Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Touriga Nacional, a grande casta portuguesa
Uma das maiores uvas tintas do mundo para vinhos, a Touriga Nacional está para Portugal como a Cabernet Sauvignon está para a França. Ambas produzem tintos emblemáticos, de muita cor, intensos, concentrados, da maior qualidade e sofisticação. São largamente empregadas em cortes com outras castas, que o digam os grandes Bordeaux, Porto, Dão e Douro. Isoladamente também dão grandes rótulos. Seus vinhos possuem excelente estrutura, entre os melhores potenciais de guarda e envelhecimento do planeta. Estão disseminadas por todo mundo. Conferem uma energia e vigor diferenciados aos vinhos. São as uvas tintas mais emblemáticas de seus países de origem, além de darem um estilo parecido de vinhos.
O local de origem da Touriga ainda é controverso, mas tudo indica que seu berço ancestral esteja nos solos graníticos do planalto do Dão. Outra tese, que tem perdido terreno, aponta a vizinha região do Douro como de nascimento desta grande uva. Também nas demais regiões de Portugal, como Bairrada, Alentejo, Lisboa, frutifica lindamente.
A Touriga Nacional tem visto seu prestígio em rápida ascensão em todo planeta. Antes, já reconhecida universalmente há séculos por atribuir as melhores qualidades dos grandes vinhos do Porto e do Dão, em corte com as demais castas regionais. Agora, com a profusão de varietais de alta qualidade confirmando suas qualidades, e sua capacidade para florescer e dar grandes vinhos em todo mundo, sua visibilidade e fama são crescentes. Recentemente foi reconhecida oficialmente como a casta admitida na AOC Bordeaux.
Meu primeiro encontro com a Touriga ocorreu no Dão, cerca de 1992, na recém-inaugurada Quinta dos Carvalhais, da Sogrape. Manuel Vieira deu à prova uma amostra ainda em casco de um varietal 100% da casta. Absolutamente arrebatador, até hoje não me sai da memória pela concentração, força e equilíbrio. Outra amostra espetacular foi na Quinta do Vesúvio, no Douro. Vinho recém-elaborado, violeta escuro cintilante, quase negro. De tão espesso, como que gotejava ao invés de escorrer da cuba. Opulência, poder e finesse incríveis. Seria mais adiante utilizado no blend do grande Porto Vintage Quinta do Vesúvio.
Experiência inesquecível foi ainda participar num painel formado por consagrados especialistas de todos os continentes, em Portugal, para selecionar os 10 melhores vinhos varietais de Touriga Nacional. Dentre os provadores, nomes como Jancis Robinson, Neal Martin, José Salvador e Luis Lopes. Oportunidade única para absorver o gosto e estilo desses tintos formidáveis e compartilhar impressões com os maiores provadores do planeta.
E mais do que esses destaques, falam ainda mais alto as inumeráveis garrafas de Tourigas, em solo ou blend, seja como vinho de mesa ou Vinho do Porto, de que tenho desfrutado vida afora. Sem dúvida alguma dentre os melhores e mais qualificados tintos que se pode desejar.
O gosto
Num vinho jovem, sobressaem aromas e sabores intensos a frutos negros e azuis, floral a violetas, malvas e gerânios, com notas de cítrico a bergamota e de minerais. Taninos presentes, redondos quando bem vinificado, mais pontiagudos se menos cuidado. Vinho potentes. Mais cremoso e cheio nas regiões mais quentes, mais profundo e mais refinado nas mais frescas. Com o tempo, a voluptuosidade da juventude vai se refinando. O mesmo ocorre nos blends, em que as demais castas ajudam a domar a pujança da Touriga na juventude.
Alguns dos mais consagrados rótulos
- Do Douro: Quinta do Vallado, Quinta do Crasto, Churchill, Quinta do Noval.
- Do Dão: Munda (o 2008 é uma ode à Touriga), Álvaro de Castro – Quinta da Pellada Carrocel, Falorca, Quinta dos Roques, Quinta dos Carvalhais, Quinta de Lemos.
- De Lisboa: Quinta da Chocapalha CH.