Armazém Santo Antônio, restaurante de classe, sempre entre os melhores

Tenho Giuliano Hahn como um dos melhores cozinheiros que conheci. Desde o início, quando, ungido pelo consagrado chef francês Alain Uzan, assumiu a cozinha do restaurante Vindouro já a partir da inauguração (Uzan veio contratado como chef consultor e ficou por uns tempos, até colocar as coisas em ordem e no ritmo correto).

Soltou-se de vez quando (com mais dois sócios, em 2015) adquiriu o Armazém Santo Antônio e reformulou o cardápio da casa – inaugurada em 2000 -, que marcava, então, por pratos mais sisudos e formais – escrevi aqui. Algumas marcantes assinaturas da casa foram mantidas (e estão até hoje), como o bacalhau, as moquecas e o barreado. Mas, a partir daí a assinatura de Hahn passou a predominar em todos os itens.

E o restaurante manteve a boa média de frequência de público, com clientela fiel e abertura para novos fregueses. Sustentando a linha clássica da formação gastronômica do chef, o menu começou a apresentar algumas inovações, a partir de experiências bem sucedidas com ingredientes não tão óbvios.

Sua incursão mais ousada foi a construção de um forno à lenha dentro do restaurante – respeitando todos os preceitos de um imóvel de 1870, tombado. Chegou a ter uma época em que às quintas-feiras o menu saía todo o forno (leia aqui), o que, com o tempo se consolidou para diversos preparos da cozinha.

Por algumas razões de saúde, Giuliano Hahn teve de se afastar da casa por uns tempos. Mas, de uns meses para cá, totalmente recuperado e refeito, retornou ao batente com pique total mexendo no cardápio e criando mais, para manter o conceito do estabelecimento em alta. E tanto elaborou, testou, lapidou, aprimorou, que decidiu lançar o novo cardápio da casa, respeitando aqueles mesmos pratos “imexíveis” (como diria aquele ministro) e inserindo inspiradas versões, dentre entradas, pratos principais e sobremesas.

Dias atrás realizou uma sessão exclusiva, para alguns poucos convidados, para apresentar o perfil do menu de hoje em dia. Foi show, sucesso total, com algumas deleitosas surpresas em vários momentos da noite.

A degustação começou com um couvert, com pães e manteiga de ervas, antecedendo o Tartar de mignon com farofa de castanha-do-Pará, servido sobre o brioche artesanal da casa (todos os pães saem daquele forno).

Em seguida, um prato que tem sido sucesso desde o lançamento, semanas atrás: Carne de tigre (R$ 55), uma livre interpretação do chef sobre a nossa consagrada Carne de onça. Ele decidiu colocar um ceviche de siri sobre uma broa preta e, referindo-se ao “leche de tigre”, a base do tempero dos ceviches, encontrou uma boa sacada para a apresentação. Muito saboroso, justificando-se o retorno já apresentado pelos clientes.

A etapa seguinte foi, para mim, um dos marcos da ocasião: Vieira e polvo grelhados, servidos com lardo tostado. A delicada combinação de duas proteínas frágeis, como a vieira e o lardo, mexeu com as papilas gustativas e encantou (é prato que não está no menu, mas não custa tentar pedir).

Hahn incluiu na degustação um prato que serviria no jantar do Dia dos Namorados: Camarão rosa com pera cozida em chá preto e baunilha Bourbon, uma afetuosa combinação agridoce. Em seguida, dois pratos que compõem o cardápio: Ravióli de siri (massa artesanal recheada com carne de siri ao molho de moqueca, com camarões e coco em fita – R$ 94) e o campeão da casa: Mignon gorgonzola (tournedo grelhado ao molho gorgonzola, acompanhado de cartola de queijo e ricota defumada ao molho Alfredo – R$ 98).

Por falar em Dia dos Namorados, o chef arrasou na sobremesa daquela noite, arrancando aplausos. Ele inventou simplesmente um Crème brûlée de pipoca, ao que consta, impecável.

Para fechar, duas sobremesas: Panna cotta com calda de frutas vermelhas e um Pain perdu (a versão francesa da rabanada), servido com um surpreendente sorvete de cachaça.

Para que se tenha uma ideia, aqui vão alguns dos pratos que compõe a nova ementa do Armazém Santo Antônio. De entrada, entre outras, Ostras frescas (6 unidades – R$ 50), Ostras gratinadas ao beurre blanc (6 unidades – R$ 68) – prato que acompanha o chef desde o início da carreira, Tentáculos de polvo à Lagareiro (servido com couve, batatas ao murro e aïoli de pimentão defumado – R$ 79 e Vieiras canadense gratinadas ao beurre blanc e capim-limão (6 unidades – R$ 95).

Daí, para continuar, Bolinho de bacalhau (tradicional receita portuguesa, utilizando bacalhau Gadus Mohrua – 6 unidades R$ 64,80), Bruschetta caprese (R$ 25), a já citada Carne de tigre, Frigideira de bacalhau (lascas salteadas no azeite, cebola, alho, salsinha e azeitonas pretas, acompanhada de torradas - R$ 74) e a Burrata servida com tomatinhos confitados, pesto, rúcula e pão italiano assado em forno à lenha (R$ 75).

Além do mignon que nos foi servido, o restaurante ainda propõe outras opções, como Mignon Dijon (tournedo grelhado, ao molho de mostarda, acompanhado de linguini de espinafre – R$ 98), Mignon funghi (tournedo grelhado ao molho funghi secchi, acompanhado de tagliatelli de açafrão – R$ 98) e Mignon com crosta de castanha-do-Pará (acompanhado de risoto de alcachofras e queijo brie R$ 98).

E ainda outras alternativas de carnes, como Lascas de confit de canard com ravióli de maçã verde, cogumelos frescos e ervilha-torta (levemente defumado – R$ 96), Carré de cordeiro com batatas coradas (R$ 118), Paleta de cordeiro assada em forno à lenha (acompanhada de legumes na manteiga, tagliatelle e molho de hortelã – R$ 218, para duas pessoas) e um prato que nunca saiu de cartaz no restaurante: Barreado (prato típico do litoral paranaense, cuja carne é cozida em fogo lento, acompanhado de arroz, banana, pirão e farinha de mandioca – R$ 158).

Também são marcantes ali os três tipos de moqueca (de peixe, de camarão e de peixe com camarão) e as propostas de bacalhau, a saber: Bacalhau Gomes de Sá (lascas de bacalhau Gadus Mohrua salteadas no azeite, com batatas aos murros, ovos, azeitonas pretas, pimentões e cebola refogada – R$ 179 para 2 pessoas), Bacalhau às natas (lascas de bacalhau Gadus Morhua gratinadas, servidas com molho de nata, acompanhado de batata sauté e arroz branco – R$ 179 para 2 pessoas), Lombo de bacalhau à marinheiro (bacalhau Gadus Mohrua gratinado, com creme de espinafre, batatas aos murros, azeitonas, ovo cozido, cebola confitada e tomate-cereja – R$ 132) e ainda Lombo de bacalhau grelhado (bacalhau Gadus Mohrua, acompanhado de ovos, azeitonas pretas, batata e cebola refogada – R$ 132).

Ainda do mar, dá para citar Camarões rosa grandes grelhados (com linguini de açafrão, crudo de tomate e limão siciliano – R$ 115,50), Camarões rosa grandes, empanados no coco (servidos com arroz-jasmim e amêndoas ao molho de coco, com curry e capim-limão – R$ 119), o clássico dos clássicos, Camarões à Martha Rocha (camarões rosa gratinados, com molho Aurora, requeijão cremoso e claras em neve, acompanhado arroz branco e batata sauté – R$ 189, para 2 pessoas) e Polvo à provençal (com arroz negro e batatas aos murros – R$ 218, para 2 pessoas).

Ah, sim, ainda tem uma sempre elogiada Paella (receita tradicional espanhola, com lula, polvo, mariscos, camarões e vieiras – R$ 185, 2 pessoas).

Além da boa comida – considero um dos melhores restaurantes da cidade -, o Armazém Santo Antônio atrai pelo ambiente, muito bem decorado, aproveitando e valorizando os detalhes da velha casa tombada, com seus dois andares.

Sem contar o espaço externo, os pergolados, onde muita gente costuma fazer o happy hour e até mesmo pedir a refeição, especialmente durante o dia e em noites de bom tempo.

Estar ali é como retornar aos tempos em refeições em casas de família, de tias ou avós, enquanto o chef Giuliano Hahn constrói suas poesias gastronômicas a cada nova combinação de ingredientes e sabores. Não de graça usa, como slogan, a frase: “a técnica da cozinha contemporânea com o sabor da culinária afetiva”.

O restaurante funciona de terça a sábado, das 19h às 23h, para jantar. Aos sábados e domingos, também para almoço, das 12h às 15h30.

Rua Solimões, 344 – São Francisco

Reservas e informações: (41) 3114-9755

Instagram: @armazemsantoantoniooficial

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