Guilherme Rodrigues

Notas Báquicas

O vinho brasileiro melhorou?

20/07/2025 16:16
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Do passado aos dias atuais, o vinho brasileiro mostra avanços em qualidade, técnicas e reconhecimento internacional.

Ninguém saberá melhor responder à pergunta do que o leitor. O que vale aqui é a sensação de quem bebe e desfruta do vinho. A satisfação de cada qual, maior ou menor, com a bebida.
Pelo que vejo, a percepção geral é de melhoria do vinho brasileiro. Especialmente para aqueles que têm uma vivência de consumo de 30 anos ou mais e puderam testemunhar a evolução numa janela mais ampla do tempo. Particularmente, dentro desse grupo, provando vinhos de todos os tipos e origens desde a década de 1980, não tenho dúvida do crescimento do vinho nacional. 
Há grandes exemplares do passado distante, anos 90 para trás, nos tintos, que, bem guardados, surpreendem muito bem. Em sua raridade testemunham outra época, mas sobretudo um potencial de qualidade, como visto em algumas safras do Velho do Museu, especialmente dos anos 1970, garrafas garimpadas de ícones da Adega Medieval, Aurora, Don Laurindo e tantos outros rótulos capazes de provar que o vinho tinto brasileiro, de safra qualificada, uvas selecionadas das melhores e bem elaborados, resiste ao desafio do tempo e podem atingir um fator de qualidade superior.
Voltando ao presente, vemos o sucesso com os espumantes, sem dúvida a evolução mais emblemática dos últimos 20 anos no Brasil. Conseguem competir com similares de outros países. Superiores indiscutivelmente aos da Argentina ou do Chile, tão satisfatórios como muitos espumantes europeus de prestígio - Champagne à parte evidentemente. No melhor, provenientes da Denominação de Origem Altos de Pinto Bandeira, onde a Chardonnay e a Pinot Noir dominam. Admitida em corte a Riesling Itálico, desde que máximo com 25% do lote. Somente aplicável o Método Tradicional, de segunda fermentação em garrafa, entre mais exigências qualitativas.
Outro dado auspicioso é o crescente número de produtores artesanais de sucesso. Muitos deles trabalhando com os difíceis métodos orgânico, biodinâmico e até natural. Para lembrar dois exemplos consagrados: o Atelier Tormenta, do Marco Danielli; e o icônico Pinot Noir Serena, do incansável e talentoso Maurício Ribeiro. Aliás, nesse nicho, cada vez mais tintos de Pinot Noir são bem atraentes.
Também a qualidade média nos vinhos brasileiros subiu, face às melhores técnicas de vinificação e de cultivo dos parreirais. Na gama superior, o alto preço pago por muitos rótulos, em outras épocas impensável, é outro sinal de diferenciação.
A criação de denominações de origem e indicações geográficas certificadas, a partir de 2002, atesta outro fator de qualidade progressiva. Realizada com apoio da Embrapa, segue padrão internacional, com regras e exigências específicas. Atualmente são 13. Duas  Denominações de Origem, ambas na Serra Gaúcha: Vale dos Vinhedos e Altos de Pinto Bandeira (esta última para espumantes).
Mais 11 Indicações Geográficas: Altos Montes, Campanha Gaúcha, Farroupilha, Monte Belo, Pinto Bandeira, Vale dos Vinhedos, todas no Rio Grande do Sul; Vale do São Francisco (PE e BA); Vinhos de Altitude  e Vales da Uva Goethe (SC); Vinhos de Bituruna (PR);  Sul de Minas – Vinhos de Inverno (altitude e poda invertida) (MG). 
Em suma, outros tantos fatores de progresso poderiam ser relacionados, mas estes já demonstram o claro avanço do vinho brasileiro nos últimos tempos. Claro que são diferentes dos vinhos de outras regiões mundo afora. Como todos eles são diferentes entre si. Cada região e seus vinhos.  Felizmente a diversidade é uma dádiva no mundo de Baco. Solos, altitude, latitude, umidade, são muitos dos fatores que desafiam os produtores e moldam, quer se queira ou não, o caráter do vinho de cada terroir.