Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Vinhos naturais e afins
Fala-se muito acerca de alimentos naturais. Cada vez mais aparecem à venda produtos com essa rotulação. Por vezes, armadilhas para iludir incautos e empurrar mercadorias duvidosas a preços maiores. A falta de uma legislação clara e precisa a definir o que seja um produto “natural” contribui para a desinformação. No caso dos vinhos, dá-se o mesmo. As palavras natural, orgânico, biodinâmico e outras assemelhadas são cada vez mais empregadas. Mas ainda é grande o risco do consumidor comprar gato por lebre, como diz o adágio popular.
O que de fato vem por trás desses qualificativos é o ideal crescente das pessoas consumirem alimentos e bebidas com o mínimo de intervenções ou ajudas produtivas artificiais. Altamente saudável por todos os motivos. Seja nos sabores como nos efeitos benéficos para o corpo.
Nos vinhos, a cultura natural significa o retorno dos métodos agrícolas e produtivos do início da revolução industrial. Arados puxados a cavalo ou bois. Nada de produtos químicos e sintéticos na vinha e tampouco na adega para a produção. Evidentemente para produções em maior escala o método é praticamente impossível.
Convém estar atento aos nomes. Natural deve ser um vinho onde não se empregam produtos químicos e nem sintéticos desde o cultivo das parreiras até o final do processo de vinificação e engarrafamento. Os vinhos ditos orgânicos e biodinâmicos obedecem a esta regra apenas até a colheita das uvas. Nestes últimos, o cultivo das videiras é natural, mas na vinificação sofrem a adição de SO2, leveduras exógenas e outros processos intervencionistas, químicos ou não, em maior ou menos escala, mais ou menos conscienciosos, conforme o produtor. No caso dos naturais, produtos químicos, sintéticos e exógenos são banidos também da vinificação, estágio e engarrafamento. Não levam nem SO2 – apenas alguns, em doses mínimas, quase que irrelevantes, para poder viajar.
Os vinhos naturais não podem sofrer correção ácida e nem do grau, não podem receber leveduras estranhas, não podem receber químicos e sintéticos para ajudar nesse ou naquele tipo de “gosto”, e assim por diante. Os rendimentos dos vinhedos também devem ser baixos, outra qualidade dos grandes vinhos, mas imperiosa nos naturais. Ou seja, os genuínos vinhos naturais, para poderem existir, exigem grande atenção e cuidados primorosos por parte do vinicultor. Eis uma diferenciação: não nasce um vinho natural se não for muito bem elaborado, com uvas impecáveis e vinificação extremamente cuidadosa.
E no gosto? Não são nem melhores e nem piores do que os demais vinhos, considerados entres estes últimos apenas aqueles bem elaborados. São diferentes. Neles sobressai delicadeza, refinamento, sutileza, intensidade, equilíbrio e o frescor. Beleza natural, sem maquiagem. Em geral, os tintos possuem cor mais aberta e os brancos mais escura que seus congêneres não naturais. São vinhos para beber com grande prazer e que não pesam, textura sedosa, não cansam e não enjoam. São intensos, têm personalidade, mas não agridem, pelo contrário. Perfeitos com as comidas, são o oposto dos chamados fruit bombs, vinhos turbinados nas adegas, como atletas anabolizados, para impressionar os consumidores com seu peso e aparência superficial.