Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Primavera com Beaujolais
Quero confessar aos leitores o vinho que mais prazer me trouxe nesse último ano: o Beaujolais. Bebi muitas coisas maravilhosas e inesquecíveis, grandes Borgonha brancos e tintos, Bordeaux, Champagne, Porto e todos os demais habituais suspeitos. Contudo, foram os vinhos crus de Beaujolais os campeões, seja no dia a dia ou em momentos especiais.
Comecei ao abrir uma garrafa do Morgon do Lapierre, safra 2005. Fez recordar do saudoso Marcel Lapierre, com quem tive o prazer de provar vinhos aqui em Curitiba e em São Paulo.
O vinhedo Morgon fica na parte nobre da região, ao Norte dela, com solos graníticos e relevo de colinas ondulantes junto aos demais vinhedos nobres, os chamados 10 crus do Beaujolais. O melhor lugar do mundo para a uva Gamay, cultivada por ali faz quase mil anos (ou mais). Ao Sul, mais perto da cidade de Lyon, o local chamado Pierres Dorées dá origem aos Beaujolais mais comuns.
Lapierre, produtor pioneiro do método natural, é fantástico. Aberta a garrafa, o Morgon 2005 saiu cantando. Sempre fabuloso, desde a origem, com quase 25 anos vem bebendo lindamente. Quem diz que Beaujolais não envelhece bem? No caso dos melhores vinhos dessa região, essa máxima é pura superstição que não se confirma.
Daí resolvi passar a outros crus do Beaujolais de safras mais recentes, disponíveis no mercado. O Beaujolais viralizou, ao menos no meu caso.
Foi uma sensação e um luxo, um grande prazer nos últimos meses e que pretendo manter adiante, saborear diversos rótulos muito bem-sucedidos. Cada qual com seus encantos e nuances distintas, típicas de cada vinhedo (cru) de origem.
São uma festa de fruta madura, copiosa, complexa, estimulante, opulenta, com intensidade, mas sem peso, de jovialidade única. Sobretudo, exibem um brilhante frescor, especial desses vinhos, de levantar o astral.
Lembram os dias de sol da primavera. Possuem uma sapidez instigante, de beber aos goles.
De quebra, combinam lindamente com todos os pratos. Desde um sofisticado faisão até um suculento hambúrguer. Os franceses os bebem aos cântaros nos mais diversos bistrôs, brasseries, restaurantes e mesmo ao ar livre.
Muitos leitores diriam que Beaujolais é um vinho vulgar, em muitos casos de má qualidade…. Tem toda razão se pensarmos na quantidade de rótulos comerciais feitos sem maiores cuidados e escrúpulos.
Agora, bem escolhido, de bons produtores e, sobretudo na faixa dos vinhos especiais, chamados “crus”, é um luxo. Há uma enorme quantidade deles com notas de 90 até 97 pontos na crítica internacional. E custará bem menos do que um vinho de qualidade equivalente de outra região famosa.
Dicas dos Beaujolais
QUALIDADE:
- A qualidade máxima está dentre os 10 “crus”, cada qual com nuances muito peculiares e distintas entre si. Seus nomes são: St-Amour, Juliénas, Chénas, Moulin-à-Vent, Fleurie, Chiroubles, Morgon, Régnie, Brouilly e Côtes de Brouilly.
- Alguns dos grandes produtores dos “crus”: Lapierre, Jean-Paul Brun, Louis Jadot - Château des Jacques, Château Thivin, Jean Marc Burgau; Joseph Drouhin, Jules Desjourneys, Clos de la Roillete.
- A seguir aos crus, em qualidade (e preço) decrescente, vem o Beaujolais Villages, o Beaujolais e o Beaujolais Nouveau.
ENVELHECIMENTO:
- Um bom cru de boa safra pode envelhecer muito bem por dez anos. Um Beaujolais Villages dá o seu melhor em dois anos, podendo resistir por mais algum tempo. O Beaujolais comum e o Nouveau tem seu ponto ótimo no primeiro ano após a colheita.
SERVIÇO
- Em copos de bom volume e a temperatura mais fresca. Os tintos entre 12°C e 17°C. Menos para os mais simples e leves, mais para os mais encorpados.
ELABORAÇÃO
- Vinificação por maceração carbônica, método peculiar do Beaujolais. Uva Gamay. Não se emprega madeira nova nem estágio prolongado.
SAFRAS RECENTES
- Todas muito boas: 2018, vinhos perfumados, boa fruta e mais acidez; 2019, excelente fruta, definição, frescor e acidez vivaz bem integrada, talvez a melhor delas; 2020, mais madura, musculosa, rica, opulenta.