Anacreon de Téos
Panela do Anacreon
4º Morretes Chef, vale muito a pena ir

Siri refogado, caldo de moqueca e farofa crocante, com farinha de mandioca do litoral paranaense, prato do chef Rafael Krieger para o Restaurante Madalozo. Foto: Anacreon de Téos
Uma ótima ideia, praticada e aprovada. Estive neste último fim de semana no litoral, curioso e ansioso para entender como seria o novo formato do Morretes Chef, agora em sua quarta edição.
Idealizado em 2018, por Marcus Andreolli – com a parceria do chef Celso Freire -, movimentava a cidade com a presença de chefs consagrados, de outras cidades (Curitiba, especialmente), que apresentavam pratos de suas criações em alguns dos principais restaurantes de Morretes.
Aconteceu em 2018 e 2019 no local e, em 2020, online, sendo retomado somente agora.
Claro que a iniciativa não era inédita, pois lá atrás, em 2011, a vizinha Antonina recebeu oito dos principais chefs dos restaurantes de Curitiba, para evento semelhante, num fim de semana. O objetivo era atrair novamente os turistas à bela e histórica cidade, que teve seu movimento de visitantes seriamente comprometido após a tragédia que acompanhou as chuvas daquele mês de março.
Estive lá, na ocasião, provando algumas das criações de chefs como Celso Freire, Manu Buffara, Marco Araújo (Baiano), Paulino da Costa, Ricardo Filizola e Dyogo Prado, Daniela Prosdócimo e Geraldine Miraglia (fiz o registro, confira aqui).


Mas a iniciativa de Marcus Andreolli também chegou como o fator a mais de revitalização para a cidade de Morretes, que ganhou carinho e afago da administração municipal nos últimos anos, a ponto de atrair turistas e visitantes em todos os seus cantos. Com a gastronomia, então, marcou sempre, especialmente no foco principal, o Barreado – o prato típico do litoral paranaense.
E então, se nas edições anteriores os cozinheiros partiam para os pratos, desta vez, por inspiração do chef Celso Freire, desde o início curador do evento, desceram a Serra do Mar para oferecer entradas. Cada visitante, cliente, ao chegar a um dos dez restaurantes participantes da ação, era avisado que teria uma entrada dessas de bonificação ao pedir o prato principal de Barreado ou de peixes e camarões, conforme o restaurante.
O resultado não poderia ter sido melhor, nos dois fins de semana de evento (e há ainda mais dois pela frente). Cada chef de fora brilha com sua inspiração e não interfere na raiz do restaurante e da gastronomia da cidade, que são seus pratos típicos e famosos. Mas comprometido em utilizar produtos típicos ou produzidos na região. E foi o que ocorreu.
Os chefs e suas criações

Para quem deseja apenas conhecer essas novidades que por lá aparecem, sem interesse em almoçar, há uma interessante opção: o Tour Morretes Chef, que promove uma experiência gastronômica pelo valor de R$ 75. Nela, o turista interessado adquire uma cartela contendo cinco vouchers, para escolher suas entradas preferidas entre os dez restaurantes participantes.
Dá para fazer um tour a pé, pois todos estão muito próximos, naquele centrinho do agito de Morretes – exceto o Hakuna Matata, situado na pousada do mesmo nome, em Porto de Cima, a 5 km dali. Mas a entrada criada pelo chef Ivan Lopes (Coin por Ivan Lopes) vale o percurso: Carne de onça temperada com cachaça e ceviche de banana-da-terra, com chips de mandioca e biju de farinha de mandioca do Litoral Paranaense.
Das que provei, a que mais me impressionou foi a Salada thai de camarão, com laranja e banana-da-terra, molho de capim-limão e melado, que está disponível no Villa Morretes, - que, apresenta, como atração, os pequenos macacos, nas árvore que envolvem a casa. O prato traz toda a fusão de ingredientes, que fazem da comida tailandesa uma das mais saborosas do mundo. A concepção é da chef Claudia Dotti, do Restaurante Rosa Thai, que fica na Saldanha Marinho e é mais voltado para eventos, mas, atendendo a apelos de clientes e fãs, começou a abrir também para o público, pelo menos em duas noites por mês.
Aliás, o maracujá (que tem uma grande produção na região) é também a estrela do prato concebido pelo chef Eduardo Richard (Lemí Gastrobar), um Vinagrete de camarão com maracujá sobre chips de mandioca.
Outra entrada que me agradou muito veio do chef Danilo Takigawa (ASU), uma variação de seu ASU Fish, que lançou no início deste ano, inspirado na onda do McFish (escrevi a respeito), servindo um pequeno sanduíche, que leva pão de leite feito na casa, peixe frito, ovas de peixe voador, alface americana e maionese. Em Morretes, para servir no restaurante Casa do Rio, o chef acrescentou ingredientes locais, como mandioca e banana-da-terra, e batizou a entrada de Asufish caiçara (pão de mandioca, peixe marinado empanado, maionese, tartar de banana da terra, alface americana e ovas de peixe voador). Irrepreensível.

Confira os demais pratos.
André Pionteke (Kitsune Nipo-Atlântica), criou o Fish n’ chips caiçara, preparado com peixe empanado frito, mandioca frita e servido com molho de açaí e maionese. A entrada esrá disponível no Restaurante Casarão.
Já o Ceviche de banana na tapioca suflada foi a entrada criada pela chef Claudia Krauspenhar (Restaurante K.sa), servido no Bistrô da Villa.
Já o chef Hermes Custódio (Gianttura Ristorante) preparou o Mantecato de pupunha in natura, com chips de banana e crocante de barreado do litoral paranaense, que pode ser conferido no Restaurante Terra Nossa.
Hakusai roll foi o prato escolhido por (Lucas Amaral Emy by Kazuo), um rolinho de acelga, recheado com blend suíno, cogumelos, cebolinha, pimenta dedo-de-moça, melado e cachaça de Morretes, servido com vinagre de banana-da-terra e molho cítrico. É a entrada do Restaurante Olimpo.
Já o chef Rafael Krieger (Antonina 336, que, apesar do nome, é de Curitiba), preparou, para o Restaurante Madalozo, Siri refogado, caldo de moqueca e farofa crocante, com farinha de mandioca do litoral paranaense.

Sem Barreado não dá
Percorrido o tour, fomos almoçar. A reserva era no restaurante Ponte Velha, um dos mais tradicionais de lá, inaugurado no início dos anos 90. Claro que a opção foi pelo prato oficial da casa, o Barreado, com todas as guarnições de direito e ainda acompanhado de frutos do mar (dois tipos de camarão e um filé de linguado como poucos).
O Barreado, então, perfeito. Caldoso, permitindo que o pirão fosse feito no próprio prato, como recomenda a tradição. É de voltar sempre.


Ah, sim, mas tinha ainda a entrada, que faz parte também do Morretes Chef, da lavra do chef Fredy Ferreira (A Caiçara, um restaurante curitibano de forte ligação com o litoral), mais uma brilhando o maracujá. Era um Tartar de banana-da-terra e manga, com um toque de caldo de barreado e coulis de maracujá, servido sobre pequenas rodelas de patacones de banana-da-terra.
O 4º Morretes Chef vai se estender por mais dois fins de semana, sempre aos sábados e domingos, para almoço. Além da boa comida, vale muito também pelo passeio e pelas atrações paralelas que existem. Quem visitar Morretes durante o evento vai também poder acompanhar a exposição fotográfica Nossa Origem, com imagens do fotógrafo Guto Souza e curadoria da Rafaella Trombini. A exposição ocupa o Instituto Mirtillo Trombini, até o dia 3 de novembro.
Outro destaque do Morretes Chef são os roteiros, sugestões de passeios para visitar produções locais de Indicação Geográfica, como a Bala de banana de Antonina ou a Cachaça de Morretes.
No último fim de semana, dias 2 e 3 de novembro, será realizada uma expedição para visitação de cultivos de ostras e também vivência de siri.
Mais informações no site do evento: www.morreteschef.com.br/expedições.
Instagram: @morreteschef
