processo em material publicado no fim de 2020 – confira aqui).
Entre uma taça de vinho e
outra, vieram várias passagens, que merecem ser conhecidas.
outra, vieram várias passagens, que merecem ser conhecidas.
Pelo menos duas delas também envolvem os strogonoffs, os pratos mais consumidos no restaurante desde sempre. Tanto que somente no ano passado, já na casa nova, os números ultrapassaram os 5 mil vendidos (confira publicação aqui), com larga distância sobre os demais pratos clássicos do Ile de France.
Os russos e o arroz no strogonoff
O primeiro causo tem a ver com
uma família russa. Logo eles, da terra onde o Strogonoff foi inventado, para
depois sofrer as transformações pelos franceses e as adaptações pelos
brasileiros.
uma família russa. Logo eles, da terra onde o Strogonoff foi inventado, para
depois sofrer as transformações pelos franceses e as adaptações pelos
brasileiros.
A família russa chegou no dia
31 de dezembro. Mas não para o jantar, antecipando possível comemoração de ceia
(o restaurante funcionou normalmente, mas com os horários de jantar). Estava
ali para o almoço um casal com uma criança e, como falavam inglês, foram atendidos
pela Márcia, que ficou sabendo na ocasião que, na tradição deles também o
almoço do último dia do ano era importante, tanto quanto a noite e a passagem
de ano.
31 de dezembro. Mas não para o jantar, antecipando possível comemoração de ceia
(o restaurante funcionou normalmente, mas com os horários de jantar). Estava
ali para o almoço um casal com uma criança e, como falavam inglês, foram atendidos
pela Márcia, que ficou sabendo na ocasião que, na tradição deles também o
almoço do último dia do ano era importante, tanto quanto a noite e a passagem
de ano.
Eram russos, mas residiam
havia bom tempo na Noruega e já estavam no Brasil faziam três meses. Não sabiam
como fazer, pela importância que representava o almoço do dia 31 para eles e,
por pesquisas e indicações, chegaram no Ile de France.
havia bom tempo na Noruega e já estavam no Brasil faziam três meses. Não sabiam
como fazer, pela importância que representava o almoço do dia 31 para eles e,
por pesquisas e indicações, chegaram no Ile de France.
Na hora de conheceram o
cardápio, de pronto o menininho pediu o Strognoff
de filet. Os pais aderiram à ideia e o prato, originalmente russo, chegou à
mesa. Acompanhado, como de praxe, de batata-palha e arroz. Sim, arroz, coisa
bem de brasileiro, que, quando possível, põe arroz em tudo. E foi dessa maneira
que Emile Decock (o francês que fundou o restaurante, há 70 anos) conseguiu
agradar o paladar dos frequentadores de então, lançando o que é hoje uma
instituição no acompanhamento do prato.
cardápio, de pronto o menininho pediu o Strognoff
de filet. Os pais aderiram à ideia e o prato, originalmente russo, chegou à
mesa. Acompanhado, como de praxe, de batata-palha e arroz. Sim, arroz, coisa
bem de brasileiro, que, quando possível, põe arroz em tudo. E foi dessa maneira
que Emile Decock (o francês que fundou o restaurante, há 70 anos) conseguiu
agradar o paladar dos frequentadores de então, lançando o que é hoje uma
instituição no acompanhamento do prato.
“Maravilhoso, diferente,
jamais imaginaríamos isso, de podermos provar um strogonoff tão diferente, tão
longe de casa e tão bom” – afirmaram, surpreendidos pela combinação dos sabores
que o prato representa.
jamais imaginaríamos isso, de podermos provar um strogonoff tão diferente, tão
longe de casa e tão bom” – afirmaram, surpreendidos pela combinação dos sabores
que o prato representa.
E tudo porque o menino pediu o
prato que os pais, talvez, não tivessem escolhido.
prato que os pais, talvez, não tivessem escolhido.
As crianças comportadas
Crianças, aliás, são
frequentadoras constantes do restaurante. Não apenas depois que houve a
abertura também em horário de almoço nos fins de semana, já no novo imóvel. Vão
também à noite, acompanhadas dos pais e em reuniões de família.
frequentadoras constantes do restaurante. Não apenas depois que houve a
abertura também em horário de almoço nos fins de semana, já no novo imóvel. Vão
também à noite, acompanhadas dos pais e em reuniões de família.
E, ao contrário do que se vê
hoje como comum, apenas uma pequena minoria ainda se entrega à distração com
tablets ou celulares. As demais acompanham os pais em tudo, levadas por eles
para aprenderem a se portar em um restaurante de classe e a compartilhar as
comidas até então desconhecidas.
hoje como comum, apenas uma pequena minoria ainda se entrega à distração com
tablets ou celulares. As demais acompanham os pais em tudo, levadas por eles
para aprenderem a se portar em um restaurante de classe e a compartilhar as
comidas até então desconhecidas.
Muita gente leva as crianças
para educá-las e incorporá-las naturalmente a esse novo ambiente. E aí, não é
raro vê-las comendo escargots, por exemplo, tentando pegá-los com as pinças
adequadas e se dando bem.
para educá-las e incorporá-las naturalmente a esse novo ambiente. E aí, não é
raro vê-las comendo escargots, por exemplo, tentando pegá-los com as pinças
adequadas e se dando bem.
Importante lembrar que o Ile
de France oferece um prato kids: Mignon
em cubos, spaghetti ao molho sugo, saladinha colorida e batata frita. Mas a
maioria dos pais faz questão de servir aos filhos os mesmos pratos pedidos
pelos adultos e, nesse meio tempo, os gestores garantem que nunca viram ou ouviram
qualquer criança choras, fazer manha, espernear ou ter chilique. Pelo contrário.
O que se vê, em alguns casos, é a criança sair do restaurante no colo de pai ou
mãe, dormindo.
de France oferece um prato kids: Mignon
em cubos, spaghetti ao molho sugo, saladinha colorida e batata frita. Mas a
maioria dos pais faz questão de servir aos filhos os mesmos pratos pedidos
pelos adultos e, nesse meio tempo, os gestores garantem que nunca viram ou ouviram
qualquer criança choras, fazer manha, espernear ou ter chilique. Pelo contrário.
O que se vê, em alguns casos, é a criança sair do restaurante no colo de pai ou
mãe, dormindo.
Dinossauros, unicórnios e outros bichos
Mas houve tempo em que algumas
crianças reclamavam, choravam e exigiam atenção dos pais. Newton Godinho, o
garçom mais antigo da casa, com mais de 30 anos no salão, que o diga. Décadas atrás
ficou incomodado com uma criança que não parava de chorar e quase não deixava
os pais aproveitarem o jantar, já servido.
crianças reclamavam, choravam e exigiam atenção dos pais. Newton Godinho, o
garçom mais antigo da casa, com mais de 30 anos no salão, que o diga. Décadas atrás
ficou incomodado com uma criança que não parava de chorar e quase não deixava
os pais aproveitarem o jantar, já servido.
Godinho se aproximou e pediu
permissão aos pais para tentar entreter a criança. Perguntou se ela queria um
dinossauro. Como assim, dinossauro? Ele pegou um muslet – aquele arame que
envolve as rolhas dos espumantes e champagnes – e começou a moldar um
dinossauro. Ficou perfeito e a criança se interessou. Aí, ele recomendou: “cuide
bem dele, agrade, dê de comer e passeie com ele, na mesa e em volta dela.” O menino
se acalmou, ficou brincando e permitiu que os pais terminassem o jantar sem
mais percalços.
permissão aos pais para tentar entreter a criança. Perguntou se ela queria um
dinossauro. Como assim, dinossauro? Ele pegou um muslet – aquele arame que
envolve as rolhas dos espumantes e champagnes – e começou a moldar um
dinossauro. Ficou perfeito e a criança se interessou. Aí, ele recomendou: “cuide
bem dele, agrade, dê de comer e passeie com ele, na mesa e em volta dela.” O menino
se acalmou, ficou brincando e permitiu que os pais terminassem o jantar sem
mais percalços.
Desde então, o garçom começou
a fazer dinossauros para distrair as crianças, o que hoje é praticamente uma
norma da casa. Criança não sai de lá sem levar um.
a fazer dinossauros para distrair as crianças, o que hoje é praticamente uma
norma da casa. Criança não sai de lá sem levar um.
Semanas atrás, Godinho atendeu
um cliente, um jovem pai que estava acompanhado do filho.
um cliente, um jovem pai que estava acompanhado do filho.
- Você não está me
reconhecendo – perguntou o cliente.
reconhecendo – perguntou o cliente.
- Não estou. De onde seria?
- Você fez um dinossauro para
mim quando eu era criança e eu nunca mais me esqueci. E hoje, de tanto que
falo, trouxe meu filho para conhecer de perto o tal dinossauro. Era aquele
menino do primeiro dinossauro.
mim quando eu era criança e eu nunca mais me esqueci. E hoje, de tanto que
falo, trouxe meu filho para conhecer de perto o tal dinossauro. Era aquele
menino do primeiro dinossauro.
São emoções que passam de geração
a geração no Ile de France.
a geração no Ile de France.
Hoje a produção é feita
praticamente em série, a cada garrafa de champagne aberta. O que incentiva
também as crianças a terem suas próprias coleções. E a vender mais champagne
também, evidentemente.
praticamente em série, a cada garrafa de champagne aberta. O que incentiva
também as crianças a terem suas próprias coleções. E a vender mais champagne
também, evidentemente.
Só que não mais somente com
dinossauros, porque outros bichos passaram a ser incorporados ao plantel. Recentemente,
de um grupo de 18 pessoas, três eram crianças que foram acompanhar a confecção
dos bichos. “Eu quero um unicórnio” – disse uma delas. E não é que saiu um?
Assim como um cachorro, que a criança sugeriu que levantasse uma perninha, “porque
ele está querendo fazer xixi”.
dinossauros, porque outros bichos passaram a ser incorporados ao plantel. Recentemente,
de um grupo de 18 pessoas, três eram crianças que foram acompanhar a confecção
dos bichos. “Eu quero um unicórnio” – disse uma delas. E não é que saiu um?
Assim como um cachorro, que a criança sugeriu que levantasse uma perninha, “porque
ele está querendo fazer xixi”.
Libaneses com filho brasileiro
Um dia chegou um casal de
libaneses. Eles explicaram que residem na Nigéria, onde trabalham numa
multinacional, mas que estavam no Brasil para que pudesse ser aqui o nascimento
do filho – alegaram ser precária a condição dos hospitais do país africano.
libaneses. Eles explicaram que residem na Nigéria, onde trabalham numa
multinacional, mas que estavam no Brasil para que pudesse ser aqui o nascimento
do filho – alegaram ser precária a condição dos hospitais do país africano.
Eles se estabeleceram em
Curitiba, num Airbnb no próprio prédio onde funciona o restaurante.
Curitiba, num Airbnb no próprio prédio onde funciona o restaurante.
O bebê nasceu forte numa sexta-feira
e no sábado da semana seguinte os dois estavam no Ile de France. E, por
coincidência, numa mesa próxima, estava o pediatra da criança. Juntaram as
mesas e aproveitaram a noite toda.
e no sábado da semana seguinte os dois estavam no Ile de France. E, por
coincidência, numa mesa próxima, estava o pediatra da criança. Juntaram as
mesas e aproveitaram a noite toda.
O marido queria que ela
comesse salada, regime. Ela insistiu e pediu filé. “Deixe eu ser feliz hoje” –
justificou.
comesse salada, regime. Ela insistiu e pediu filé. “Deixe eu ser feliz hoje” –
justificou.
Eles voltaram outras vezes,
inclusive com mesas maiores, com amigos.
inclusive com mesas maiores, com amigos.
Os shows, as fotos e a Pacheca
Curitiba é hoje uma cidade
referência para a realização de grandes shows internacionais. Muita gente
prefere vir aqui do que enfrentar os grandes agitos de São Paulo e Rio de
Janeiro. Como o casal de maranhenses, que veio de São Luís com as duas filhas,
para assistir ao show de Harry Styles, na Pedreira Paulo Leminski, em dezembro
último.
referência para a realização de grandes shows internacionais. Muita gente
prefere vir aqui do que enfrentar os grandes agitos de São Paulo e Rio de
Janeiro. Como o casal de maranhenses, que veio de São Luís com as duas filhas,
para assistir ao show de Harry Styles, na Pedreira Paulo Leminski, em dezembro
último.
Tinham ido a outro
restaurante, mas como não tinha ar condicionado, descobriram o Ile de France
pela Internet, pesquisando “o melhor restaurante de Curitiba”. Encontraram a
página do Prêmio Bom Gourmet, onde o Ile é citado (veja
aqui), e chegaram.
restaurante, mas como não tinha ar condicionado, descobriram o Ile de France
pela Internet, pesquisando “o melhor restaurante de Curitiba”. Encontraram a
página do Prêmio Bom Gourmet, onde o Ile é citado (veja
aqui), e chegaram.
Gostaram tanto do atendimento,
da comida, do salão, que já deixaram reservada uma data para o fim do mês de
março. Sim, eles vão retornar para o show do Cold Play.
da comida, do salão, que já deixaram reservada uma data para o fim do mês de
março. Sim, eles vão retornar para o show do Cold Play.
Quem vai uma vez sempre volta –
costuma dizer o pessoal da casa. Como já retornou várias vezes o Alexandre, um
fotógrafo especializado em imagens para médicos e afins, mineiro que volta e
meia está em Curitiba.
costuma dizer o pessoal da casa. Como já retornou várias vezes o Alexandre, um
fotógrafo especializado em imagens para médicos e afins, mineiro que volta e
meia está em Curitiba.
A primeira vez no restaurante
foi com a família. Ficaram numa mesa em frente ao belo bar da casa e aí uma
garrafa exposta chamou a atenção de Alexandre: Quinta da Pacheca Porto. Produzido
pela vinícola portuguesa Quinta da Pacheca,
a garrafa trouxe de imediato as lembranças de seu casamento, como cerimônia
realizada justamente ali, na vinícola.
foi com a família. Ficaram numa mesa em frente ao belo bar da casa e aí uma
garrafa exposta chamou a atenção de Alexandre: Quinta da Pacheca Porto. Produzido
pela vinícola portuguesa Quinta da Pacheca,
a garrafa trouxe de imediato as lembranças de seu casamento, como cerimônia
realizada justamente ali, na vinícola.
Hoje ele tem coleção completa
da linha dos Porto e sempre incentiva o consumo. Tornou-se amigo da casa e
retornou outras tantas vezes.
da linha dos Porto e sempre incentiva o consumo. Tornou-se amigo da casa e
retornou outras tantas vezes.
Pratos fora do cardápio
E quando o cliente chega e
pede um prato que provou tempos atrás, mas que hoje não se encontra mais no
cardápio? Não tem problema, há um jeito para tudo.
pede um prato que provou tempos atrás, mas que hoje não se encontra mais no
cardápio? Não tem problema, há um jeito para tudo.
Uma noite chegou um casal e o
pedido do rapaz foi enfático: quero um Filet
au marchand du vin. Não estava mais no menu e ele disse que pediu porque
provou quando era muito jovem e gostou muito. Mas não se lembrava mais do
sabor.
pedido do rapaz foi enfático: quero um Filet
au marchand du vin. Não estava mais no menu e ele disse que pediu porque
provou quando era muito jovem e gostou muito. Mas não se lembrava mais do
sabor.
Deu-se um jeito e o prato
saiu. É um filé com o molho denso de vinho tinto, tipo bordelaise, fica bem
escuro.
saiu. É um filé com o molho denso de vinho tinto, tipo bordelaise, fica bem
escuro.
- Sabia que era bom, mas não
imaginava que era tanto. Agora, mais maduro, sei avaliar melhor os pratos e, se
já gostei na época, imaginem agora. Parabéns, acima da expectativa!
imaginava que era tanto. Agora, mais maduro, sei avaliar melhor os pratos e, se
já gostei na época, imaginem agora. Parabéns, acima da expectativa!
Em outra ocasião, cliente
pediu um Bœuf Provençal, que também não é mais servido. Quer dizer, não tem no
menu, mas pode, sim, ser servido.
pediu um Bœuf Provençal, que também não é mais servido. Quer dizer, não tem no
menu, mas pode, sim, ser servido.
O casal frequenta assiduamente
o restaurante, sempre comemora aniversário de casamento no restaurante. E o Bœuf Provençal
marcou passagens anteriores.
o restaurante, sempre comemora aniversário de casamento no restaurante. E o Bœuf Provençal
marcou passagens anteriores.
- Queremos do jeito que era
feito antigamente. Fazem igual?
feito antigamente. Fazem igual?
- Fazemos, sim. Faremos.
Fizeram. E o comentário do cliente,
após satisfeito: “ressuscitaram o Leonidas? ” – referência ao chef Leonidas
Hoffman, que comandou a cozinha do Ile de France por 30 anos.
após satisfeito: “ressuscitaram o Leonidas? ” – referência ao chef Leonidas
Hoffman, que comandou a cozinha do Ile de France por 30 anos.
Pedidos de casamento
Não são raros os casos de
pedidos de casamento realizados no Ile de France. São frequentes, bem mais do
que se poderia imaginar.
pedidos de casamento realizados no Ile de France. São frequentes, bem mais do
que se poderia imaginar.
Certa vez um cliente perguntou
se entregariam um presente numa cloche – aquela espécie de tampa de prato, que
os garçons retiram após chegarem à mesa. Era um relógio raro e caríssimo.
Deixou na hora do almoço, para ser entregue no momento solene, no jantar. O restaurante
aceitou, mas a tarde toda foi tensa, com aquele relógio que valia uma fortuna
guardado ali. Mas deu tudo certo e a noite foi linda.
se entregariam um presente numa cloche – aquela espécie de tampa de prato, que
os garçons retiram após chegarem à mesa. Era um relógio raro e caríssimo.
Deixou na hora do almoço, para ser entregue no momento solene, no jantar. O restaurante
aceitou, mas a tarde toda foi tensa, com aquele relógio que valia uma fortuna
guardado ali. Mas deu tudo certo e a noite foi linda.
Tanto quanto o outro caso, do
rapaz que pediu reserva, dizendo que faria no salão o pedido de casamento. Combinou
que deixaria flores e as alianças, para serem entregues após a sobremesa.
rapaz que pediu reserva, dizendo que faria no salão o pedido de casamento. Combinou
que deixaria flores e as alianças, para serem entregues após a sobremesa.
Era um casal muito jovem, ela
toda tatuada. Visual que, a princípio, não teria muito a ver com o Ile de
France. Mas tinha, sim, e quando o jantar terminou, os garçons chegaram com o
buquê de flores e com a cloche, contendo as alianças. No momento em que o garçom
levantou a cloche, o rapaz se ajoelhou, pegou as alianças e pediu, solenemente,
a moça em casamento.
toda tatuada. Visual que, a princípio, não teria muito a ver com o Ile de
France. Mas tinha, sim, e quando o jantar terminou, os garçons chegaram com o
buquê de flores e com a cloche, contendo as alianças. No momento em que o garçom
levantou a cloche, o rapaz se ajoelhou, pegou as alianças e pediu, solenemente,
a moça em casamento.
À essa altura, o restaurante
estava que era um silêncio só. Mas em seguida explodiu em aplausos e
comemoração quando veio o “sim”.
estava que era um silêncio só. Mas em seguida explodiu em aplausos e
comemoração quando veio o “sim”.
Mudança de hábitos
Voltemos ao Strogonoff. Outro desses
clientes antigos, assíduo, sempre pedia o Strogonoff
de camarão. Quando o restaurante começou a abrir para o almoço, logo em
seguida ele estava lá, testando o novo horário.
clientes antigos, assíduo, sempre pedia o Strogonoff
de camarão. Quando o restaurante começou a abrir para o almoço, logo em
seguida ele estava lá, testando o novo horário.
E decidiu, já que estava por
lá em situação diferente, pedir outro prato. E optou pelo Strogonoff de filet, o campeão da casa. O comentário foi
inevitável.
lá em situação diferente, pedir outro prato. E optou pelo Strogonoff de filet, o campeão da casa. O comentário foi
inevitável.
- Isso aqui é uma barbaridade!
Eu nunca tinha comido nesses 30 anos. Perdi tempo de não ter experimentado
antes. Pode me fazer o favor de preparar mais um, para eu levar para casa e
comer no almoço de amanhã?
Eu nunca tinha comido nesses 30 anos. Perdi tempo de não ter experimentado
antes. Pode me fazer o favor de preparar mais um, para eu levar para casa e
comer no almoço de amanhã?
A partir desse dia, a cada
nova visita passou a pedir um prato diferente, pois há pratos que o cliente
ama, mas sempre existem alternativas a conhecer.
nova visita passou a pedir um prato diferente, pois há pratos que o cliente
ama, mas sempre existem alternativas a conhecer.
O vinho de 1860
Certa vez apareceu no
restaurante um cliente indicado por uma das sócias do grupo proprietário do Ile
de France. Jean Claude, brasileiro de ascendência francesa e merchand de vin –
profissional que garimpa vinhos raros e antigos para comercializar a cliente
especiais.
restaurante um cliente indicado por uma das sócias do grupo proprietário do Ile
de France. Jean Claude, brasileiro de ascendência francesa e merchand de vin –
profissional que garimpa vinhos raros e antigos para comercializar a cliente
especiais.
Já conhecia o Ile antigo, mas
ficou interessado em fazer um evento no novo local. Não deu certo, mas passou
por lá no fim da tarde, acompanhado de dois amigos sommeliers. Apenas de
passagem, porque tinham jantar fechado em um restaurante para clientes
exclusivos.
ficou interessado em fazer um evento no novo local. Não deu certo, mas passou
por lá no fim da tarde, acompanhado de dois amigos sommeliers. Apenas de
passagem, porque tinham jantar fechado em um restaurante para clientes
exclusivos.
- Mas gostaríamos muito de
poder ficar. Pena que não vai dar certo.
poder ficar. Pena que não vai dar certo.
- E por que não voltam mais
tarde, para provar a sobremesa?
tarde, para provar a sobremesa?
A sugestão de Márcia Oliveira
foi prontamente aceita e, por volta das 22h, lá estavam eles acomodados na
casa. Jean Claude, mais os dois franceses e clientes dos garimpos de vinho. Chegaram
com duas garrafas: um francês antigo e valioso e uma garrafa toda empoeirada de
um vinho do Porto datado de 1860, que fazia parte da adega da família real.
foi prontamente aceita e, por volta das 22h, lá estavam eles acomodados na
casa. Jean Claude, mais os dois franceses e clientes dos garimpos de vinho. Chegaram
com duas garrafas: um francês antigo e valioso e uma garrafa toda empoeirada de
um vinho do Porto datado de 1860, que fazia parte da adega da família real.
O rótulo da garrafa era
pintado, por isso ainda se mantinha mais ou menos em ordem. Mas a rolha se
despedaçou ao se abrir o vinho. O que não impediu de atestar tratar-se de um
vinho maravilhoso, de acordo com quem provou – incluindo os sócios do
restaurante, a quem foram oferecidas duas taças.
pintado, por isso ainda se mantinha mais ou menos em ordem. Mas a rolha se
despedaçou ao se abrir o vinho. O que não impediu de atestar tratar-se de um
vinho maravilhoso, de acordo com quem provou – incluindo os sócios do
restaurante, a quem foram oferecidas duas taças.
O Porto acompanhou um Crêpe
Suzette que encantou os dois sommeliers franceses. Garantiram que jamais
provaram tão bom na França. E enfatizaram que a tradição de o Ile de France
manter o mesmo estilo de cardápio desde os tempos de Emile Decock é um fato
alvissareiro. Aquele estilo de cardápio clássico é o que chamam, na França, de Menu Royale e que praticamente não
existe mais, com o advindo do serviço empratado.
Suzette que encantou os dois sommeliers franceses. Garantiram que jamais
provaram tão bom na França. E enfatizaram que a tradição de o Ile de France
manter o mesmo estilo de cardápio desde os tempos de Emile Decock é um fato
alvissareiro. Aquele estilo de cardápio clássico é o que chamam, na França, de Menu Royale e que praticamente não
existe mais, com o advindo do serviço empratado.
O elogio do crítico
Para qualquer restaurante, o
melhor elogio que pode acontecer é o tempo de permanência do cliente à mesa. Degusta
algo aqui, prova algo ali, pede tal prato, tal vinho, harmoniza também o outro
e vai ficando.
melhor elogio que pode acontecer é o tempo de permanência do cliente à mesa. Degusta
algo aqui, prova algo ali, pede tal prato, tal vinho, harmoniza também o outro
e vai ficando.
Para o pessoal do Ile de
France o maior dos elogios que receberam nos últimos tempos veio de Guilherme
Rodrigues, colunista de vinhos aqui do Bom Gourmet e apreciador da boa comida,
que já teve a oportunidade de provar – e comparar – por todo o mundo.
France o maior dos elogios que receberam nos últimos tempos veio de Guilherme
Rodrigues, colunista de vinhos aqui do Bom Gourmet e apreciador da boa comida,
que já teve a oportunidade de provar – e comparar – por todo o mundo.
Naquela noite, dias depois da
reabertura do restaurante, Rodrigues foi um dos primeiros a chegar, bem cedo,
assim que o restaurante abriu. E foi, certamente, um dos últimos a sair.
reabertura do restaurante, Rodrigues foi um dos primeiros a chegar, bem cedo,
assim que o restaurante abriu. E foi, certamente, um dos últimos a sair.
Elogiou muito ao deixar a
mesa, ao cumprimentar os profissionais e, ao chegar à porta, retornou para
dizer: “obrigado por terem devolvido o Ile de France a Curitiba”.
mesa, ao cumprimentar os profissionais e, ao chegar à porta, retornou para
dizer: “obrigado por terem devolvido o Ile de France a Curitiba”.
O entusiasmo foi tanto, que
pediu espaço na editoria do Bom Gourmet para escrever um artigo sobre a retomada
do restaurante (confira
aqui), num texto delicioso de se ler e perceber o que deve ter sentido
naquela ocasião.
pediu espaço na editoria do Bom Gourmet para escrever um artigo sobre a retomada
do restaurante (confira
aqui), num texto delicioso de se ler e perceber o que deve ter sentido
naquela ocasião.
A despedida da dona Avany, 102 anos
Um dos momentos mais
comoventes da história do Ile de France se deve a uma cliente antiga, bem
antiga, e que já havia sido muito assídua da casa. Aliás, dois momentos que são
interligados.
comoventes da história do Ile de France se deve a uma cliente antiga, bem
antiga, e que já havia sido muito assídua da casa. Aliás, dois momentos que são
interligados.
Ainda nos últimos dias do
endereço antigo do restaurante, ali na Praça 19 de Dezembro, uma pessoa chegou
para verificar se havia a possibilidade de conseguir uma mesa para 12 pessoas para
comemorar um aniversário. E que sua mãe,
dona Avany Macedo, de 101 anos, insistia e não abria mão de comemorar ali, onde
sempre festejou datas importantes anteriormente.
endereço antigo do restaurante, ali na Praça 19 de Dezembro, uma pessoa chegou
para verificar se havia a possibilidade de conseguir uma mesa para 12 pessoas para
comemorar um aniversário. E que sua mãe,
dona Avany Macedo, de 101 anos, insistia e não abria mão de comemorar ali, onde
sempre festejou datas importantes anteriormente.
Não havia mesas, estava tudo lotado.
Mas os argumentos, respaldando o pedido da mãe, começaram a fazer efeito e
então veio a proposta.
Mas os argumentos, respaldando o pedido da mãe, começaram a fazer efeito e
então veio a proposta.
- Será possível, desde que
vocês venham bem cedo, para o jantar começar a ser servido às 18h, pois temos
uma reserva para 12 pessoas às 20h30. Se vocês saírem às 20h, será possível.
vocês venham bem cedo, para o jantar começar a ser servido às 18h, pois temos
uma reserva para 12 pessoas às 20h30. Se vocês saírem às 20h, será possível.
Aceitação de pronto. A família
chegou por volta das 17h30, em meio a todo o grande movimento das filas de
ônibus, nos pontos situados ali na frente do restaurante. Dona Avany de cadeira
de rodas, o que não foi problema, pois os profissionais da casa trataram de carregá-la,
com a cadeira, para o salão onde estava a mesa reservada.
chegou por volta das 17h30, em meio a todo o grande movimento das filas de
ônibus, nos pontos situados ali na frente do restaurante. Dona Avany de cadeira
de rodas, o que não foi problema, pois os profissionais da casa trataram de carregá-la,
com a cadeira, para o salão onde estava a mesa reservada.
Deu tudo certo, eram todos
muito divertidos, estavam felizes e a aniversariante mais ainda.
muito divertidos, estavam felizes e a aniversariante mais ainda.
Passado um tempo, já na casa
nova, chega uma jovem pedindo espaço para reservar comemoração pelo aniversário
da avó. Justamente a dona Avany, com presença de 40 pessoas. Ela, no maior
pique, foi uma das últimas a sair, não sem deixar de elogiar uma diferença para
o local anterior: não havia escadas, facilitando a locomoção.
nova, chega uma jovem pedindo espaço para reservar comemoração pelo aniversário
da avó. Justamente a dona Avany, com presença de 40 pessoas. Ela, no maior
pique, foi uma das últimas a sair, não sem deixar de elogiar uma diferença para
o local anterior: não havia escadas, facilitando a locomoção.
Seis meses depois retorna um
dos filhos, pedindo reserva para comemorar seu aniversário de 80 anos. Perguntando
sobre dona Avany, respondeu, entristecido.
dos filhos, pedindo reserva para comemorar seu aniversário de 80 anos. Perguntando
sobre dona Avany, respondeu, entristecido.
- Acabamos de enterrar mamãe
hoje. Mas queremos vir aqui para reunião de família e pela oportunidade de
brindar por ela, pela linda vida e pelo exemplo que sempre nos deu.
hoje. Mas queremos vir aqui para reunião de família e pela oportunidade de
brindar por ela, pela linda vida e pelo exemplo que sempre nos deu.
E assim foi feito, num grande momento brinde que dona Avany, ali de cima, certamente endossou.
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