Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Sauvignon Blanc: a rainha do verão
Em plena estação do sol, queremos vinhos estimulantes e ao mesmo tempo refrescantes e sem muito peso, embora com intensidade de aromas e sabores. Poucos se adaptam tão bem como os brancos secos elaborados com a casta Sauvignon Blanc.
Quando bem elaborados, esses vinhos têm uma invejável acidez, que agrega frescor ao invés de dureza, além de profundidade. Seus multifacetados aromas, como que dançam aos sentidos com leveza e vivacidade. Lembram vegetais frescos, ervas, aspargos e, sobretudo, ostentam uma mineralidade única. É famosa a comparação de certas nuances (no caso elogiosa!) com o inusitado xixi de gato. Em muitos exemplares, chegam a lembrar faísca de pedra de isqueiro ou pólvora e fumé. São aromáticos, crocantes, muitas vezes com tonalidades tropicais, como maracujá, algo a cítricos, na linha do grapefruit, ou groselhas. Sobretudo, todo esse caleidoscópio sensorial, ora com esta ou aquela faceta mais acentuada, vem bem harmonizado dentro da energia do vinho.
Mas para chegar a esse ponto inspirador, a Sauvignon não pode ser deixada a amadurecer demais. Nem cultivada em climas muito quentes. Em geral, prefere ser colhida mais precocemente; e mais ainda se plantada em climas menos frescos. Do contrário, produz vinhos apagados, chatos e sem vida.
Pesquisas recentes, principalmente as do saudoso Prof. Dubordieu, apontam para os thiols, substâncias formadas após a fermentação alcoólica, como principais responsáveis por essa gama única de aromas e sabores dos vinhos de Sauvignon Blanc.
A uva é muito antiga e seu berço renhidamente disputado pelas regiões de Bordeaux e do Loire, com menção escrita desde o século 18. Exames de DNA favorecem a origem do Loire, segundo nos relata Jancis Robinson em seu clássico livro “Wine Grapes”. Também é famosa por ter originado a tinta Cabernet Sauvignon, ao cruzar com a Cabernet Franc.
Em Bordeaux, é também muito utilizada em cortes com a Semillon, dando os famosos Bordeaux brancos secos, além dos magníficos brancos doces Sauternes e Barsac. No Loire, em solo, dá os grandes Sancerre e Pouilly Fumé.
Vinhos produzidos e difundidos nos quatro cantos do mundo, bem elaborados, são muito atraentes e estimulantes, ideais com o sol e o calor do verão.
Dicas de consumo
Origens mais famosas
- França: principal origem, com destaque para o Vale do Loire e Bordeaux.
- Nova Zelândia: Sauvignon Blanc é quase sinônimo de vinho neozelandês. Extremamente bem sucedidos no clima fresco, especialmente Marlborough.
- Chile: emblemática, com os melhores de regiões frescas, como Casablanca e San Antonio (Leyda e outros).
- Outras: há de praticamente todos os países vinhateiros do mundo. No Brasil, há brancos refrescantes quando bem elaborados. Da Argentina não têm tanta fama. Em geral, melhores de regiões mais frescas. África do Sul também é notória.
Gama de preços
- Há belos vinhos com preços acessíveis até os caríssimos ícones como o raro Pavillon Blanc du Château Margaux e grandiosos Sancerre e Pouilly Fumé dos maiores produtores da região, como Dagueneau. O cuidado é com maus produtores, que fazem vinhos insípidos ou excessiva e artificialmente aromáticos.
Na gastronomia
- Aposta certa com peixes e moluscos, o Nirvana. Com crustáceos, Sauvignons Blanc mais encorpados, como o Sancerre e Bordeaux mais categorizados. Embutidos, saladas, petiscos, defumados, frituras, carpaccio, legumes e comidas mais casuais são um paraíso com esses vinhos. Também com carnes brancas. Perfeitos com comida asiática.
Serviço
- Copos padrão de vinho branco, até um pouco menos volumosos do que os para Chardonnay. Temperatura entre 7ºC e 10ºC, para os mais complexos.