Chico, o advogado que largou tudo para vender queijos artesanais

Quando o advogado Francisco Mesquita Gonçalves trocou Belo Horizonte por Curitiba jamais imaginaria que o desfecho dessa mudança seria completamente diferente do que se poderia esperar. Queijos artesanais. Chegou em 2012, convidado para ser sócio de um respeitado escritório de advocacia. Só que o tempo foi passando e a rotina foi entediando o profissional, que começou a pensar em mudar de atividade. Sim, mas fazer o quê? Era a virada para 2019.

Chico, como todo mineiro, já
tinha intimidade com os queijos. Verdade que, então, com os mais comuns, mas
apreciava muito quando tinha a oportunidade de provar um diferente, o que em
Minas tem em todo canto.

Conseguiu alguns e começou a
levar a um bar, onde se encontrava com os amigos. Acompanhavam as cervejas e os
drinques ali preparados. Os queijos começaram a fazer sucesso e ele deu um
jeito de conseguir mais, em volume maior. Logo, os amigos estavam pedindo e comprando
e aí veio o gancho para a atividade futura: pesquisar e vender queijos.

Viajou, foi até sua terra, alugou uma moto e saiu sem destino. Até que, na Serra da Canastra, errando o caminho, foi parar na fazenda de um produtor. Era a Fazenda Matinha do Ouro, do casal Otinho e Eliane, em São Roque de Minas (Microrregião da Canastra) - o queijo deles ganharia, mais tarde, Prata no Mondial du Fromage - França 2021.

Por lá, viu tudo, provou e
ficou encantado com os queijos ali elaborados. Trouxe aquele produzido pelo
casal e alguns outros para Curitiba, porcionou e vendeu aos amigos
interessados. Sucesso total!

Começou a aprimorar a ação e,
dali uns dias, pediu um espaço para expor alguns queijos em eventos realizados
no Moka Clube, no
Juvevê. Lá, todos os sábados, havia degustação de cafés, quatro ou cinco tipos,
e também a oportunidade de chamar novos empreendedores, com boa conexão ao trabalho
deles. Havia pão, mel e, com Chico, passou também a ter queijos, dispostos numa
mesa, à disposição de prova para os interessados.

Deu certo, novamente. E aí Francisco Gonçalves não era mais o advogado. Nem era mais Francisco. Era o Chico Queijo, ganhando fama e respeito entre os apreciadores e conhecedores de queijo. Em especial, dos queijos artesanais.

Decidiu estudar e pesquisar.
Saiu visitando queijeiros, não só em Minas, pois descobriu que outros estados,
incluindo o Paraná, apresentavam produções diferenciadas, personalizadas, com
as características locais e boas doses de ousadia na criatividade. Viajou mais
de 6 mil quilômetros para constatar existir uma riqueza enorme no setor.

Como a fama foi crescendo e se
espalhando, Chico passou a vender pela internet. Com a rede de contatos que
estabeleceu, conseguia exemplares que jamais chegariam aos clientes.

Até que a demanda se tornou
considerável e ele decidiu partir para um espaço físico. O que conseguiu no
início do ano passado, inaugurando a loja Chico Queijos Artesanais, no
Hugo Lange.

Com este ambiente definido, começou a chegar queijo de toda parte - o catálogo tem sempre entre 75 e 90 tipos diferentes. Apenas brasileiros e agro artesanais, quesitos dos quais ele não abre mão. Alguns deles confundem os cultuadores dos grandes queijos internacionais, pois os sabores e as nuanças produzidas por aqui se equivalem. Lembram e se assemelham com Camembert, Comté, Parmesão, Azul italiano, Tomme Vaudoise, Grana Padano, Brie (de cabra), Vacherin Mont d’Or, Serra da Estrela, Tallegio e o que mais se possa imaginar.

Dá para dizer que ali, somente
nos sabores dos queijos, é de se realizar uma viagem imaginária pelos
principais países produtores. E é possível degustá-los na própria loja, onde há
algumas mesas e ocorrem alguns eventos, com reserva prévia, propondo encontro em
torno de queijos, charcutaria e embutidos.

Sim, porque Chico decidiu
também abrir campo para outros produtos. Como a linha da Duca Charcutaria, de
Florianópolis, que tem, entre outros itens, presunto cru, bresaola, copa, lardo
e um Peito de pato curado que me
encantou. Tudo vem finamente fatiado. Também há artigos da Charcuteria Sagrada Família, de Montes
Claros (MG).

E ainda mais: produtos
tipicamente franceses, da Forez
Charcutaria (por Julien Mercier), como patês, foies, rilletes, Jambon persillé
(com o predomínio do sabor da salsinha), oreillers (terrines envoltas em massa,
com formato de travesseiros) e algo incrível, que eu só havia provado mesmo na
França: Cailletes de la Drôme,
original de Chabueil, no Drôme, que fica abaixo de Lyon, em direção ao coração
da Provence. É como se fosse um bolo de carne, redondo, feito com carne e fígado
de porco, ervas e legumes, revestida com a crépine, que é a rede (chamam de redanha
ou véu, por aqui) que envolve os órgãos internos dos animais. Vem praticamente
pronta, com instruções para o cliente finalizar em casa. Evidentemente,
comprei.

Ainda tem mais, muito mais:
doce de leite (mineiro, claro), conservas, molhos, pimentas, torrones (da Renatta Ferian),
goiabada, pães (uma vez por semana) e até manteiga de garrafa (da autêntica,
não aquela que é de leite, como chamam).

Há algumas garrafas de vinho,
que podem ser degustadas no local, para acompanhar os pedidos, ou levadas para
casa. E ainda muito ainda a descobrir em cada cantinho das tantas prateleiras
ali existentes.

São tão cativantes os sabores dos queijos artesanais e demais artigos à venda, que é impossível não sair de lá feliz, a agradecer o bendito dia em que Francisco Mesquita Gonçalves decidiu trocar a banca pelo balcão e ser apenas o Chico Queijo.

Ganhamos todos nós, com
certeza.

A loja funciona de segunda a
sexta, das 10h às 19h. No sábado, das 10 às 17h.

Rua Atílio Bório, 1.531 - Hugo Lange

Fone: (41) 99915-1002

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