Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Quanto mais velho o vinho, melhor? Guilherme Rodrigues esclarece
Nada como a imagem do gênio dentro da garrafa para simbolizar a surpresa de abrir um vinho com idade e ainda sadio. Tal como no conto de fadas, o vinho bem maduro seduz imediatamente, com nuances e texturas especiais. Um encanto que somente a magia do tempo consegue criar. Muito diferente das sensações com os vinhos novos, por mais brilhantes que sejam.
Vale a pena garimpar garrafas de mais idade no mercado – difícil de achar, mas não impossível – ou ter paciência e esquecer rótulos de vinhos de guarda na adega por muitos anos para desfrutá-los no apogeu da maturidade ou mesmo um pouco a seguir. O vinho fica mais refinado, mais acariciante aos sentidos, complexo, mais doce – no bom sentido – mais macio.
Não que um vinho novo não seja muito agradável, com toda pujança da juventude. Aliás, todo amante dos vinhos deve olhar pelas janelas em que a bebida nos sorri com mais alegria. Em geral, entre a juventude e maturidade o vinho passa por um estágio de menos fulgor, em que fica meio mudo e esconde suas melhores qualidades. Diz-se que o vinho “fecha, como que recolhido dentro de um casulo, feito uma janela fechada, para desabrochar lindamente na maturidade. Ainda jovem e sobretudo quando bem maduro, são fases de janelas bem abertas.
Atualmente, os vinhos são feitos para saírem da garrafa mais prontos a dar prazer imediato às pessoas. Antes, até cerca dos anos de 1980, nasciam mais adstringentes e precisavam de tempo para arredondar. A tecnologia atual, muito positiva, pode ser manipulada de modo a comprometer a condição de envelhecimento e maturação da bebida. Isso quando não massifica o produto, forçando artificialmente um padrão universal de vinho frutado, mas sem encanto, para vender fácil e a granel: os chamados vinhos “coca-cola”. É preciso cuidado para não perder tempo guardando essas garrafas, pois não terão genio algum dentro delas, nem alma ou espírito, e tampouco conseguirão envelhecer com beleza.
Os amantes de vinhos de guarda aos poucos tornam-se mais numerosos. Faz parte da evolução do paladar de todos que enveredam pelos caminhos de Baco. Depois de provar um grande vinho de mais idade em boa forma, fica uma vontade irresistível de querer mais. Temos até uma confraria já bem formada e em grande atividade, a “Confraria dos Vinhos de Guarda”, espelhada no ideal de Bernard Hudelot, da Borgonha. Recentemente, em Curitiba, realizou um Capítulo para entronizar novos membros, nos salões do Hotel Bourbon. Entre algumas jóias de grande idade, provou-se um lendário Cabernet Franc de Caxias do Sul ,da safra de 1955, e um majestoso Vinho do Porto do final do século XIX.
Dicas de Consumo
Curva de maturação
- Todo vinho passa por três períodos distintos durante a vida: juventude, maturidade e senilidade.
- A curva é diferente para cada tipo e qualidade de vinho. Pode ir desde no máximo 5 anos até 100 ou mais anos.
Idade de envelhecimento de um vinho de guarda
- Um vinho de guarda deve ter aptidão para viver bem, pelo menos, 10 ou 15 anos. E nesse período exibir as diversas nuances das fases de sua vida.
Janelas para beber melhor
- Períodos em que o vinho não fica “fechado”, não esconde suas nuances, antes as exibe com energia. Em geral, o vinho “fecha” num período entre a juventude e a maturidade.
- O vinho exibe seu melhor durante a maturidade. Por exemplo. Um Beaujolais comum dá prazer e pouco muda nos primeiros 3 a 5 anos. Depois disso, morre, vinho de janela única e curta. Um grande Bordeaux tinto ou Porto Vintage tem uma pujança admirável de juventude nos primeiros 5 a 10 anos. Depois, fecha e só vai abrir após 25 anos. Mantem-se em grande forma daí em diante podendo chegar a 100 anos e mais ainda. Vinhos de múltiplas e longas janelas.