Guilherme Rodrigues
Notas Báquicas
Os melhores vinhos do ano
Logo no início, uma prova cabal de que um Sancerre de categoria é um dos brancos mais atraentes do mundo. Perfeito com postas de uma gigantesca cavala real de 34 kg, que pesquei na ilha do Itacolomis, alto-mar. O peixe foi preparado pelo chef Claudinei Oliveira, no Bar do Victor. Ideal em moqueca capixaba.
Dentre vários grandes brancos que escoltaram a iguaria, o Sancerre Monts Damnées, do Dagueneau, triunfou.
Com alguns amigos do Rio de Janeiro e de Dubai atualizei diversas mesas em Portugal. Sensacional o novo restaurante na sede da casa de Vinhos do Porto Graham’s, o Vinun. Fica em Vila Nova de Gaia, com vista soberba sobre o Douro e a cidade do Porto. Chuletones assados, pescados maravilhosos, comida bem focada e nada pesada, um queijo Stilton soberbo ao final, com um inigualável Porto Dow’s 20 anos.
No Portuscale, do alto de um prédio, com vista para a cidade, comida lusitana clássica perfeita. Uma posta maravilhosa de boi mirandês, com um suntuoso Mouton Rothshild 1982. Antes, um Champagne Cristal 2004, vivíssimo e cristalino.
Em Lisboa, fregueses de caderno, batemos no Belcanto, agora com o talentoso chef Avillez. Havia recebido uma estrela do Michelin. O tradicional Ovos à Professor de entrada, refinado pelo chef, sem perder a personalidade, triunfal. Diversos mimos em pequenas porções, e um pombo magnífico, sangrento, com um Colares Visconde de Salreu 2003. Um dos amigos à mesa, habituée dos melhores vinhos do Domaine de la Romanée Conti, exclamou, com razão, que o Colares de 35 euros parecia um grande La Tâche.
Saímos de lá apregoando que merecia duas estrelas. O Guide Michelin nos ouviu e entregou a merecida segunda estrela ao Belcanto em novembro passado. Aqui em Curitiba uma prova memorável de Bordeaux 1959: Latour, Mouton, Lafite, Haut Brion. O Haut Brion estava passado, uma pena, pois é dos melhores 59. Em compensação os demais, gloriosos, impossível escolher. Conforme o momento, ora um, ora outro entusiasmava mais. Vinhos perfeitos, no apogeu da maturidade, uma experiência sensorial inesquecível.
De quebra, um Mouton 45, ano da Vitória, mostrou porque é um dos maiores ícones do universo de Baco de todos os tempos. Indescritível. Agora, uma surpresa. No começo dos trabalhos um branco, dito de sobremesa, do vale do Loire: Dom. Baumard Quarts de Chaume 1990. O vinho cantava. Sensacional, vivíssimo, ultra sofisticado. Por fim, um vinho exótico, da Criméia, ano 1937, licoroso branco, uma espécie de Moscatel de Setúbal de boa qualidade. Muito interessante, vivo, na moda por causa dos conflitos da Rússia com a Ucrânia pela região.
Para fechar o ano e o artigo, comemoração do aniversário de minha mãe em dezembro. Abri uma garrafa do ano do nascimento dela, que vinha guardando com cuidado: Château Climens 1929. Climens é o principal rival do Yquem, em alguns poucos anos superior ao mito. Segundo o Parker ele mesmo, este 1929 é “um dos maiores Sauternes (Barsac) do século”, nota 100. Concordo plenamente. Cor escura, castanho rubra. Acidez fina e refrescante, muito vivo, intenso, sofisticado, notas a rosas, abricots, café verde, pêssegos, figos secos, profundo, fumé, mel, um toque delicado a rapadura, muito equilibrado, botrytis, final interminável, damasco, equilíbrio inigualável.
Graças a Deus minha mãe está também em grande forma, competição séria com o Climens … Guardei a garrafa. Aos leitores, desejo um grande ano de 2015, com muitos e excelentes vinhos.