Anacreon de Téos
Panela do Anacreon
Chegou o Ichigo Ichie, para enfatizar o alto nível da comida japonesa em Curitiba
O simples e o sabor por si só: Barriga de atum e flor de sal. ! Foto: Anacreon de Téos
O verdadeiro artista é aquele que consegue criar uma obra de arte a partir dos recursos mais simples, sem necessidade de elucubrações ou paetês. O bom cozinheiro é aquele que extrai todo o melhor sabor de um ingrediente, fazendo com que brilhe por si só e realce o as sensações ali existentes, sem necessidade de condimentos que iriam roubar a cena.
Assim é Regis Shighematsu, chef de cozinha e sushiman, que transforma as pequenas e delicadas porções em joias ao paladar. Gosto do trabalho dele desde sempre, quando o conheci, comandando as ações no Aizu, a partir da inauguração daquele restaurante que revolucionou a comida japonesa em Curitiba. Foi em 2015 e escrevi a respeito, na ocasião.
De lá, partiu para outra revolução, responsável por todo o processo do Bee.O, incluindo o Con – Cozinha Autoral, que também escreveu sua história de sucesso (o que registrei, então) e devoção e ainda hoje provoca suspiros dentre aqueles que se entregavam às surpresas que Shighematsu oferecia, ali do outro lado do balcão.
Com o fechamento do Con, o chef nem pensou em ir embora, pois já vinha sendo assediado pela tentação de estar à frente de mais um restaurante. E não um qualquer, seria “O” restaurante. Fiquei sabendo disso em setembro passado e passei a informação aqui no Bom Gourmet (confira o link), gerando expectativa que somente agora se desfaz, com a inauguração do Ichigo Ichie, belo espaço no Seminário.
Ichigo Ichie é um conceito filosófico japonês que parte da premissa segundo a qual cada encontro é único e jamais voltará a se repetir da mesma maneira, pois tudo e todos estão em permanente mudança. Trata-se de uma postura existencial, que convida a desfrutar o presente de forma plena. Pois a partir de agora (foi inaugurado nesta segunda-feira, 04), Ichigo Ichie é também o nome do mais novo restaurante de alta gastronomia japonesa de Curitiba, fruto do insight e da perseverança do empresário Junior Marcondes, que, tanto fez, que conseguiu abrir uma casa exatamente com tudo o que pretendia – e até mais um pouco.
Marcondes tem uma história interessante. Empresário bem-sucedido em outros ramos, entrou no setor gastronômico há pouco mais de um ano, convidado que foi para completar o quadro de sócios do Restaurante Maria Eugênia. E não é que ele gostou da brincadeira? Aprofundou-se mais na gestão, trazendo de suas experiências externas um norte para também ser utilizado na área. Por isso, tinha colocado na cabeça abrir outro restaurante.
Que não seria um qualquer e sim algo como o Ichigo Ichie. Para tanto, contou com a parceria de sua esposa, a publicitária Lyana Lustosa (também com atuação no Maria Eugênia) e também do empresário Alex Tanko Imoto.
Sabores por si só
Tive a oportunidade de conhecer a casa, dias atrás, durante o período de soft open do Ichigo Ichie. E que bela casa! O tom do cinza prepondera, discreto, ao fundo, como de resto são os japoneses. Em conexão com este ideal, o projeto da arquiteta Karolinna Venturi destaca a marcenaria, que trouxe elementos em tons claros que revestem teto, parte das paredes, bar e sushibar.
São três pavimentos que ocupam a construção, ligados por elevadores e escadas. No primeiro andar fica o salão principal, com a bancada na qual o chef trabalha ao lado de mais quatro sushiman, com oito lugares no balcão além das mesas – um deles é Ronaldo Fogaça, seu braço direito e companheiro desde os tempos de Aizu, de quem já contei uma bela história de vida.
No segundo andar, está o bar de drinques, que tem carta assinada pelo premiado mixologista Ariel Todeschini, mais mesas e também uma sala reservada, que poderá ser utilizada para eventos. Este último espaço tem banheiros privativos e conta com a possibilidade de experiências exclusivas, podendo oferecer menus especiais, por exemplo. Dali se tem acesso a uma bela sacada.
E para comer? No cardápio, um dos destaques é uma sugestão do chef, inspirada no nome da casa. Ela é dividida em dois segmentos. O Ichigo apresenta os seguintes sushis: Atum akami, Barriga de salmão, Atum com jalapeño, Atum com Tobandjan (pasta de feijão salgada, chinesa, feita de soja fermentada, favas e várias especiarias), Hamachi (Yellowtail, peixe japonês), Robalo, Camarão e Tamago (um tipo de omelete). Já o Ichie, vem com sashimis especiais: Atum ôtoro (parte mais gordurosa da barriga), Robalo, Hamachi, Polvo e Lula. O menu traz ainda entradas, carpaccios, selados, tartares, duplas de sushis e pratos quentes.
Mas não tem nada que se assemelhe à sensação de poder desfrutar de um omakase, que é aquele momento de parceria e cumplicidade entre o sushiman e o cliente. É viver aquela agradável e intrigante tensão do inesperado e, com Regis Shighematsu, vivo esse efeito desde seus primeiros tempos de Aizu. Com alguns pitacos também de Ronaldo Fogaça, é claro. Indescritível, só provando para se sentir leve, flutuando, como em êxtase.
Para quem deseja um complemento ao término da degustação, as sobremesas são assinadas pelo chef Gustavo Lorenzon, do Pastry Lab, e foram criadas especificamente para o Ichigo.
E aí é só aplaudir e ser feliz. Numa época marcada pela dispersão, profusão de informações e falta de sintonia, se desligar da rotina e se reconectar em volta de uma mesa de jantar pode garantir um inesquecível momento de plena e feliz existência. O passado fica para trás, se descarta a ansiedade com o futuro e apenas se vive o presente. E é isso que se sente no Ichigo Ichie, pode ter certeza.
O restaurante funciona de segunda-feira a sábado, das 19h às 23h30.
Ichigo Ichie
Avenida Sete de Setembro, 5970 - Seminário
Reservas pelo WhatsApp (41) 9896-4928
Instagram: @ichigocuritiba
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