Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Vinhos verdes que não são vinhos verdes
Ao contrário do que possa parecer, vinho verde não é feito da uva verde, mas sim da fruta madura. Bigstock
Demorei muito tempo para entender a razão do famoso vinho verde, produzido na região do Minho, norte de Portugal, ter esse nome. Dizia-se ser em virtude da região, verdejante; ou da cor das uvas, ou mesmo de elaboração com uvas verdes, não maduras. E uma série de outras versões. Feito com uvas verdes não é, pois com uvas verdes não se faz vinho. O vinho verde é feito com uvas maduras. Afinal, num belo dia um produtor explicou-me com simplicidade: chama-se “verde” porque não é maduro. Raciocínio bem português, mas que explica definitivamente. Ou seja, o vinho não “amadurece” na adega. Fica pronto a ser consumido logo após sair das cubas de fermentação, sem passar por estágio de amadurecimento nas adegas.
Por isso mesmo aquele leve e estimulante efervescente, a agulha como dizem os portugueses; frisante, para os italianos; péttillante em francês. Originalmente é o resíduo de gás carbônico, ainda nem todo dissipado, da fermentação; ou criado na garrafa pela continuidade da fermentação. Atualmente muitos produtores preferem adicionar o gás carbônico para maior efervescência, dentro dos limites autorizados pelas regiões demarcadas.
Olhando assim, percebemos que há muitos tipos de “vinhos verdes” no mundo e que não são o vinho verde do Minho. Mas afins por serem bebidas muito frescas, com as características do nenhum estágio antes do engarrafamento – ou por muito breve período.
Um muito famoso é o Beaujolais Nouveau, tinto que sai das cubas a seguir à fermentação e é consumido a seguir, já a partir de novembro . Nesse caso sem a agulha, ou discreta, e por vezes com alguma turbidez.
Num certo sentido os italianos Moscato d’Asti e alguns Lambrusco seriam também “vinhos verdes”. No primeiro caso a fermentação é ainda interrompida mais cedo, ficando doce o vinho pelo açúcar residual da uva que não fermentou e de grau alcoólico bem baixo, cerca de 5º. O Lambrusco pode ser frisante ou tranquilo, seco ou mais adocicado, e em muitos casos é deixado na garrafa para terminar a fermentação, dando mais frisante.
Em suma, são os vinhos frescos, engarrafados e próprios ao consumo logo a seguir à fermentação. Devem ser bebidos ainda bem jovens, quando todas as qualidades de grande frescor, caraterísticas primárias e juventude estão presentes. Sempre que bem elaborados e originados de bons produtores são bebidas extraordinárias, refrescantes, perfumadas, casuais e estimulantes. Guardar por mais tempo em adega não vale a pena. O ideal é aproveitá-los o mais jovem possivel. Se bem que muitos exemplares podem suportar bem até uns 5 anos de vida.
Sobretudo são vinhos que não devem doer no bolso na hora de comprar. Secos ou doces, efervescentes ou em alguns casos tranquilos, são vinhos muito joviais, casuais por excelência, acompanhantes universais de quase todo tipo de pratos e uma delícia de beber. Muito importante que o produtor seja de boa qualidade.